quinta-feira, 31 de março de 2011

Suape mostra por que é a bola da vez



O que acontece por lá que está chamando a atenção de investidores? O que o Ceará pode aprender com isso?

Recife/Cabo de Santo Agostinho/Ipojuca (PE)
Primeiro, veio a refinaria, o grande trunfo de um estado que vivia uma fase de congelamento da matriz de sua economia. E este foi apenas o pontapé inicial: daí a pouco surgiria um enorme estaleiro, uma petroquímica, uma siderúrgica, uma montadora de veículos e mais e mais empreendimentos, configurando uma verdadeira revolução. Pernambuco, assim, foi se tornando verbete recorrente em noticiários econômicos ao redor do Brasil ao garantir, rapidamente, um grande aporte de novos investimentos, em uma proporção inédita em sua história. As boas notícias comprovam: as terras pernambucanas são, de fato, a bola da vez. Mas o que vem acontecendo por lá que está chamando a atenção de tantos investidores das diversas partes do mundo? E o que é que o Ceará pode aprender com isso?A resposta para a pergunta pode ser um conjunto de fatores, mas é inegável a afirmação de que este ´boom´ não estaria em curso não fosse uma área chamada Suape. Com 14 mil hectares de extensão, Suape, que leva o nome de uma praia na região, é um complexo industrial e portuário, algo semelhante ao que se tem no Complexo Industrial e Portuário do Pecém, com 13,3 mil hectares entre os municípios de Caucaia e São Gonçalo do Amarante. Afora as semelhanças, a grande diferença na escala evolutiva. Enquanto o complexo cearense conta hoje com oito empresas operando (e mais seis em instalação), o pernambucano já supera o número de 100, isso entre as que estão em operação. São cerca de 30 empresas em construção ou a iniciar e mais 20 empresas em negociação. O Diário do Nordeste foi até lá para conferir este novo momento da economia de Pernambuco.

Caminho para o futuro

A importância de Suape para os pernambucanos é tanta que a estrada que liga Recife, a capital, às cidades metropolitanas de Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca, nas quais se localiza, é tida hoje como caminho para o futuro do Estado. São 54 quilômetros de distância.

Movimento pulsante

Percorrendo a PE-060, principal acesso ao complexo, a vista acompanha um movimento pulsante, frenético, de negócios. Seguindo o vai-e-vem de caminhões carregando as mais diversas cargas, vê-se novas áreas sendo terraplenadas para receberem mais empreendimentos, grandes indústrias em funcionamento e comércios que vão crescendo, expandindo-se na trilha do desenvolvimento irrefreável da região pernambucana.

Investidores diretos

"O mundo inteiro ouviu falar de Suape, então a gente tá recebendo uma quantidade imensa de investidores das mais diversas áreas querendo conhecê-lo. E estamos falando desde investidores diretos, como uma grande empresa, como indiretos, como um fundo de investimento", afirma o vice-presidente do complexo, Fred Amâncio. É quando se fala em Suape que os pernambucanos inflam ainda mais as suas já conhecidas autoestima e mania de grandiosidade. "O nosso projeto é ser o melhor complexo industrial e portuário do Brasil, principalmente pela integração de porto e indústria que está havendo aqui. Acredito que em 2013 já conseguiremos - já somos o melhor porto público do País", projeta Amâncio, sem muita modéstia, como um bom pernambucano. "A gente não quer ser Camaçari [na Bahia, o maior polo industrial do hemisfério], não quer ser Santos [em São Paulo, onde fica o maior porto do Brasil]. A gente quer ser muito melhor do que eles". E, assim, com todas essas pretensões, Suape vem levando o estado de Pernambuco a novos rumos, tornando-o, atualmente, um dos estados mais competitivos na atração de investimentos do País.

DESDE 1978

Trabalho de mais de três décadas

Cabo de Santo Agostinho (PE) O atual momento promissor de Suape não veio de uma hora para outra. Para efeitos de comparação com o complexo cearense, é necessário lembrar que o pernambucano tem bem mais tempo de estrada. Enquanto o Porto do Pecém vai se aproximando dos seus 10 anos de existência (foi oficialmente inaugurado em 2002), o de Suape já está em operação desde 1978. Ao longo desses anos, foi se firmando, estruturando-se e, somente há cerca de quatro anos, Suape foi ganhando as proporções de importância que hoje pode exibir. "Antigamente, os investimentos eram concentrados na Bahia, e ficavam todos os outros estados do Nordeste só falando dos investimentos da Bahia. Agora, a bola da vez está sendo Pernambuco, é inegável. O Estado está captando uma quantidade grande de negócios, por várias razões, entre elas, a infraestrutura do Porto de Suape, que tem sido a locomotiva do Estado de Pernambuco. O porto já vem sendo preparado há muito tempo, e já tá com infraestrutura capaz de ser o diferencial em relação a outros portos do Brasil", analisa o diretor da Suape Global - uma diretoria de planejamento de atração de investimentos do complexo -, Sílvio Leimig. Segundo o diretor, os cearenses devem "tomar partido" do que está ocorrendo em terras pernambucanas para poder orientar com mais segurança os projetos locais. "O Ceará deve pegar a experiência que Pernambuco tá tendo para otimizar e maximizar as suas oportunidades. Você não inventa a roda, ela está inventada. É ver porque Pernambuco está atraindo tanta coisa e partir pra destravar alguns processos e conseguir outros investimentos", sugere. O diretor já foi, inclusive, convidado pelo governo cearense para apresentar, aqui, o que está sendo feito em Suape. Este ato de "espelhar-se" torna-se ainda mais natural uma vez que o Porto de Pecém, na época de sua concepção, recebeu o projeto de Suape para servir de referência à sua instalação, segundo informa Leimig. "A diferença do desenvolvimento agora de Pernambuco para o Ceará é só uma questão de tempo, porque o Porto de Suape já está mais preparado, e o de Pecém está sendo preparado. Então, consequentemente, com os investimentos que estão sendo feitos lá no Pecém, as chances de atração de novas empresas vai aumentar consideravelmente", aposta. É importante um desenvolvimento integrado, que o Pecém não seja pensado só na questão de atração de investimentos, mas tem que pensar em toda a parte social, ambiental, desenvolvimento portuário, exige uma visão geral através de um plano direto para q o desenvolvimento seja consistente.

fonte: Diário do Nordeste
Repórter: Sérgio de Sousa


Marcadores: Economia, Pernambuco,complexo industrial.

Tripé de medidas impulsionou o Estado

Recife Ser o centro das atenções da região que, hoje, é a que mais cresce no Brasil coloca Pernambuco numa posição bastante confortável. O Complexo Industrial e Portuário de Suape é tido como locomotiva desse desempenho, é certo. Mas outros fatores também contribuíram para que o Estado esteja com sua competitividade tão elevada. De acordo com o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Geraldo Júlio, que também é o presidente do Complexo de Suape, a posição atual de Pernambuco é alavancada por um tripé.

Política para o Nordeste

O primeiro deles, afirma, são as políticas nacionais que favoreceram o Nordeste - e, nesse ponto, ele destaca a atuação do ex-presidente Lula, que é pernambucano, como uma espécie de "divisor de águas". "Lula criou uma política de salário mínimo diferencial, e salário mínimo se paga no Nordeste, que é a região mais pobre do País. Ele potencializou o INSS e o Bolsa Família, e onde é que se paga o Bolsa no País? No Nordeste!", cita.

Incentivos

Além destas ações, a decisão de incentivar implantação de refinarias na região e de incluir a nacionalização na compra de navios também tiveram repercussão forte na economia da região. "Resumindo, quando ele fez isso, ele dinamizou o mercado do Nordeste, e o Nordeste passou a ser um mercado consumidor importante. Nas palavras do governador Eduardo Campos, o Nordeste deixou de ser parte do problema do País para começar a ser parte da solução", diz Júlio.

Portanto, chegou a vez do Nordeste. E para que Pernambuco estivesse à frente dessa nova realidade, Júlio afirma que os empreendimentos que vieram se instalando no Estado, que são chamados por eles de "estruturadores" (aqui chamam-se "estruturantes") fizeram a diferença.

"O que aconteceu em Pernambuco nos últimos quatro anos, do ponto de vista de impacto dessas medidas? Pernambuco recebeu uma refinaria que já tem R$ 8 bilhões em obras. Recebeu um estaleiro, que já está implantado, já lançou um navio na água e está com outros dois dentro do dique, um navio e uma plataforma. Pernambuco recebeu a petroquímica e conseguiu viabilizar o início das obras da ferrovia Transnordestina com muita força. Quem recebe refinaria, estaleiro e encomenda de mais de 30 navios, petroquímica do tamanho que a gente tem aqui e uma obra do tamanho da ferrovia e da transposição do Rio São Francisco, naturalmente, o mercado abre os olhos pra uma situação dessa. Vira um polo nacional", afirma.

Estratégia do governo

A terceira perna do tripé, defende, teria sido a mudança na estratégia e atuação do governo estadual. As medidas de incentivos a novos empreendimentos, afirma, também tiveram sua parcela de colaboração, apesar dos estados nordestinos já oferecerem benefícios semelhantes. A política de não aumentar alíquotas de impostos, aponta, também teve forte peso.

SIDERÚRGICA E MONTADORA
Empreendimentos formarão novo polo

Dois dos principais empreendimentos que vem sendo buscados com afinco pelo governo do Ceará foram, recentemente, garantidos pelos vizinhos pernambucanos e, juntos, irão criar um novo polo em Suape. Em dezembro último, Pernambuco anunciou que terá uma siderúrgica de laminados e uma montadora da italiana Fiat.

A usina de laminados faz a parte posterior à que a Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP), por exemplo, fará. Enquanto que a CSP produzirá as placas de aço, através do processamento do minério de ferro, a CSS faz o processo de corte destas placas. Ela será a primeira destinada a laminados planos do Nordeste, e terá um investimento de R$ 1,5 bilhão.

"A CSS é um outro investimento estruturador importante. A nossa siderúrgica tem um perfil muito interessante, que é mais a laminação, vamos produzir para ser matéria-prima, por exemplo, para indústria automobilística, a linha branca. E pode, no futuro, trabalhar outras cadeias a partir do fornecimento desses itens. Já temos a siderúrgica da Gerdau", explica o vice-presidente de Suape, Fred Amâncio.

Com a siderúrgica, Pernambuco também garantiu a principal indústria consumidora destes laminados: a automobilística. A Fiat escolheu o estado para abrigar a sua segunda fábrica no País e, com um investimento de R$ 3 bilhões até 2014, deverá gerar 3.500 empregos. A unidade terá capacidade de produzir 200 mil veículos por ano.

"Além da estruturação da própria fábrica, ela traz outros níveis da cadeia, como autopeças, os fornecedores", avalia.


Fonte: Diário do Nordeste

domingo, 27 de março de 2011

Brasil defende estratégia para guiar economia

O Brasil defendeu neste domingo (27) suas estratégias heterodoxas para esfriar a economia, enquanto o Fundo Monetário Internacional alertou a América Latina a não esquecer a ferramenta básica de combate à inflação, o custo do dinheiro, durante fórum no Canadá.

Bancos centrais usam principalmente a taxa de juros para guiar uma economia. Mas o Brasil, que tem umas das mais elevadas taxas do mundo, já sugeriu que usará crescentemente medidas como limites ao crédito bancário para complementar as taxas, reduzindo as apostas no ritmo de alta da Selic.

O diretor de Assuntos Internacionais do BC, Luiz Pereira da Silva, disse que fluxos elevados de recursos de curto prazo atraídos ao país pela alta taxa de juros estavam alimentando o crédito e a inflação.

"Estamos enfrentando agora uma grande enxurrada de liquidez internacional", disse o diretor do BC Luiz Pereira da Silva, dirigindo-se a executivos de bancos durante encontro. "Algo bom em excesso pode ser um problema."

A inflação acumulada em 12 meses superou os 6% em fevereiro pela primeira vez desde novembro de 2008. Assim como medidas monetárias alternativas, o Brasil também criou barreiras à entrada de capital especulativo, ao aumentar a taxação sobre algumas aplicações estrangeiras.

As políticas têm sido criticadas por alguns economistas.

"As medidas mais convencionais nunca podem ser um substituto às medidas fundamentais", afirmou o diretor do FMI para o Hemisfério Ocidental, Nicolas Eyzaguirre, em uma coletiva de imprensa em Calgary, onde autoridades econômicas se reuniram para encontro do Banco Interamericano de Desenvolvimento.

Eyzaguirre disse que as taxas de juros estão abaixo de médias históricas em boa parte da América Latina, onde bancos centrais afrouxaram suas políticas em 2009 após a crise econômica global.

Diante das pressões inflacionárias correntes, os países deveriam começar por apertar suas políticas fiscal e monetária, afirmou a autoridade do FMI. Ele acrescentou que, se os fluxos de capital são um problema, outras medidas também podem ser usadas.

Boom de crédito
O Brasil já elevou a taxa de juros em 1 ponto percentual este ano, mas economistas consultadas semanalmante pelo BC seguem elevando suas projeções para a inflação este ano.

O diretor do BC disse que a inflação no Brasil deve subir temporariamente nos próximos meses, embora ele espere que os preços retornem a níveis consistentes com a meta após essa elevação.

Segundo ele, investimentos em portfólio aumentaram 47% no ano passado. Em um sinal do crédito crescente, os preços imobiliários em algumas cidades quase duplicaram em apenas dois anos. O real valorizou quase 10% desde março de 2010.

"As atuais e incomuns condições de liquidez estão afetando os mercados de crédito nos mercados emergentes. Os bancos centrais têm que prestar atenção a esses efeitos porque eles ameaçam a estabilidade financeira", afirmou.

Fonte: O Globo.com

sábado, 26 de março de 2011

Data: 28/2/2011

Desenvolvimento regional: Ingresso formal da África do Sul no Bric será em abril

Fonte: Jornal do Brasil

A primeira viagem da presidente Dilma Rousseff à Ásia, em abril, vai marcar a ampliação do Bric, grupo de países formado pelo Brasil, pela Rússia, Índia e China. Em 14 de abril, a África do Sul será formalmente integrada ao Bric. O ingresso dos sul-africanos será celebrado em sessões que contarão com as presenças dos presidentes dos cinco países, na cidade de Sanya, província de Hainan, na China. As informações foram confirmadas por diplomatas que acompanham o assunto.

No entanto, para o governo brasileiro, a África do Sul já é considerada integrante do Bric. Em 31 de dezembro de 2010, o Brasil divulgou nota oficial dando boas-vindas aos sul-africanos. A África do Sul e o Brasil ao lado da Índia são parceiros no Ibas, cujo objetivo é o desenvolvimento regional a partir de projetos comuns.

A viagem da presidente Dilma Rousseff à China, nos dias 13, 14 e 15 de abril, também tem o objetivo de ampliar o mercado brasileiro na região, atendendo aos apelos do empresariado nacional. O setor quer evitar que os produtos chineses prejudiquem o mercado interno nacional. O aumento das exportações de minério de ferro e aço do Brasil para a China também está na pauta das negociações.

O ministro das Relações Exteriores, Antonio de Aguiar Patriota, afirmou que serão feitos esforços para reduzir o "desequilíbrio" dos efeitos das importações chinesas no mercado nacional. Segundo ele, há um superávit de mais de US$ 5 bilhões em favor do Brasil no comércio com a China.

O chanceler disse, ainda, que a visita da presidente à China incluirá uma série de temas. "Será uma visita de Estado, que abordará questões bilaterais como comércio e investimentos, segurança e (questões) ambientais e globais", afirmou.

A presidente cumprirá a agenda por etapas: inicialmente com autoridades chinesas, depois com executivos chineses e, em seguida, com os integrantes do Bric.

Brasil - disputa por novos empreendimentos leva estados a intensificar concessão de benefícios fiscais

A guerra fiscal nos Estados

Do Valor
Marta Watanabe | De São Paulo
25/03/2011
Os benefícios do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), concedidos nos primeiros meses do ano pelos novos governos estaduais, estão sendo dirigidos basicamente para as indústrias, por meio de reduções de base de cálculo e créditos presumidos. É o que mostra levantamento do escritório Machado Associados.
Segundo a pesquisa, pelo menos sete Estados concederam benefícios que geram redução do imposto nos primeiros meses deste ano. Em alguns deles, os benefícios são condicionados. É caso do crédito presumido concedido pelo governo gaúcho aos fabricantes de pneumáticos. Entre outras condições, o incentivo vale para beneficiários do Fundopem, programa de desenvolvimento para atração de investimentos industriais no Rio Grande do Sul. 
Santa Catarina, o benefício que reduz para 3% o ICMS para fabricantes de artigos têxteis, de vestuário e artefatos de couro também estabelece condições. O governo catarinense exige a utilização pelo estabelecimento industrial de no mínimo 85% de matérias-primas produzidas em território nacional.
O secretário-adjunto da Secretaria da Fazenda de Santa Catarina, Almir Gorges, explica que o decreto mantém a redução de alíquota já oferecida para o setor têxtil. "Há apenas um ajuste no benefício." Entre eles, há uma mudança nos prazos para medir o uso de matérias-primas importadas e alguns itens, como fibras e fios de poliéster e viscose, passarão a ficar fora dessa conta. Segundo a Fazenda, a mudança foi feita porque não há produção nacional desses itens.
Em São Paulo, o setor industrial foi o principal alvo das prorrogações e das novas concessões de redução de base de cálculo do ICMS. Incentivos que terminariam ao fim deste mês, como o concedido à indústria de brinquedos e cosméticos, por exemplo, foram prorrogados para 2012 (ver quadro acima). Nesses dois casos a carga efetiva de ICMS continua reduzida para 12%. A alíquota geral do imposto no Estado para operações internas é de 18%. Para a indústria têxtil, a redução chega a 7%. No caso do couro, o benefício é dirigido aos atacadistas que vendem para fabricantes que usam o material como insumo.
Novos benefícios também miraram predominantemente as indústrias, também com redução de base de cálculo. Um dos mais importantes foi a redução do ICMS para 7% no caso dos fabricantes de geladeiras, fogões, máquinas de lavar e freezers. Também houve benefícios novos para fabricantes de lâmpadas de LED e alguns compensados de madeira.
Andrea Calabi, secretário de Fazenda do Estado de São Paulo, diz que os benefícios concedidos a fabricantes de linha branca e compensados estão entre os que foram oferecidos como forma de defesa a incentivos dados por outros Estados. Segundo ele, São Paulo deve adotar "tolerância zero" para incentivos dados por outros Estados dentro do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), órgão que reúne as secretarias estaduais de Fazenda.
Teoricamente os incentivos fiscais precisam de autorização do Confaz para ser aplicados. O consultor Clóvis Panzarini, ex-coordenador de administração tributária da Fazenda paulista, diz que o quadro atual das normas de ICMS revela que é necessária uma reforma tributária. Ele acredita, porém, que é preciso diferenciar os incentivos existentes. Para ele, é preciso levar em conta como eles são dados e se um benefício em um Estado prejudica a arrecadação de outro. 

Nos Estados Unidos, nos últimos 30 anos, a distância entre ricos e pobres aumentou

DEBATE ABERTO

A política da fome e da miséria

Em tempos de desordem financeira, os EUA assistiram a um grande aumento de sua desigualdade social. Enquanto isso, o touro de Wall Street guarda as portas de seu moinho satânico não só com seus chifres, mas sobretudo com mão de vaca. Assim, muitos americanos não estão comendo sequer o pão que o diabo amassou.

Em tempos de desordem financeira, os Estados Unidos assistiram a um grande aumento de sua desigualdade social, a partir da crise de 2008 e 2009. O reflexo mais dramático dessa queda ladeira abaixo foi o crescimento da miséria, da insegurança alimentar e da própria fome. 

Em 2008, houve um crescimento de 40% no número de pessoas em situação de elevada insegurança alimentar. O contingente de cerca de 6,7 milhões de lares corresponde a algo em torno de 5,7% da população. Pode parecer pequeno, mas o aumento foi o maior dos últimos 15 anos (dados do Census Bureau, 2010). Some-se a este contingente mais 23,5% de lares que vivem em insegurança alimentar em menor escala, mas mesmo assim são afetados. Ao todo, de cada 10 famílias, quase 3 estão em condição de pobreza e correm o risco de não ter o suficiente para se alimentar. 

Em 2007, havia 37.3 milhões de americanos pobres. Em 2008, o número saltou para 39,8 milhões (13,2% da população). Em 2009, atingiu 43,6 milhões (14,3%). É mais que um Sudão, mas até agora ninguém apareceu com aquele tipo de ironia tantas vezes usada no Brasil, que já foi apelidado de Belíndia (mistura da Bélgica em que viviam alguns, em contraste com a Índia para a maioria - numa época em que ser Bélgica parecia mais promissor, o que não é mais o caso) ou de Ingana (os ricos viviam numa Inglaterra, mas a maioria, numa Gana). Abrigar um contingente de pobres do tamanho de um Sudão, imagina-se, transformaria os USA num Usadão.

Ainda conforme dados do Census Bureau, uma em cada 5 crianças vive na pobreza, metade delas na miséria. 

As faixas de maior incidência de pobreza têm origem hispânica, seguida dos negros, mas a queda mais abrupta verificada após a crise se deu entre os brancos. Eram pessoas da classe média que, repentinamente, viram-se no olho do furacão da crise financeira de 2008-2009, perderam suas casas, seus empregos, seu padrão de vida e passaram a viver sob condições precárias. Gente que nunca esteve em situação tão crítica. 

O impacto psicológico e político de tal desgraça social é fermento para pregações que, na melhor das hipóteses, falam em resgatar a classe média. Todavia, tem crescido, e muito, o bombardeio ideológico dos apóstolos do modo de vida tradicional americano. São aqueles que defendem a volta de um país que se foi - na verdade, que nunca existiu, a não ser para uma minoria. Um saudosismo de “E o vento levou”, orgulhoso de suas raízes nativas e de um passado mitificado.

O reacionarismo da ultradireita estadunidense se nutre do escárnio aos imigrantes; do ódio aos que chegaram para realizar trabalhos desprezados e mal remunerados; da repulsa aos que, muitas vezes, fugiram de seus países na tentativa de escapar das consequências de crises sistêmicas do capitalismo, ou de guerras cuja extrema pobreza de seus combatentes sempre contrastou com o exímio poderio armado pago com ouro, diamantes, petróleo. 

A crise agravou, mas não criou a decadência do padrão de vida dos americanos. Uma longa transformação estrutural tem levado alguns de seus ícones à bancarrota ou a sérias dificuldades. Foi o caso, em várias ocasiões, das montadoras Chrysler, GM e Ford; e de algumas instituições financeiras tradicionais, como o Bank of America, o Citibank e daquela que se tornou o símbolo da crise, a holding sesquicentenária Lehman Brothers. Uma parte da economia americana desapareceu. Outra parte mudou-se para a China, a Índia, a Malásia. A tão propalada globalização, que afetou tantos países pobres e em desenvolvimento, também fez seu estrago dentro dos EUA.

Mas existe um ingrediente essencialmente político na decadência americana. Há pelo menos 30 anos, o padrão de vida norte-americano vem caindo de maneira consistente. No livro “Democracia desigual: a economia política da nova era dourada” (“Unequal democracy: the political economy of the new gilded age”), o cientista político Larry Bartels, da Universidade de Princeton, mostra que a pobreza tem aumentado mais, e a desigualdade, muito mais, durante os governos republicanos. Com os democratas, o prejuízo é menor, embora insuficiente para reverter a tendência pavimentada por seus adversários. 

Bartels atribui às políticas econômicas adotadas um grande peso no aprofundamento do abismo entre os absurdamente ricos e os absolutamente pobres. O professor analisa a velha e reiterada fábula dos republicanos sobre as benesses que adviriam ao se diminuir drasticamente a carga de impostos dos muito ricos e suas empresas. A promessa é que, ao permitir a supercapitalização dos grandes agentes econômicos, estes propiciariam a criação de milhões de novos empregos. Ao contrário, os dados permitem verificar, em diferentes períodos, que os republicanos venderam e não entregaram o que apregoavam.

Outra referência que vai na mesma linha são os professores Jacob Hacker e Paul Pierson, autores de “A política onde o vencedor leva tudo: como Washington tornou os ricos mais ricos e virou as costas para a classe média” (“Winner-take-all politics: how Washington made the rich richer - and turned its back on the middle class”). 

Nos últimos 30 anos, a distância entre ricos e pobres aumentou. Normalmente, os acusados são apenas suspeitos externos ou intangíveis - digamos, por exemplo, o senhor Comércio Exterior, a senhora Globalização Financeira, a madrasta Mudança Tecnológica, mais recentemente, uma malvada que atende pelo nome de China. Pois bem, segundo os autores, o responsável direto pelo problema tem nome e endereço. É filiado a um dos dois grandes partidos e pode ser encontrado em Washington. Responde pela política e pelas políticas públicas. 

A política não cria ricos e pobres, mas tem defendido com unhas e dentes quem menos precisa, quem tem mais recursos, deixando os pobres e a classe média em desamparo. 

Para Hacker e Pierson, o sistema político nos EUA foi "sequestrado" pelas grandes corporações e pelos grandes financistas. Avaliam que a intensificação desses laços pode ser traçada por volta dos anos 1970 (Governo Nixon). Mesmo as administrações do Partido Democrata não foram capazes de reverter a trajetória conservadora consagrada definitivamente por Reagan e continuada pela família Bush.

A influência do “grande negócio” (“big business”) foi embrulhada para presente por ideólogos conservadores. A grande imprensa a eles confere um tratamento ao estilo Poliana, generosamente apelidando-os de “especialistas” ou “técnicos”, omitindo que muitas de suas conclusões vêm de estudos e pesquisas financiados por corporações privadas. Estas pagam seus salários em “think tanks”, instituições que reúnem pesquisadores diretamente orientados a fazer lobby (ou mesmo “guerra”, para justificar a expressão “tank”) em favor de determinadas políticas públicas, ou que financiam suas consultorias.

Acostumados a um arraigado liberalismo e experimentando um conservadorismo rompante, os americanos são aturdidos com a volta de teses desbotadas e teimosas, como a de que as pessoas são pobres por razões individuais ou culturais. São pobres porque querem, acredite se quiser. Ou simplesmente porque não sabem como livrar-se da miséria. Têm uma cultura da pobreza, caem em armadilhas, por conta própria desestruturam suas vidas, pensam da forma errada. Um artigo do New York Times, meses atrás, registrou o retorno dessa velha e carcomida tese com a euforia de um agora-vai, ou tá-na-hora-dos-“perdedores”-acreditarem-nisso. Algo não muito diferente do que se vê aqui em livros como “A cabeça do brasileiro”, do sociólogo Carlos Alberto Almeida.

Nos EUA, os governos estão refazendo sua cartografia da fome. Só na cidade de Nova York, cerca de 20% das famílias passam por algum tipo de privação. A ong Coalizão Novaiorquina Contra a Fome, que distribui sopa (ao estilo do que fazia o Exército da Salvação, nos anos 30), mas que discute o problema também politicamente, apresenta dados segundo os quais o berço de Wall Street é o lugar com as áreas mais famintas dos EUA. A Senadora do Estado de Nova York, Kirsten Gillibrand (democrata progressista, “pero no mucho”), considera que a cidade passa por uma verdadeira “crise alimentar”. 

Enquanto isso, o touro que simboliza Wall Street em seu espírito indomável e antirregulatório guarda as portas de seu moinho satânico não só com seus chifres, mas sobretudo com mão de vaca. Assim, muitos americanos não estão comendo sequer o pão que o diabo amassou. E estão prontos para cometer os erros pelos quais serão condenados a sentirem-se culpados.


Antonio Lassance é pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e professor de Ciência Política. As opiniões expressas neste artigo não refletem necessariamente opiniões do Instituto.

Disputas no Comércio Internacional Brasil-Estados Unidos

25/03/2011 - 15h32

OMC decide a favor do Brasil em disputa com EUA sobre suco de laranja




  • Linha de produção de suco de laranja em Araraquara, no interior de São Paulo
    Linha de produção de suco de laranja em Araraquara, no interior de São Paulo

GENEBRA, 25 Mar 2011 (AFP) -A Organização Mundial do Comércio (OMC) decidiu nesta sexta-feira (25) que algumas taxas antidumping impostas pelos Estados Unidos sobre as importações de suco de laranja produzido no Brasil violam as leis do comércio internacional.

Em uma demanda apresentada à OMC em 2008, o Brasil denunciou o método utilizado pelos americanos para denunciar dumping no suco de laranja.

O painel de resolução de disputas da OMC aceitou a demanda brasileira em dois pontos, concluindo que os Estados Unidos "agiram de maneira inconsistente" ao aplicar seu polêmico e complexo método de cálculo, chamado de "zeroing".

Segundo as autoridades brasileiras, o "zeroing" permitiu aos Estados Unidos argumentar que o Brasil vendia suco de laranja no mercado americano por um preço abaixo do custo no mercado brasileiro.

Amparando-se nesse mecanismo, Washington podia impor em troca sanções com base no Acordo Antidumping da OMC.

Segundo a decisão do organismo de resolução de controvérsias da OMC "os Estados Unidos agiram de forma incompatível com o artigo 2.4 do Acordo Antidumping" da Organização e, com isso, "anularam ou afetaram as vantagens que esse dava ao Brasil".

A OMC pede em consequência a Washington que se adapte estas medidas às normas do comércio mundial.
Ao apresentar sua demanda, as autoridades brasileiras haviam alegado que a "metodologia ilegal" utilizada pelos Estados Unidos "coloca uma sobrecarga injusta sobre as exportações brasileiras".

Vários países membros da OMC denunciaram os Estados Unidos por esse método de calcular o nível de dumping. A União Europea (UE) ganhou um caso contra Washington por essa questão no ano passado.

Os Estados Unidos indicaram que não concordaram quando Brasil apresentou sua ação e asseguraram que defenderão suas medidas. Mas após esses novos casos as autoridades americanas asseguraram que estudam uma reforma do polêmico sistema.

Nessa decisão, a OMC confirma esse ponto e explica que "todos os membros da organização têm grande interesse que, de forma sistemática, seja encontrada no mais breve prazo uma solução duradoura para o controverso assunto da 'redução a zero'".

Os americanos asseguraram que, "embora o grupo especial (da OMC) tenha decidido contra os Estados Unidos, é importante compreender que o Departamento de Comércio Americano (USTR) já deixou de utilizar o procedimento do zeroing" em alguns casos de antidumping desde 2006, assegurou um porta-voz do USTR.

Além disso, acrescentou, o USTR propôs em dezembro de 2010 mudar esse método de cálculo em outros casos, uma proposta que ainda está submetida a análise.

quinta-feira, 24 de março de 2011

21/03/2011 - 08h26

Shoppings avançam para o interior em busca de novos mercados

PAULO MUZZOLON
EDITOR-ASSISTENTE DE MERCADO

Os shopping centers estão se dirigindo para o interior em busca de novos mercados. O alvo dos novos investimentos são cidades com mais de 150 mil habitantes.



O mundo dos shoppings




Construção do shopping Polo, com área para 180 lojas, cinema e supermercado, em Indaiatuba (SP); grupo espera que investimento de R$ 120 milhões retorne em até 7 anos, gerando lucro anual de até R$ 20 mi

Essas cidades se tornaram atrativas diante da falta de terrenos amplos e baratos nos grandes centros e do crescimento de consumidores com o avanço da classe C.

Até 2012, 56 novos shopping devem ser inaugurados no país, segundo a Abrasce (Associação Brasileira de Shopping Centers). O setor fechou 2010 com 408 empreendimentos e crescimento de 17% sobre as vendas de 2009, totalizando R$ 89 bilhões em faturamento.

Dos 56 novos shoppings previstos, 36 estarão em cidades com menos de 1 milhão de habitantes, em municípios como Indaiatuba (SP), Blumenau (SC), Cariacica (ES) e Londrina (PR).

Luiz Fernando Veiga, da Abrasce, diz há cerca de dez anos 85% dos shoppings estavam em capitais. O percentual caiu para 55%, e deve diminuir ainda mais.

Marcelo Sallum, sócio-diretor da Lumine --especializada em administração de shoppings--, destaca que os centros de cidades de porte médio não têm mais como crescer, dificultando a ampliação do comércio local.

Logo, a solução apresentada é a criação de um novo local de compras, muitas vezes distante do centro, com potencial para atrair clientela.
Alessandro Shinoda/Folhapress
Construção do shopping Polo, com área para 180 lojas, cinema e supermercado, em Indaiatuba (SP); grupo espera que investimento de R$ 120 milhões retorne em até 7 anos, gerando lucro anual
de até R$ 20 mi

CLASSE C

O fenômeno classe C ajuda a impulsionar a construção dos empreendimentos. "Hoje a nova classe média frequenta pouco o shopping, mas isso está mudando", diz.

Adriana Collo, superintendente de operação da Abrasce, diz que enquanto houver renda e emprego em crescimento, "por mais que o financiamento diminua", as vendas irão aumentar (a previsão para este ano é de avanço de 12% no faturamento).

Nos últimos anos, sete grandes grupos de shoppings abriram capital na Bolsa. O crescimento do setor também chamou a atenção de investidores estrangeiros.

Desde 2005, nove desses grupos investiram em shoppings no Brasil. Fundos imobiliários e de pensão, além de fundações, também investem nessa área, diz Adriana.

CIDADES VIÁVEIS

Segundo Luís Augusto da Silva, da Alshop (associação de lojistas de shoppings), estudos prévios são usados para analisar a viabilidade de entrada de shoppings nos municípios menores.

"Cidades como Vinhedo (SP) e Caruaru (PE), por exemplo, já têm potencial para atrair um shopping." Pelos critérios da Alshop, o país tinha 744 shoppings em 2010. Para a Abrasce, o número é menor porque ela só considera os que têm área vendável superior a 5.000 m2. Locais vistos como shoppings pela Alshop --que prevê 124 novos centros neste ano- são galerias para a Abrasce.


Editoria de Arte / Folhapress/Editoria de Arte / Folhapress

Política Monetária - Compulsório

Aumento do compulsório já tirou R$ 78 bi da economia


19/03/2011 - 10:05 

Agência Estado
O aumento nas alíquotas de recolhimentos compulsórios dos bancos determinado pelo Banco Central em dezembro já retirou de circulação da economia brasileira um volume de quase R$ 78 bilhões. Segundo dados do próprio Banco Central, com a adoção das chamadas medidas macroprudenciais, o estoque de recursos que os bancos são obrigados a deixar parado junto à autoridade monetária cresceu R$ 77,64 bilhões em comparação com novembro, mês imediatamente anterior ao anúncio das medidas.
A elevação dos compulsórios dos bancos promovida no início de dezembro faz parte da estratégia do BC de combater a inflação usando menos o recurso da taxa de juros básica, a Selic, que é uma das maiores do mundo e onera a dívida pública. A autoridade monetária, na ocasião, elevou de 15% para 20% a alíquota do compulsório sobre depósitos à prazo (como CDBs) e de 8% para 12% na chamada exigência adicional, que incide sobre depósitos à prazo, à vista e poupança.
Quando anunciou as medidas, o BC estimava retirar de circulação cerca de R$ 61 bilhões. No entanto, o resultado efetivo superou a previsão: só no primeiro mês saíram da economia cerca de R$ 65 bilhões.
Agora, o estoque já encosta em R$ 78 bilhões acima da posição de novembro. É natural que com o passar do tempo o saldo de compulsórios cresça, diante do fato de que a economia se expande gera mais empregos, renda e, consequentemente, dinheiro depositado nos bancos (que parcialmente terá de ser recolhido para o BC, sem poder se tornar crédito). Mas o crescimento do estoque até março é mais veloz do que indicaria o nível de atividade do País.

Negócios Brasil-Estados Unidos

TRUNFO DO BRASIL (20/3/2011)

Investimentos e mercado forte na mira dos EUA

Clique para Ampliar
Clique para Ampliar
Participação das exportações brasileiras para os EUA caiu de 20% para apenas 9,6%, entre 1990 e 2010 
FOTO: RODRIGO CARVALHO
20/3/2011 
Desejo de ampliar as vantagens econômicas para a América trouxe Obama para negociar com o Brasil

O papel do Brasil no mundo como poder emergente atraiu de vez a atenção do governo norte-americano para o País. Dois anos após assumir a Casa Branca, ao desembarcar por aqui, neste fim-de-semana, Barack Obama trouxe na bagagem um forte desejo de ampliar os benefícios econômicos para os Estados Unidos (EUA). Segundo as autoridades estadunidenses, a visita presidencial à América Latina é considerada como de extrema importância para o esforço de recuperação pós-crise - com o aumento das exportações e a criação de empregos - e a economia brasileira, em particular, pode ter papel crucial nessa empreitada.

Estabilizada, crescendo à ordem de 7,5% ao ano, como em 2010 - o que coloca o Brasil, hoje, como a 7ª economia mundial -, além do fato de ter passado de devedora para credora do Fundo Monetário Internacional (FMI), e ter mais da metade de sua população ingressado na classe média, faz com que a nação se apresente como um mercado promissor para os norte-americanos. Ainda mais considerando o vultoso volume de investimentos que deve ser feito no País nos próximos anos, e os EUA parecem querer uma fatia desse bolo, fechando contratos para participar das obras.

Maior mercado global

Do lado de cá, a importância de ampliação dos negócios também é vital para o Brasil. Afinal, os EUA, mesmo recuperando-se da crise, ainda são os maiores compradores globais - cerca de 13% do comércio mundial tem como destino a terra do Tio Sam. Do lado das exportações, o país detém 8,5% das vendas internacionais, sendo o 3º maior exportador do mundo, atrás apenas da China e da Alemanha. Sem contar que a maior aproximação pode dar início à solução de diversas pendências comerciais, como taxações à entrada de produtos brasileiros nos EUA e à redução, ou até mesmo, eliminação de subsídios que inviabilizam a venda dos nossos produtos naquele mercado, e que sempre foram histórico de disputas entre as duas nações.

Queda na participação

Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) revelam que, no período recente, especialmente após a crise financeira de 2007, houve uma queda na participação das exportações brasileiras para os EUA em relação ao total exportado pelo Brasil. De fato, enquanto na década de 1990 esta participação era em torno de 20% e entre 2000 e 2009, cerca de 19,4%, observa-se que em 2007 este porcentual caiu para 15,6% e em 2010 para apenas 9,6%.

Visita simbólica

Assim, explica a economista e professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), Inez de Castro, a visita de Obama é simbólica. "Representa uma ocasião de negociação com um parceiro de grande peso no cenário internacional. Claro, que em um momento de crise para a economia norte-americana, onde ela apresenta, em 2010, praticamente o mesmo PIB de 2007 e taxa de desemprego de 10%, a tendência do governo americano é de buscar expandir suas exportações para o Brasil, vendas estas favorecidas, inclusive, pela desvalorização do dólar no mercado internacional. Ou seja, deve haver uma tentativa de dinamizar a economia norte-americana através do comércio internacional. Isto ainda é mais plausível se pensarmos que o PIB brasileiro cresceu cerca de7,5% em 2010 e consequentemente, houve forte expansão das importações brasileiras. E há ainda grandes projetos de infraestrutura no País, que podem demandar equipamentos importados", justifica.

Com a mesma linha de raciocínio, o professor Olavo Henrique Furtado, coordenador da pós-graduação e MBA da Trevisan Escola de Negócios, reconhece que, com crise ou sem crise, os EUA ainda são o mercado mais importante do mundo.

"Faz parte da cultura norte-americana comprar produtos, e por mais que o Brasil diversifique seus parceiros comerciais, essa característica deve ser levada em consideração", fala.

"Ademais, os EUA sabem que, além de economicamente falando, o Brasil é também o seu maior parceiro político na região, exercendo forte influência sobre os demais países", pontua o especialista. 

ANCHIETA DANTAS JR.
REPÓRTER