domingo, 8 de novembro de 2009

4,6 milhões de nordestinos deixam a extrema pobreza


O crescimento econômico do País e os programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, foram os principais motivos para que 4,6 milhões de nordestinos deixassem a extrema pobreza e passassem a receber mais de R$ 188 por mês



Para Suely Chacon, o Bolsa Família ajudou no crescimento econômico (Divulgação)


Sandra Nagano
nagano@opovo.com.br
06 Novembro 2009

Em 10 anos, os nordestinos tiveram um aumento da renda individual e passaram a consumir mais bens e serviços. Para se ter uma ideia, no período entre 1998 e 2008, o Nordeste foi a segunda região, depois do Sudeste, que mais contribuiu para o movimento da mudança na estrutura social na base da pirâmide brasileira. Cerca de 4,6 milhões de nordestinos deixaram a extrema pobreza e começaram a receber mensalmente entre R$ 188 a R$ 465.

É o que evidencia a análise realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad 2008), que traça a nova estrutura social do Brasil. O crescimento e a estabilidade econômica do País e os programas de transferência de renda foram os principais indutores para essa movimentação entre os mais pobres.

Para a economista e coordenadora do Centro de Pesquisa e Pós-Graduação do Semiárido da Universidade Federal do Ceará (UFC), Suely Chacon, os programas como o Bolsa Família, foram importantes para alavancar o crescimento econômico regional nos últimos 10 anos.

``As classes sociais mais baixas tiveram acesso ao consumo e isso foi muito importante para a região. O mercado interno foi fortalecido. Veja que se você não tiver um mercado interno razoável, não terá crescimento econômico forte e contínuo``, avalia Suely.

Para ela, a Região não chegou ``ao ideal, nestes 10 anos``, mas está no meio de um processo de mudanças. ``Hoje a gente tem um cenário positivo com possibilidade de transformar este processo de crescimento econômico que estamos passando em desenvolvimento regional sustentável. Esse será o nosso grande desafio``, completa a economista.

Pobreza
Mesmo com uma população com mais renda e poder de compra, a região tem outro grande desafio a vencer. Ao longo dos anos de 1998 a 2008, o Nordeste continuou representando 50,9% do total dos brasileiros pertencentes à base da pirâmide social brasileira. Ou seja, mais da metade da população pobre do País.

Para o pesquisador do Laboratório de Estudo da Pobreza, ligado ao curso de Pós-Graduação em Economia (Caen) da UFC, Carlos Manso, os programas de transferência de renda foram importantes, mas não corrigiram as distorções sociais regionais em território brasileiro.

"O Nordeste representa 28% da população nacional e mais de 50% dos pobres do País. Trata-se de uma grande disparidade", avalia Manso. 'É preciso qualificar as pessoas daqui, oferecer educação e saúde. Não é uma questão apenas de justiça social, mas de crescimento econômico regional".


E MAIS:

- O estudo do Ipea mostra que o Sudeste detém 47% da população brasileira com renda mensal individual superior a R$ 465. Enquanto no Nordeste, apenas 18% estão inseridos dentro deste estrato social.

- A pesquisa também mostra que 46,4% da população nordestina recebe mensalmente menos de R$ 188.

- O estudo do Ipea dividiu as camadas sociais em três estratos: o primeiro considera o rendimento individual de até R$ 188 mensais no ano de 2008. O segundo, entre R$ 188 a R$ 465 mensais. E o terceiro, rendimentos acima de R$ 465 mensais.

- No que se refere à distribuição da população por grandes regiões geográficas, percebem-se modificações na composição do estrato superior de renda, com decréscimo significativo da região Sudeste (58,1%, em 1998, para 53,2%, em 2008). Em compensação, a maior presença da região Sul (18,6%, em 1998, para 20%,em 2008), do Norte (3,6%, em 1999, para 5,2%, em 2008), do Nordeste (12,6%, em 1998, para 13,6%, em 2008) e Centro-Oeste (7,1%, em 1998, para 8,1%, em 2008).

- Em relação à parcela da população com ascensão social, observa-se que ela concentra-se no meio urbano, embora quase 20% dos que alçaram o segundo estrato de renda tenham a moradia no campo.


POTENCIAL DA REGIÃO NORDESTE

- A Tendências Consultoria, Fundação Getúlio Vargas e a Datamétrica Consultoria divulgaram nesta semana dados sobre o potencial econômico da região Nordeste. Veja abaixo os principais pontos da pesquisa:

- O PIB nordestino vem crescendo acima da média nacional. Este ano, a previsão é de que o crescimento seja de 1,5%, contra -0,1% do Brasil. Em 2008 a média nacional foi de 5,1%, enquanto a do Nordeste foi de 5,3%.

- Nos próximos cinco anos, o Nordeste brasileiro deve receber R$ 52 bilhões.

- Pernambuco e Bahia têm o maior número de investimentos em infraestrutura e novas fábricas - em andamento ou concluídos este ano.

- O perfil dos consumidores nordestinos mudou com a ascensão social da população que antes fazia parte das classes D e E. Desde 2003, cerca de 10 milhões de nordestinos ingressaram nas classes C e D.

- Desde 2003, a renda do trabalhador na região cresce 7,27% ao ano, diante dos 5,3% da média nacional.

- De janeiro a junho, as vendas varejistas na Região cresceram 5,24%, ultrapassando a média nacional, que estacionou em 4,43%.

- Segundo o Datamétrica Consultoria, a vitalidade do consumidor nordestino é alimentada pelos programas de transferência de renda do governo federal, a oferta de crédito e a desoneração tributária.


Fonte: Jornal O Povo. Caderno Economia. Fortaleza, 6 de novembro de 2009.
http://opovo.uol.com.br/opovo/economia/925912.html

Um comentário:

  1. Embora os programas de transferência de renda tenham sido alvo constante de críticas por alguns brasileiros que acreditavam que o mesmo atuaria como uma política adaptada do “Pão e Circo”, hoje é inquestionável a sua relevância para amenizar o quadro de desigualdade regional existente no Brasil.

    Além disso, essa medida teve um papel decisivo para o crescimento econômico nacional, uma vez que uma parcela significativa da população teve acesso ao consumo de bens e serviços decorrentes da nova renda e da facilidade ao crédito.

    Cícero Junior Siqueira dos Santos. Quarto Semestre da ADM - UFC Cariri

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