domingo, 20 de dezembro de 2009

Indústria do Ceará invade a África

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Os industriais cearenses importarão amêndoa africana de caju, cuja safra é de 800 mil toneladas anuais. Para garantir seu mercado de amêndoa de caju na Europa e EUA, Ceará terá fábrica e escritório em Gana


Mexem-se os industriais beneficiadores e exportadores cearenses de castanha de caju. E o fazem na direção da África, onde sobra matéria-prima e falta indústria para agregar valor ao saboroso fruto da anarcadium occidentale, nome cientifico do cajueiro. A indústria do Ceará, que lidera no Brasil o beneficiamento e a exportação da amêndoa, está ameaçada pela do asiático Vietnam, que, em apenas 20 anos, se tornou o maior produtor e o maior exportador mundial de castanha de caju.

Qual é a estratégia? De acordo com o presidente do Sindicato da Indústria do Caju do Ceará, Antonio Lúcio Carneiro, a ideia é implantar, até o fim do primeiro semestre de 2010, em Acra, capital de Gana, uma planta industrial para processar 30 mil toneladas/ano de amêndoas. Antes disso, será instalado na capital ganesa um escritório comercial que comprará castanha dos países africanos produtores - Gana, Costa do Marfim e Nigéria. Essa castanha será exportada para o Ceará, onde será beneficiada e, em seguida, mandada de volta ao escritório de Acra, que a exportará para os clientes cearenses da Europa e dos Estados Unidos. Essa operação tem o nome de "draw back".

"Ao mesmo tempo em que processaremos 30 mil toneladas anuais de amêndoas em nossa fábrica de Gana, acessaremos um mercado produtor de 800 mil toneladas. A nossa operação em Gana terá, lá mesmo, os mínimos cuidados fitossanitários, garantindo a qualidade da matéria-prima que receberemos e processaremos aqui", faz questão de frisa Lúcio Carneiro.

Os números comparativos são frios e dão a exata medida do que vai acontecer com a cajucultura cearense, se algo não for feito logo. A produção de caju no Ceará, e no Nordeste como um todo, tem crescido a uma taxa média de 4% ao ano, sem embargo da fadiga da floresta de cajueiros, que só se acentua. Enquanto 100% da produção vietnamita de amêndoas de caju - que já passou das 330 mil toneladas anuais - originam-se do cajueiro anão, desenvolvido pioneiramente no Ceará pela Embrapa, 80% do que se produz aqui são colhidos de árvores antigas. Mais: no Vietnam, colhem-se 1.200 quilos de caju por hectare; no Ceará, essa produtividade não passa de 400 toneladas. Por isso, o Vietnam exporta hoje US$ 1 bilhão em amêndoa de caju.

Na opinião de Lúcio Carneiro, deveria repetir-se no Brasil a experiência do Vietnam, que é simples: o Estado vietnamita - de economia centralizada - concede todo o apoio à agricultura e à indústria do caju e o resultado é esse citado em números.

No Brasil, esse apoio é necessário, pois ambos os setores são empregadores intensivos de mão de obra. Um desses apoios seria a concessão de crédito de fácil acesso e de juro muito baixo para que o agricultor brasileiro possa substituir sua plantação antiga pela nova, a ser plantada com mudas de cajueiro anão desenvolvidas mais recentemente pela Embrapa Agricultura Tropical, com sede em Fortaleza. Outra sugestão dos industriais é a redução dos custos previdenciários que hoje pesam sobre as empresas da cadeia produtiva do caju. Carneiro lembra que o ministro Guido Mantega, concedeu incentivos fiscais à indústria moveleira do Rio Grande do Sul, que, tal como a de castanha de caju, exporta e dá emprego a muita gente. O setor pede ainda medidas contra as oscilações do câmbio.


Fonte: Diário do Nordeste - Caderno Negócios
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=708285

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