terça-feira, 17 de novembro de 2009

Governo não pode basear previsões otimistas no consumo', diz economista

Ruy Quintans alerta para expansão das compras baseada no crédito.
Especialista falou a internautas na nova série de chats do G1.

Ruy Quintans alerta para expansão das compras baseada no crédito (Foto: Reprodução/G1)

O Brasil deve crescer cerca de 5% no próximo ano, mas o investimento e o consumo preocupam, na opinião do professor de Finanças da escola de negócios Ibmec-RJ, Ruy Quintans, que participou da nova série de entrevistas do G1 com o tema "O Brasil é a bola da vez da economia?", nesta terça-feira (17).

Ele alerta que o consumo está hoje muito apoiado no crédito. "O governo não pode basear suas previsões otimistas no consumo do povo brasileiro", diz o economista. "O consumidor brasileiro é 'jovem', por ter entrado no mundo do consumo recentemente. O consumo é feito em cima do crédito e isso tem limite. Uma das limitações é a capacidade de produção. Não podemos nos tornar um país em que tudo se importa", afirma Quintans.

Na opinião de Quintans, o consumo das classes C, D e E, que avançou muito, não é baseado na distribuição de renda, mas sim na tomada de crédito e também em uma "demanda reprimida", reflexo da carência de bens dessa população. "Normalmente essas classes consomem com base no crédito, não é pelo Bolsa Família ou por distribuição de renda. [O Bolsa Família] não é distribuição de renda, e sim de dinheiro", critica o economista.

Em vez de focar a atenção no consumo, o professor diz que o governo deveria se preocupar em atrair investimentos produtivos, que geram emprego e renda de forma sustentável. Segundo ele, o Brasil vive um "círculo vicioso" em que precisa aumentar a taxa de juros toda a vez que a economia se aquece. Dessa forma, fica mais caro para o empresário nacional captar dinheiro, o que inibe o investimento produtivo. "É uma prisão", define.

O papel de destaque que o Brasil teve durante a crise econômica, em sua visão, está calcado em dois aspectos: o aumento do consumo de produtos primários no mundo nos anos anteriores à turbulência e o aumento das reservas, com o país se tornando credor de organismos como o Fundo Monetário Internacional (FMI). "Foi fundamental guardar dinheiro, o que se deveu principalmente ao comedimento do [presidente do BC], Henrique Meirelles."

Infraestrutura

O especialista também alertou para a falta de infraestrutura no país para permitir mais investimentos e sustentar o crescimento da economia. "A falta de infraestrutura inibe o investimento. O consumidor consome e o empresário investe. O que faz você consumir é sua vontade, seu desejo. O empresário não, ele precisa ver condições como logística, segurança, energia, esgoto etc., que é a parte do governo", diz Quintans.

O economista acredita que a Copa do Mundo e a Olimpíada no Brasil podem trazer "disposição e oportunidade de criar investimentos em infraestrutura". "Esse é o aspecto que vejo como mais positivo", diz ele, lembrando que os investidores sabem que, caso o governo não faça a parte dele e ofereça infraestrutura, o dinheiro para as instalações terá de sair do próprio caixa dos investidores, que nem sempre estarão dispostos a fazer o gasto "extra".

A carência do setor estrutural brasileiro, de acordo com Quintans, fica transparente quando se compara a produção de energia do Brasil com a dos Estados Unidos. "Temos uma população em torno de 35% menor do que a população amerciana, e nosso sistema elétrico cabe na Califórnia. Temos 1/52 avos da capcidade de distribuição de energia deles. Isso mostra a nossa pobreza", explica.

Papel do governo

Para Ruy Quintans, o papel de destaque que o Brasil teve durante a crise econômica esteve baseado principalmente no controle rígido que o Banco Central exerce há tempos sobre o setor bancário. De acordo com o especialista, a corrente econômica que defende um papel maior para o Estado na economia ganhou força com a crise que explodiu no ano passado.

"Acho que o governo tem que intervir mesmo. Mas o papel dele no momento de crise é intervir com gastos saudáveis. É um papel regulatório nos setores mais interessantes para a sociedade. E o investimento dele na educação, economia, saúde e infraestrutura", diz o professor.

Entretanto, ele vê o poder público brasileiro gastando na direção oposta, do curto prazo. "São gastos permanentes, o que o impede de fazer uma reforma tributária. Há muito gastos com funcionários. São gastos que vão ficar e que não geram nada a não ser uma pequena distribuição de renda", explica.

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