domingo, 13 de dezembro de 2009

Só crescimento não gera desenvolvimento

PROJETOS HISTÓRICOS NO CEARÁ

Obras ganham fôlego em 2010
13/12/2009

Projetos estruturantes como a usina de urânio de Itataia, a transposição e a CSP devem ganhar ritmo em 2010

O ano de 2009 termina abrindo espaço para novos 12 meses que prometem tirar do papel alguns dos projetos mais esperados e importantes do Ceará, que vêm povoando o imaginário do cearense desde muito tempo, na perspectiva da alavancada econômica do Estado.

É em 2010 que, enfim, começam a nascer a refinaria, a siderúrgica e a usina de urânio e fosfato de Itataia, os chamados projetos estruturantes. São empreendimentos de grande porte, que levarão ainda alguns anos para começarem a operar. Mas é no ano que vem que iniciam as suas obras, talvez apagando um pouco do ceticismo que acabou por ser instalado por aqui após fracasso de iniciativas anteriores.

Mas não é só isso. Se dessa vez o prazo for de fato cumprido, após 11 anos, o metrô de Fortaleza, o Metrofor, vai estar rodando, enfim, no fim do ano. A Transnordestina e a transposição do rio São Francisco, quiçá os dois projetos mais antigos para o desenvolvimento nordestino, avançam em suas obras em 2010. E não serão somente antigos anseios. Novos que foram surgindo e sendo prospectados ao longo dos últimos três anos, e que também prometem se tornar realidade em 2010, ou sendo inaugurados ou iniciando sua construção.

Neste pacote, surgem empreendimentos ainda na área de acessibilidade, como os metrôs do Cariri e de Sobral, e novas estradas que projetam tornar os principais destinos turísticos do Ceará cada vez mais competitivos.

As belezas naturais cearenses já vieram prontas, mas é o acesso a elas que garante o potencial delas na atração de turistas. Desta forma, além das estradas, o modal aéreo deve começar a ser reforçado.

SÉRGIO DE SOUSA
REPÓRTER

Fonte: Jornal Diário do Nordeste. Caderno Negócios. Fortaleza, 13 de dezembro de 2009.
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=705281


Profa. Suely Chacon

Crescimento econômico não significa, necessariamente, desenvolvimento. É o que ressalta a economista doutora em Desenvolvimento Sustentável Suely Chacon, coordenadora do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional Sustentável (Proder) e do Centro de Pesquisa e Pós-graduação do Semi-árido (CPPS), ambos do Campus da Universidade Federal do Ceará (UFC), no Cariri.

De acordo com ela, a elevação do Produto Interno Bruto (PIB) cearense com a entrada de todos os grandes projetos e novos investimentos no Estado, é importante para criar uma base econômica sólida para o Estado, mas não é suficiente para o pleno desenvolvimento.

Expansão constante

"Para analisarmos as possibilidades de desenvolvimento do Estado do Ceará, é preciso considerar o período dos últimos 20, pelo menos, e entender que o que surgirá no futuro é resultado de um processo histórico que ainda está se desenrolando", avalia Suely Chacon.

"O fato é que o Estado vem apresentando índices constantes de crescimento no seu PIB, muitas vezes superior aos índices do Brasil. No entanto, não podemos afirmar que isto foi suficiente para trazer o real desenvolvimento para nosso Estado. Se considerarmos as duas últimas décadas vemos o resultado de políticas públicas que levaram a uma concentração devastadora de recursos públicos na região metropolitana de Fortaleza, tendo como conse-quência a concentração de renda e de pessoas ali. E, naturalmente, o aumento dos investimentos privados também foi ali localizado. Isto causou sérios problemas ambientais e sociais na RMF. E no restante do Estado gerou a desmobilização da população e da produção. Isto prejudica o processo de desenvolvimento", ensina.

Descentralização

A economista analisa que já se percebe uma mudança nesse perfil, com uma descentralização dos investimentos, ainda que lenta e gradual, desde os últimos cinco anos.

"Este é o tipo de investimento que realmente traz desenvolvimento, porque atrai uma série de iniciativas privadas que fortalecem o mercado e oferecem à sociedade serviços antes exclusivos da Região Metropolitana de Fortaleza. As grandes obras de infraestrutura são, ao mesmo tempo, base e complemento desse processo, mas não teriam o efeito de desenvolver o Estado se não houvesse em paralelo esta valorização da população no sentido de prepará-la para participar do crescimento", diz.

Cariri

Chacon destaca a criação da Região Metropolitana do Cariri como o exemplo de que é possível levar o desenvolvimento para fora do entorno da Capital. "Desenvolvimento significa crescimento econômico como aliado de justiça social, cuidado com o meio ambiente e fortalecimento das instituições da sociedade", analisa a professora.

Mais investimentos

Na opinião da economista, o Estado ainda precisa reforçar seus investimentos em setores básicos para o desenvolvimento. "Acredito que o Ceará caminha nesse sentido, mas, além de todas as grandes obras que finalmente se concretizam, ainda precisamos de mais investimentos na educação, no saneamento, na saúde familiar, na preservação do meio ambiente e no combate à violência. Tudo isto passa também por programas de conscientização para a cidadania. As grandes obras não garantirão desenvolvimento se não houver o cuidado contínuo com as pessoas". (SS)

NOVOS EQUIPAMENTOS
Turismo concentra parte dos projetos

Com a inauguração do aeroporto de Aracati e o início dos trabalhos para a instalação do aeroporto de Jericoacoara e a ampliação do terminal aéreo internacional de Fortaleza, o Pinto Martins, percebe-se que é na área do turismo onde devem se concentrar boa parte desses novos projetos, que contará ainda com a criação de novos produtos, como a inauguração do Centro de Eventos, fortalecendo o segmento do turismo de negócios por aqui, e o Acquário Ceará, que iniciará suas obras.

Na área de infraestrutura, a ampliação do Porto do Pecém, com a conclusão do Terminal de Múltiplo Uso (TMUT) deverá criar as bases para a chegada da siderúrgica e da refinaria, liberando outros píeres para estas finalidades e ampliando o papel do Ceará como no comércio exterior (área onde ainda tem que crescer bastante, já que detém menos de 2% das exportações nacionais), consolidando também o Estado como um dos principais exportadores de frutas do País. A dragagem do Porto do Mucuripe também terá importante participação nisso.

E não se pode esquecer que é em 2010 que começam os preparativos para a Copa do Mundo de 2014, da qual Fortaleza será subsede. Terão início as obras de readequação do Castelão e do Estádio Presidente Vargas para os jogos. Mas a esta preparação, unem-se também muitos projetos que dotarão o Estado de uma melhor infraestrutura, e que não deve ser feita somente para o recebimento desse evento. O importará ao cearense, de fato, é o que fica de tudo isso.

Descentralização

De acordo com a economista Suely Chacon, o ponto mais relevante dos projetos que vão sendo postos em prática, dos governos federal e estadual, tem como principal importância a descentralização dos investimentos na região metropolitana de Fortaleza. "Uma série de investimentos públicos, especialmente do governo federal, começa a mudar o rumo das ações e tem gerado um movimento contrário no Ceará: finalmente o interior do Estado começa a ser valorizado. E isto acontece porque foi criado um mercado consumidor nesse espaço do nosso território, o que não existia antes. Isto sim é o grande fator de mudança no perfil do nosso Estado", analisa Chacon, que é doutora em Desenvolvimento Sustentável. "Todas as obras públicas previstas para serem concretizadas no próximo ano terão sim um efeito positivo no nosso desenvolvimento, mas de nada adiantariam se esse processo de descentralização não fosse fortalecido", completa. (SS)


Fonte: Diário do Nordeste - Caderno Negócios. Fortaleza, 13 de dezembro de 2009.
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=705296

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