quarta-feira, 14 de abril de 2010

Empreendedorismo em meio ambiente




INCLUSÃO E SUSTENTABILIDADE

Empreendedoras sociais tocam fábrica de tijolos ecológicos


Projetos da ONG Ação e moradia tem como foco ações para transformar a vida de mulheres em Uberlândia



“Dizem que a mulher é o sexo frágil. Eu não concordo! Trabalho todos os dias com outras 14 mulheres em uma fábrica de tijolos na periferia de Uberlândia, em Minas Gerais. O serviço é pesado, sim, mas quem disse que a gente dá moleza? 

Não fazemos um produto qualquer. Fabricamos tijolos ecológicos, que não agridem o meio ambiente. Ou seja, não usamos lenha pra queimar o tijolo, que seca no tempo. A cada mil tijolos ecológicos produzidos, deixamos de derrubar sete árvores. Já pensou quantas árvores conservamos verdinhas e bonitas em um mês de trabalho?” 

HÁ VÁRIOS CURSOS PARA A COMUNIDADE 
“A fábrica é uma ideia da ONG Ação Moradia, criada no ano 2000 pela catequista Eliana Setti. A ONG tem vários outros projetos para melhorar a vida de mulheres como eu, que têm filhos e precisam ajudar ou até sustentar a família sozinhas. 

A sede da Ação Moradia é grande. Além da fábrica de tijolos, temos uma cozinha para oficinas de culinária, um salão de cabeleireiro, uma horta comunitária, aulas de artesanato e curso de montagem e manutenção de computadores. 

Não sou funcionária da ONG, sou uma empreendedora social. Quer dizer, é como se eu e as minhas colegas que trabalham aqui na fábrica fôssemos todas donas do negócio. 

O lucro depende da nossa produção. O dinheiro que ganhamos com o que vendemos é dividido de acordo com as horas que cada uma trabalhou. Em meio período de trabalho, consigo tirar uns R$ 400 por mês. 

As nossas principais clientes são as construtoras dos conjuntos habitacionais aqui de Uberlândia. Mas quem está construindo sua casinha própria também vem nos procurar. 

O milheiro do tijolo ecológico custa R$ 420, com as medidas 12,5 x 25 x 6,5 cm. É maior que o convencional. O metro quadrado de parede feito com ele sai mais barato do que com tijolos baianos ou blocos de cimento. O tijolo ecológico também pode ficar aparente, e aí não é preciso reboco, massa corrida ou pintura. Fica bem bonito.” 

TEMOS UMA MOEDA DE TROCA SÓ NOSSA 
“Eu conheci a ONG graças a uma amiga. Foi muito bom, porque eu nunca tinha trabalhado. Tenho dois meninos pra criar, só que era difícil conseguir emprego porque estudei apenas até a 8ª série. Faz pouco mais de um ano que estou na Ação Moradia, e agora posso ajudar meu marido lá em casa. O começo foi um pouco difícil, mas recebemos assessorial da ONG para cuidar da fábrica. Tem um técnico contratado que verifica a qualidade da produçãodos tijolos e nos ajuda no dia a dia. A iniciativa tem o patrocínio de fundações internacionais, que compraram as máquinas e nos auxiliam enquanto aprendemos a caminhar com as próprias pernas. Além do dinheiro, recebo cesta básica e “horas-ação”, que é como chamamos o dinheiro que só circula dentro da ONG. Com as “horas-ação” posso comprar os produtos fresquinhos que saem da horta, enfeites que outras meninas fazem na oficina de artesanato ou trocar por serviços no salão de cabeleireiro e ficar bonitona!” 

ATÉ CARREGAMOS E DESCARREGAMOS O CAMINHÃO DO CLIENTE 
“Eu participo de todas as etapas de fabricação do tijolo. É preciso carregar a terra, peneirar, medir a quantidade no balde, colocar o tanto ideal de cimento e bater na máquina. Depois a gente coloca na prensa, pra massa virar tijolo de verdade. Aí eles vão para o barracão e regamos com água três vezes ao dia. Por último, vão para o sol até que o cliente venha retirar. Às vezes somos nós que carregamos e descarregamos o caminhão do comprador. Como eu disse, somos muito fortes!” 

APRENDI A FALAR MELHOR E USO INTERNET 
“Mas o bom da Ação Moradia é que não é só trabalhar. Eu também aprendo muito. Nas horas vagas, participo de cursos sobre meio ambiente, cidadania, economia solidária e informática. Já sei até entrar na internet. Uma coisa que mudou muito foi que eu aprendi a me comunicar. Eu era bem calada, tímida, não sabia conversar. Tinha vergonha de tudo. Agora sou outra pessoa! Aprendi a expressar minhas opiniões. O que mais posso querer? Construir minha casa com os tijolos ecológicos que eu mesma fabriquei. Algumas pessoas, como a Lucimeire (veja texto abaixo), já conseguiram. Eu sei que vou chegar lá!” 

DA REDAÇÃO 
ONG FAZIA MUTIRÕES PARA A CONSTRUÇÃO DE CASAS 
Organização Não Governamental Ação Moradia teve origem em um movimento da Igreja Católica em Uberlândia, a Pastoral da Moradia. O trabalho da ONG é focado na capacitação de mulheres em bairros pobres da cidade para a geração de renda. Os filhos das mulheres que trabalham na Ação também recebem formação em aulas de música, artes, recreação e leitura. Quando foi fundada, em 2000, seu principal objetivoera garantir o direito à habitação para pessoas de baixa renda. Para isso, foram organizados mutirões para construção de casas no bairro Campo Alegre em parceria com a Caixa Econômica Federal, que financiou o material para as famílias, e com a prefeitura, que doou o terreno. 

Lucimeire Ferreira, de 33 anos, participou do mutirão em 2006 e conta como foi: “Eu fabriquei os tijolos todinhos da minha casa. Depois, fui para o canteiro de obras com todo mundo. De manhã, eu cozinhava para umas 50 pessoas que trabalhavam no local. À tarde, colocava a mão na massa. Ajudava a assentar tijolo, a rejuntar, tudo”. Nessa etapa do projeto, 50 famílias foram beneficiadas. A missão da ONG não mudou, mas não há mutirões no momento. Segundo Roberta Jannini, assessora da organização, “leva tempo para que projetos desse tipo sejam aprovados. Precisamos de parceiros para conseguir um terreno e financiar a construção de novas casas”. Hoje, 33 famílias são diretamente beneficiadas pelo trabalho da Ação Moradia, e 160 crianças participam das atividades culturais e recreativas.


Fonte: Planeta Sustentável

Um comentário:

  1. Que exemplo interessante, isso mostra como é possível ter uma condição de vida digna, sem estar subordinado a alguém, não que a subordinação de um emprego comum seja ruim, estou apenas analisando os pontos positivos de empreender, como foi exposto na matéria.

    As mulheres quebram completamente os paradigmas maxistas que as cercam, como também mostram sua capacidade inovadora, pois a questão ecológica exposta, pode ser considerada hoje um futuro presente, que requer ações já e que essas mulheres mostraram sua capacidade, evitando "a queda de 7 árvores" na sua produção.

    Há ainda a cooperação entre elas, quando observamos o lucro dividido por horas de trabalho, pode parecer "arrudeio", mas realmente essas palavras são simplesmente para mostrar o quanto gostei do trabalho realizado em Uberlândia e que essas pessoas estão de parabéns, todas elas que estejam envolvidas de forma direta ou indireta, pois ações como essa precisam de apoio para poderem prósperar e servir de exemplo para outras iniciativas.

    AbraçO!
    J.P

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