São Paulo, quarta-feira, 20 de outubro de 2010
Real é a moeda mais valorizada desde 2003
Alta foi de 89%, maior taxa entre 20 principais emergentes; valor está 8% acima de 1998, quando o câmbio era fixo
Câmbio real efetivo mede competitividade dos países; México e Coreia se beneficiam de moeda desvalorizada
ÉRICA FRAGA
DE SÃO PAULO
O valor do real em relação às moedas de seus principais pares comerciais -descontada taxas de inflação- já é hoje 8% superior à média registrada em 1998, último ano de sobrevivência do câmbio fixo quando a evidente apreciação excessiva culminou na maxidesvalorização de janeiro de 1999.
A conta foi feita com base em dados do JPMorgan para o chamado câmbio real efetivo -importante medida de competitividade de um país- que no caso do Brasil atingiu em setembro passado o patamar mais apreciado desde meados de 1990.
O câmbio real efetivo mede o valor de uma moeda em relação àquele de seus principais parceiros comerciais, descontando as variações de inflação registradas pelos mesmos. No caso do Brasil, o índice de inflação utilizado pelo JPMorgan é o IPC (Índice de Precos ao Consumidor), da Fundação Getulio Vargas.
O comportamento do índice brasileiro aponta para sobrevalorização crescente do real e consequente perda de competitividade doméstica.
Entre as moedas de 20 dos principais emergentes, o câmbio real efetivo brasileiro é o que mais se apreciou (88,7%) desde dezembro de 2003, época em que boa parte do efeito da forte depreciação ocorrida em 2002, em meio à eleição de Lula, já havia passado e em que a volatilidade das moedas de países em desenvolvimento estava bem acomodada.
Outra medida muito acompanhada por economistas é a posição do câmbio real efetivo em relação à sua média histórica. Usando essa comparação (e tomando dezembro de 1992 como início da série), o real é a terceira moeda mais valorizada (33%), perdendo para Rússia (41%) e Hungria (38%).
Júlio Callegari, economista do JPMorgan, diz que a principal causa da apreciação do câmbio real efetivo brasileiro é a robusta demanda pelas commodities produzidas pelo país. Isso tem feito com que os preços dos bens exportados pelo Brasil estejam em patamar bem mais elevado que os dos produtos importados.
"Todos os importantes exportadores de commodities estão passando por isso."
Em seguida na lista de causas da apreciação do real, segundo Callegari, vêm as boas perspectivas de crescimento da economia doméstico e os juros elevados praticados no Brasil, que ajudam a atrair capitais de fora.
Ainda que parte da atual sobrevalorização do real reflita causas positivas, seu efeito negativo sobre a competitividade da indústria brasileira provoca preocupação.
Ruben Damião, sócio da Galeão Serviços de Investimentos, aponta que o câmbio real efetivo de México e Coreia está desvalorizado em relação às suas médias históricas: "Isso tem um efeito perverso para o Brasil. O México afeta nossa competitividade na indústria automotiva, e a Coreia, na indústria pesada e de componentes".
Essa dinâmica tem contribuído para um crescente deficit nas transações do Brasil com o exterior, que chegou a 2,32% do PIB (Produto Interno Bruto) em agosto e caminha rumo à média de 4% registrada entre 1998 e 2000.
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