quarta-feira, 21 de abril de 2010

NEGÓCIOS VERDES



"A Índia foi minha escola de vida. Lá eu encontrei a solução para minhas aflições através da ioga e da sabedoria dos gurus", Clélia, empresária


Surya: empresa de cosméticos orgânicos de Clélia Angelon


Há 15 anos, quando os conceitos de sustentabilidade mal engatinhavam, Clélia Angelon decidiu apostar tudo o que tinha na criação da empresa de cosméticos orgânicos Surya. Hoje, o negócio é exemplo de empresa verde no Brasil


Daniela Venerando

Imagine uma mulher divorciada do segundo marido, sem dinheiro no bolso, com um trabalho pouco rentável e dois filhos para criar. E que, para completar, tinha acabado de perder a avó querida. De duas uma, ou ela entregava os pontos e culpava a vida por suas mazelas ou dava a volta por cima e se reinventava. Felizmente, esse foi o caso de Clélia, que não deixou a peteca cair. “Fui ao fundo do poço, mas não tomei remédios para mascarar a dor”, relata. “Acredito que na depressão é preciso sentir e observar os sentimentos. Depois de olhar para dentro de mim, voltei com força total”, conta Clélia. 

E como. Vendeu um terreno, comprou uma passagem para a Índia e lá foi ela levando a tiracolo um amigo de longa data e profundo conhecedor do país de Gandhi, o indiano Kanwal Jit Singh. Obstinada pela ideia de se reerguer, ela queria, num golpe arriscado, trazer na bagagem nada menos do que 50 mil saias para comercializar no Brasil, antes do Natal. Ele, prudente, sugeriu apenas mil. 

Depois de muitas discussões, fecharam em 10 mil. Voltaram de avião com a mercadoria no bagageiro, enquanto seus concorrentes tinham viajado muito antes e despachado o produto por navio. Por conspiração do Universo, como acredita a própria empresária, a mercadoria não chegou a tempo nos portos. Resultado: ela vendeu todas as saias, inclusive para os concorrentes, em apenas três dias. O sócio, até então pessimista, voltou e comprou mais. E eles continuaram lucrando. “Foi a coisa certa na hora certa. Por isso, eu acredito no Universo e no pensamento positivo. Você pede e ele dá. Naquele ano, o Universo conspirou a meu favor”, acredita ela. 

Depois desse golpe de sorte e com dinheiro na mão, Clélia refletiu sobre seu futuro. Foi então que o tal amigo indiano lhe deu um conselho valioso, decisivo em sua vida: “Segue sua essência. Vá de encontro aos seus valores e tudo vai dar certo”. E ela foi. Defensora dos animais, vegetariana desde os 18 anos e vaidosa na medida certa, decidiu investir em uma marca de cosméticos orgânicos, em 1995. Um passo e tanto numa época em que os conceitos de sustentabilidade e cuidado com o meio ambiente mal começavam a engatinhar. 

EMPRESA VERDE 
E assim nasceu a Surya, que significa Sol. Símbolo de força, esse nome é dado a muitas empresas na Índia. Para eles, o nome está fadado ao sucesso. Para Clélia, caiu como uma luva. Mesmo sem um diploma universitário na parede, aprendeu todas as artimanhas do mundo dos negócios com seu primeiro marido indiano, Raj Kumar Malhotra, comerciante de mão-cheia. Quinze anos depois, o que nasceu de um desejo de mudança transformou-se num exemplo de empresa verde dentro do país. Seu faturamento anual gira em torno de 15 milhões por ano e seus produtos – xampus, condicionadores, máscaras faciais, sabonetes e henas, entre outros – são exportados para mais de 23 países. 

No ano passado, a Surya ampliou seu portfólio e entrou no setor alimentício com o lançamento do cacau em pó orgânico, com zero de açúcar. Todos os produtos da companhia fazem parte do time dos ecologicamente corretos e têm o selo de empresas certificadoras respeitadíssimas, como a Ecocert e a Cosmébio. 

Quando embarcou para a Índia, Clélia jamais imaginou a revolução que iria acontecer em sua vida. Desde então, ela já viajou para o país de Gandhi 38 vezes e a cada vez se surpreende mais. “A Índia foi minha escola de vida: sentimental, de negócios e pessoal”, conta. “Lá eu encontrei a solução para minhas aflições através dos gurus, da meditação e da ioga”, diz. Ela acabou por adotar um estilo de vida que a transformou em outra pessoa. Nesses anos todos, aprendeu a meditar ativamente e a se observar até nos momentos mais críticos. “Aos poucos, os sentimentos foram sendo elaborados e fui me tornando uma pessoa menos ansiosa, egocêntrica e impulsiva”, conta. “Ainda hoje, continuo me orientando pelos valores e crenças que sempre guiaram a minha vida.”


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