A Aliança Brasileira para a Extinção Zero elegeu 32 pontos no país prioritários para a conservação da biodiversidade. Esses locais são o último refúgio de 36 espécies ameaçadas de extinção e, se não forem devidamente protegidos, podemos perdê-las.
A sobrevivência do mico-leão-preto, por exemplo, depende majoritariamente do Parque Estadual Morro do Diabo, em São Paulo. E a população da temida jararaca-ilhoa, por sua vez, está concentrada na ilha de Queimada Grande, também em São Paulo. A espécie tem um dos venenos mais poderosos do mundo. Não foram incluídos no estudo os invertebrados.
Fazem parte da Aliança Brasileira para Extinção Zero 40 instituições - entre governo, como o Ministério do Meio Ambiente, e ONGs.
O levantamento aponta que a Mata Atlântica tem papel fundamental na proteção da fauna em risco no Brasil: 50% dos sítios estão neste bioma. Outros 35% aparecem no Cerrado. E o Sudeste concentra as áreas consideradas prioritárias: são seis em São Paulo, seis no Rio e cinco em Minas Gerais.
Um dos motivos para o acúmulo no Sudeste é o fato de haver muitas instituições de pesquisa estabelecidas na região, o que resulta em maior conhecimento sobre a biodiversidade local. "Mas se soma a isso o fato de o Sudeste brasileiro ser também a região mais industrializada do país, o que determina a pressão de ameaça sobre os ecossistemas", diz Gláucia Drummond, superintendente técnica da Fundação Biodiversitas. As espécies enfrentam inúmeras dificuldades: o desmatamento de seus hábitats naturais, a ocupação desordenada, a poluição, a mineração e a caça e a pesca predatórias.
Para Marcia Hirota, diretora de Gestão do Conhecimento da Fundação SOS Mata Atlântica, o levantamento chama a atenção para áreas que são realmente importantes para o país e para o mundo e deveriam nortear e subsidiar as políticas e planos de desenvolvimento.
"O Brasil deveria levar isso a sério, fazendo com que projetos e obras que estão surgindo nessas regiões considerem esse rico patrimônio e estudem outras opções de local para sua instalação", afirma Marcia.
Mike Parr, da American Bird Conservancy, lembra que o mapa foi apresentado justamente no Ano Internacional da Biodiversidade, decretado pelas Nações Unidas para chamar atenção para o problema da perda de espécies no mundo.
"O Brasil é um dos países com mais recursos biológicos da Terra. Essa iniciativa vai beneficiar não só o Brasil, mas o futuro bem-estar das pessoas em toda parte", opina.
Sem proteção. A primeira solução para evitar o extermínio das espécies mapeadas é proteger esses refúgios, criando Unidades de Conservação, como parques e reservas. Porém, dos 32 pontos estudados, 19 não possuem nenhum tipo de proteção.
Apenas 5 têm proteção integral e outras 8, proteção parcial (ou seja, somente uma parte do sítio está dentro de uma Unidade de Conservação).
"Ainda que a maior parte das nossas Unidades de Conservação tenha deficiências de implementação (os chamados parques de papel), elas fazem toda a diferença para a conservação da biodiversidade", diz Gláucia.
De acordo com ela, pesquisas que comparam os parques com seu entorno mostram "que mesmos aqueles que apresentam evidências de degradação apresentam melhores condições que as áreas vizinhas".
Marcia considera que todos os remanescentes de Mata Atlântica - bioma que já perdeu cerca de 93% de sua área original - deveriam ser protegidos pelo governo ou por proprietários privados - neste caso, por meio das Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs).
Renascida. Alvo da caça, a população da arara-azul-de-lear chegou a 67 indivíduos na natureza há cerca de 18 anos. Sua classificação de ameaça de extinção era "criticamente em perigo". Os caçadores retiravam filhotes de seus ninhos, em buracos e tocas dos paredões na região do Raso da Catarina, na Bahia.
Foi quando o governo criou um comitê para conservar a espécie e a Fundação Biodiversitas comprou 130 hectares para fazer a Estação Biológica de Canudos - e, assim, proteger os paredões usados pela ave.
O resultado foi positivo: o número de indivíduos passou para mil. E a espécie passou a ser classificada como "em perigo" - situação pouco melhor que o "criticamente em perigo" de antes. Ainda não é possível comemorar, já que a ameaça à arara-azul-de-lear é enorme. No entanto, a recuperação da espécie é animadora e demonstra que os esforços não foram inúteis.
Agora, Gláucia defende que a prioridade deve ser as espécies que vivem em locais sem proteção, fora de parques.
E chama a atenção também para a rã Physalaemus soaresi, de apenas 2 centímetros. Segundo ela, a espécie só pode ser vista em um lugar do planeta: na Floresta Nacional Mário Xavier, em Seropédica, no Rio. "O projeto do Arco Metropolitano, que faz parte do PAC, tem seu traçado projetado para o local onde a espécie vive. Desde que foi constatada a incompatibilidade de interesses, a obra está paralisada."
(Afra Balazina)
(O Estado de SP, 2/6)
FONTE: Jornal de Ciência - SBPC
Nenhum comentário:
Postar um comentário