Com o passar dos anos, as novas gerações não têm se interessado em dar continuidade às produções artesanais
Juazeiro do Norte. A criatividade com o uso da palha tem sido, há muitos anos, o principal meio de sobrevivência de artesãos em Juazeiro. Do milho, carnaúba ou bananeira, o que fica para a maioria das pessoas como algo sem utilização se transforma em peças úteis nas mãos desses artistas, como bolsas, cestos, chapéus, jogos americanos e delicadas flores, entre uma infinidade de artigos.
Mas, atualmente, os jovens do Cariri não se interessam em manter a tradição em produzir artesanato a partir da palha. Mesmo assim, a Associação dos Artesãos da Mãe das Dores e do Padre Cícero, em Juazeiro do Norte, reúne esses profissionais e continua a incentivar as atividades. Para isso, são promovidos cursos sobre novas formas de tintura da palha e novo design dos produtos.
Há três anos havia, na Rua do Horto, um dos principais focos dos artesão da palha em Juazeiro, pelo menos mil pessoas que teciam os fios secos para dar formas a chapéus usados pelos romeiros. Na sombra dos barracões de palha ou nas calçadas de casa, a rua antiga da subida do Horto do "Padim" demonstrava esse importante potencial.
A dona Tecla Cosma da Silva trabalha há cerca de três décadas com este tipo de artesanato. Um trabalho que deu prazer durante, praticamente, toda a sua vida. Ele é uma das mais antigas integrantes da associação e também uma forte incentivadora dos produtos feitos de palha. Já passou o seu ofício para vários jovens da região, que hoje fazem do artesanato um meio de sobrevivência.
As jovens da associação são testemunhas desse trabalho. Há alguns anos elas passaram a integrar a entidade. Nas paredes, de cima a baixo, estão pendurados artigos dos 30 integrantes da casa. Dona Tecla lembra dos tempos em que foi mais fácil se trabalhar com a palha.
Dificuldades
Até mesmo a matéria-prima, segundo a artesã, está em falta no mercado. Este ano, uma de suas grandes preocupações tem sido conseguir palha de milho, o seu principal artigo de trabalho. Para obter o material, dona Tecla precisa ir ao roçado. É necessária uma triagem do produto para não perder a viagem. Mas ela tem uma alternativa que a faz lembrar os pais na infância, com o uso da palha da bananeira.
Uma alternativa, mas que poderá não ter em grande quantidade. A pernambucana chegou ao Cariri ainda na infância. Passou a tecer os fios de palha e a criar novos modelos. Mostra suas bolsas em palhas de carnaúba com alegria de quem está começando a ver os primeiros resultados do seu trabalho.
Uma de suas grandes alegrias é poder passar o que sabe para os jovens, mas lamenta. O futuro deste tipo de atividade se mostra com a experiência de mais um dia, mais um ano, e vai levando da melhor forma.
Desde o início da luta pela Associação, dona Tecla lembra dos momentos de abertura de mercado para os produtos, com o esforço e importante apoio das irmãs Teresa Guimarães e Annete Dumoullin. Desde o sudeste do País, em cidades como São Paulo, à Europa, esse trabalho conseguiu abrir portas para os artesãos caririenses. No entanto, hoje, as encomendas não são tantas como antigamente, mas dá para sobreviver. Pelo menos é que o elas dizem.
Enquete
Oportunidades
Josefa da Silva Santos
Artesã
32 anos
É uma atividade que me dá grande alegria, mas financeiramente antes era melhor. As encomendas maiores acontecem agora
Tânia Maria Bezerra da Silva
Artesã
24 anos
É uma forma de sobrevivência para nós, mas as pessoas estão menos interessadas em aprender esse tipo de artesanato
Maria Edvânia Bezerra dos Santos
23 anos
Acho uma profissão em que tem que ser criativa para levar os produtos para o mercado. Hoje, estou produzindo mais bolsas
MAIS INFORMAÇÕES
Associação dos Artesãos da Mãe das Dores e do Padre Cícero
Rua Padre Cícero, 210
(88) 3512.2829
CRISE
Entidade atua mesmo com redução de seus filiados
Juazeiro do Norte. Atualmente, a Associação dos Artesãos da Mãe das Dores e do Padre Cícero perdeu quase a metade dos seus filiados. Antes, eram 50. Agora, apenas 30 dão continuidade às atividades. O motivo para a queda foi a procura por outros trabalhos mais compensadores financeiramente. Mesmo assim, o presidente da Associação, Luciano Bezerra da Silva, afirma que a entidade tem atendido aos clientes sem muitas dificuldades. A maioria do grupo é formado por mulheres.
Atualmente, o principal mercado para o escoamento da produção tem sido o da Capital. Principalmente por meio da Ceart. Ele afirma que a produção de artesanato de palha em Juazeiro do Norte ainda é bastante significativa. Mesmo não estando concentrados no Horto, os artesãos se espalham nos bairros da cidade.
Nos municípios de Caririaçu, Assaré, Salitre, Crato e Jardim estão concentrados grupos de artesãos. Caso a produção necessite de implemento, esses artesãos são contatados. E isso faz com que o polo artesanal da palha do Cariri seja um dos mais importantes do Estado.
E os artesãos filiados à entidade ganham pela produção vendida. O local é a alternativa viável para ter um aproveitamento financeiro mais seguro do que se comercializa. As vendas estão mais focadas nos chapéus a artigos mais em conta, principalmente as bolsas. Mas a clientela em potencial é de fora. Os cartões natalinos, confeccionados em folha de bananeira, palha de banana ou milho e tecidos, passaram por um bom tempo a ser o carro-chefe de vendas.
Eram mais de 20 mil encomendas por ano, por entidades principalmente da França e da Holanda. Era parte do ano era dedicado à fabricação desse artigo. Boas mudanças e adequações nos produtos foram feitas na própria entidade.
Um curso destinado a uma tintura de melhor qualidade foi ministrado esta semana na entidade, em parceria com o Sebrae. Os artesãos se alegam com a possibilidade de cada vez mais poder sofisticar o produto. Um designer dará dicas importantes nos próximos dias.
Dedicação
Luciano dedicou mais da metade de sua vida ao artesanato de palha. Há 19 anos ele aprendeu os primeiros trançados e deu conta de que era sua vida que estava ali. E foi trabalhar com o incentivo das irmãs Annete Dumoulin e Teresa, idealizadoras da entidade juntamente com outras colaboradoras.
Ele agradece o importante apoio da Igreja em fornecer o prédio de abrigo para os artesãos da palha. Mas uma mostra de que os jovens não querem continuar a arte da palha é a quantidade de jovens que iniciam mas não concluem o curso ministrado pela artesã Tecla Cosma da Silva. Mesmo assim, ela tem a alegria em dar continuidade à sua profissão.
Elizângela Santos
Repórter
Fonte: Diário do Nordeste - Caderno Regional
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