sexta-feira, 2 de abril de 2010

Economia Cearense


Tendências e Mercado, 14 de outubro de 2009 - 8:13 - Por Paula Felix


Setor têxtil impulsiona economia cearense

Estado é o maior produtor brasileiro de fios de algodão e 2º maior de roupa íntima
Produto de exportação para as regiões Sul e Sudeste, os fios de algodão deram ao Ceará o posto de maior produtor do artigo em todo o país. A crise econômica mundial passou despercebida e o único problema do segmento é uma fissura na cadeia produtiva: o estado não produz algodão. Mesmo assim, fiações, tecelagens e malharias trabalham a todo o vapor, dando ao setor um faturamento superior a US$ 3 bilhões no ano passado.
Santa Catarina e São Paulo são os principais consumidores dos fios de algodão produzidos no Ceará. Fotos: Paula Felix
Santa Catarina e São Paulo são os principais consumidores dos fios de algodão produzidos no Ceará. Fotos: Paula Felix
“O setor têxtil cearense passou por um processo dolorido, mas muito importante. Empresas surgiram ou ressurgiram do fundo de quintal e, nos últimos quatro ou cinco anos, elas não tiveram nenhum problema. Isso porque o Ceará não ressurgiu fazendo commodities, mas trabalhando com produtos que têm valor agregado”, explicou o proprietário da indústria Têxtil Bezerra de Menezes, Ivan Bezerra.
Bezerra, que é também presidente do Sindicato da Indústria Têxtil do Estado do Ceará (Sinditêxtil/CE) e vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil de Confecção (Abit), disse que os efeitos da crise que afetou o mundo não abalaram o setor, que permaneceu firme dentro de mercado, de modo que o estado se consolidou como maior produtor de fios de algodão do Brasil, tendo como principais consumidores os estados de Santa Catarina e São Paulo.
A empresa de Bezerra está no mercado há 30 anos e é composta por uma fiação e quatro malharias. Nas malharias, a produtividade é de 300 toneladas de malha por mês, montante que compõe as três mil toneladas mensais produzidas em todo o estado. É por meio das malhas que o Ceará conquista mercados em outras fronteiras. Segundo Ivan Bezerra, as peças são apresentadas aos compradores das regiões Sul e Sudeste. Caso eles aprovem, adquirem os fios de algodão, produzindo a malha e as confecções em suas próprias indústrias.
Investimentos
Já no Ceará, as malhas são vendidas diretamente para as empresas que trabalham com confecções. “Malha aqui é um fenômeno, não dá para acreditar”, diz, enquanto contabiliza a quantidade de malha produzida no estado por mês e conclui que a produção é de três mil toneladas. Entre os investimentos governamentais para o setor, ele destaca o programa Revitaliza, do BNDES, onde as empresas podem investir em obras de revitalização em suas estruturas pagando juros de 4,5% ao ano, sem correção. O governo local, por sua vez, baixou o ICMS interno de 17% para 7%.
 “O governo criou ainda a figura da substituição tributária: as indústrias de base, como fiações e malharias, pagam o imposto que deveria ser pago pela confecção. Em vez da confecção pagar o imposto, nós retemos 3% na hora da venda e ela não paga mais nada. Então, acabou o superfaturamento e da venda sem nota”, detalha.
Fábrica
O barulho é ensurdecedor, as máquinas não param. Quatro minutos sem proteção nos ouvidos já são suficientes para provocar uma lesão, pouco se ouve das explicações da analista de qualidade da Têxtil Bezerra de Menezes, Raquel Guedes. Mas ela, gritando, informa que a primeira máquina faz a limpeza do algodão. Os flocos de algodão são esticados e giram, processo que retira as impurezas.
Trabalhadores acompanham de perto as etapas produtivas dos fios de algodão.
Trabalhadores acompanham de perto as etapas produtivas dos fios de algodão.
Eles seguem por um sistema de canos, até os outros equipamentos que os deixam cada vez mais unidos, estruturando-se em formato de corda. São enrolados em carretéis de, aproximadamente, 1,5 m e este trabalho é acompanhado por cautelosos funcionários, visto que são eles que posicionam os cordões a cada duas ou três voltas.
Etapa a etapa, os fios ficam mais finos, partículas de algodão se acumulam por toda a parte. Nas narinas e na garganta elas grudam, dão a sensação de ressecamento, mesmo no breve intervalo da visita. A última etapa é uma verdadeira sensação de tortura, o corpo inteiro se contrai com o som estridente e incômodo: os fios de algodão surgem e estão sendo rapidamente enrolados, fazendo um zumbido agudo e repetitivo, algo como uma broca de dentista amplificada. “É por isso que temos que usar os protetores, esse barulho causa graves lesões”, informa Raquel.
Devido ao lançamento de novos produtos, malhas resultantes de misturas entre fios de algodão, a indústria teve um crescimento no faturamento de 30% em 2008. Os cálculos sobre este ano não foram concluídos nem apresentados, mas Ivan Bezerra adianta que o incremento para o próximo ano deve ficar em torno de 10%.

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