A Culinária de Quixadá está sentindo os efeitos do São João que, este ano, traz as cores da Copa do Mundo
ALEX PIMENTEL
As quadrilhas juninas são responsáveis pelo belo espetáculos nesta época do ano. Mas, além da dança, os nordestinos também não deixam de apreciar as comidas típicas
MELQUÍADES JÚNIOR
No mês de junho, não só o Ceará, mas todo o Nordeste, se movimenta em torno das tradicionais festas juninas
Limoeiro do Norte. Enquanto a fogueira está queimando para celebrar os santos populares Antônio, Pedro e João, a cadeia produtiva dos festejos juninos gira feito a própria ciranda dos brincantes. Em pelo menos três meses do ano, do sapateiro ao sanfoneiro, da costureira à cozinheira, pequenos e médios empreendedores contentam-se com um dos melhores períodos do ano no Nordeste: as festas juninas. A brincadeira tradicional, num contraponto à origem medieval desses festejos, passa de consequência para causa da colheita de bons frutos na economia sazonal.
É com uma costureira de mão cheia, alguns metros de tecido e pelo menos três dias de dedicação que se faz um vestido de chita. O trabalho de profissionais como Maria Sirley e Neilza Oliveira começa cedo para atender à demanda. Para as competições de quadrilhas juninas, tudo começa bem antes da dança, e o figurino, desenhado pelos organizadores, deve ser seguido à risca, e entregue pelo menos até a última noite do ensaio geral, para os últimos retoques na dança - e na roupa.
Quem organiza quadrilha já tem desde cedo o calendário das competições nos diversos municípios do Interior. As mais concorridas são aquelas que classificam para o Ceará Junino, reunindo os melhores grupos. Quem faz e vende bolo de milho, macaxeira, aluá, vatapá, pamonha, pé-de-moleque, grude, bulim, fogosa e "quebra-queixo" também acompanha os dias de festa, pois festa junina que se preze tem quermesse. E um dia alguém incluirá no cardápio de comidas "típicas" os espetos de carne. A venda informal do produto se prolifera, casando com farofa e vinagrete. Churrasqueira já é ponto certo nas barracas.
E pelo menos nos meses de junho e julho não falta trabalho para sanfoneiro - nem os tocadores de triângulo e zabumba. Ainda é o formato regional que faz a festa, literalmente. As noites no arraial das comunidades, sanfoneiros, como Cristalino Brandão, garantem o de "ralar o bucho" e de farrear, porque "ninguém é de ferro", diz o instrumentista, homenageado no último Festival dos Sanfoneiros de Limoeiro.
O forró pé-de-serra, que não mudou nada, "só o repertório", foi na banda Eu e Nóis Aki. "Tocamos o forró original, não é esses de hoje em dia que não tem sentido nenhum", diz José Airton, líder da banda e pai de todos os integrantes: a filha Leila no vocal, o filho Adailson na zambumba e outro Ailton, tocando baixo e cantando. O grupo regional é um dos mais conhecidos da região jaguaribana. Um show custa em média R$ 700,00, e no mês de junho, até o fim do ano, desembestam a tocar, mesmo acreditando que em anos anteriores tocaram mais nas festas juninas.
O grupo de quadrilha Cheiro do Sertão, da comunidade de Quixaba, em Limoeiro, venceu o último Limoeiro Junino e os brincantes dão graças a Deus que os R$ 3 mil de prêmio vai todo para pagar o transporte, que até agosto pode chegar ao custo de R$ 15 mil, valor de 2009. Toda temporada de festival rodam milhares de quilômetros pelos municípios do Estado à procura de vitórias, troféus e, com isso, dinheiro para os gastos. O figurino do grupo, incluindo os arranjos, rende às costureiras e aos calçadistas da cidade cerca de R$ 18 mil. E é apenas uma dentre centenas de quadrilhas espalhadas pelos 184 municípios do Ceará.
O edital da Secretaria da Cultura do Estado (Secult) disponibiliza R$ 900 mil para 58 projetos inseridos no eixo das festas juninas. A maior parte desse dinheiro é revertida para os pequenos empreendedores das cidades: costureiras, sanfoneiros, sapateiros e cozinheiras. Não dançam, mas também colhem os frutos dos festejos juninos.
É na base da rifa, do "sorteia-se entre amigos" e desconhecidos. Construir o capital que impulsiona s festejos juninos não é fácil, mas, quando os grupos de quadrilha correm atrás de dinheiro para cobrir os gastos, geram emprego e renda para centenas de profissionais espalhados no Estado. Segundo o Sebrae, o período junino é o melhor do ano, depois do Natal, para os Arranjos Produtivos Locais (APL) dos setores coureiro-calçadista e confeccionista nas cidades do Interior.
Nas quermesses, as próprias famílias dançam, produzem roupas, comidas e gritam "viva", para Santo Antônio, São Pedro e São João.
Melquíades Júnior
Colaborador
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Santo Antônio: Nasceu em Portugal, onde era costume as festas terem nomes dos santos. É festejado no dia 13 de junho. Filho de família de posses, abdicou da riqueza e ingressou na ordem dos franciscanos. Como é considerado o santo casamenteiro, são comuns as simpatias para mulheres solteiras que querem se casar.
São João: Comemorado no dia 24 de junho, é considerado o Santo Protetor. Segundo a Bíblia, sua mãe, Isabel, era prima de Maria, mãe de Jesus. No dia de seu nascimento, 24 de junho, Isabel teria mandado erguer um mastro iluminando-o com fogueira para que sua prima, Maria, vendo aquele sinal, saber que seu bebê havia nascido.
São Pedro: Considerado o santo das viúvas e dos pescadores, ele próprio foi um pescador. São Pedro tem também, segundo a tradição, a chave do Céu. Encarregado de fundar a Igreja Católica. No dia do santo, 29 de junho, quem recebeu seu nome deve acender uma fogueira na porta de casa.
MAIS INFORMAÇÕES
Secretaria da Cultura do Estado (Secult)
Sebrae: www.sebrae.com.br
DELÍCIAS SERTANEJAS
Comidas típicas incrementam data
Quixadá. Divididos entre a contemplação da tradição sertaneja e a maior paixão profana nacional, o futebol. Os efeitos econômicos nos festejos juninos deste ano são atípicos em todos os cantos do Sertão Central. Enquanto os comerciantes de confecções lamentam a queda nas vendas, superior a 30% - ao invés das estampas e dos enfeites multicores, o verde e o amarelo predominam nas ruas, nos lares e no coração sertanejo -, quem se dedica ao setor de alimentos não tem o que reclamar.
O empresário Gilberto Oliveira, proprietário da Diskpão, aproveita a época para incluir o bolo de milho, de batata, pé-de-moleque, tapioca, a pamonha e o mugunzá na lista de ofertas da sua panificadora. Para atrair e agradar a clientela, ele chega a contratar até bandinha de forró pé-de-serra. Para ele, o segredo está no tempero e na adaptação ao clima de Copa. "Período de vendas tão bom assim, só no Natal", comemora.
Quem festeja também são os sanfoneiros. Francisco Montenegro, o Chico Galvino, como é mais conhecido, diz ser a melhor época do ano para ele e o parceiro cantador Fernando Pereira. O filho, zabumbeiro, Mairton, acompanha o grupo. Podia ser melhor. Eles confessam que os jogos estão atrapalhando um pouco. Mas nos intervalos, entre uma partida e outra, não falta loja e nem terreiro para o toque do fole no arrasta-pé. Vez por outra são atração na Diskpão. A bandinha recebe em média R$ 300,00 por apresentação. Estão satisfeitos.
Agenda lotada
Na cidade vizinha, Quixeramobim, não é diferente. Os irmãos Dedé Paulo e Sebastião Paulo estão com agenda lotada até o fim do mês. Outro mestre da sanfona, Luiz Gonzaga, o Nonô, confirma a boa época. A coincidência com o Rei do Baião não é só no nome. É reconhecido pelo afino com o fole. Por conta do dote artístico recebe até R$ 1 mil por apresentação. Convite não falta para tocar. Segundo ele, o lucro não é maior porque para os amigos não pode faltar. Afinal, amizade não se cobra. Além do talento, para ter sucesso numa época como esta, basta entrar no espírito da Copa. Afinal, só acontece de quatro em quatro anos.
Para o secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo de Quixadá, Nascimento Marques, as festas juninas impulsionam a economia regional. Ele atribui o aquecimento ao Pula Fogueira, realizado há 14 anos.
Na última edição, encerrada no último dia 12, foram investidos R$ 280 mil nos quatro dias de festa. Pelos cálculos dele participaram aproximadamente 200 mil pessoas. O número de turistas chegou a três mil. A Praça José de Barros e os hotéis lotaram. Bares e restaurantes tiveram acentuado movimento. Além das quadrilhas juninas, grandes bandas de forró atraíram o público.
Para o prefeito de Quixeramobim, Edmilson Júnior, as duas cidades podem lucrar muito mais se houver sincronia entre as festividades do Pula Fogueira e do Chitão de Santo Antônio, na sua cidade. Atualmente, as quatro noites de festividades em Quixadá coincidem com o encerramento das homenagens ao padroeiro de sua terra natal, realizadas há décadas.
Com a antecipação ou adiamento do festival de quadrilhas em Quixadá, haverá mega aquecimento nas duas cidades, estima. Edmilson Júnior pretende levar a proposta ao prefeito vizinho, Rômulo Carneiro.
MAIS INFORMAÇÕES
Prefeitura de Quixadá
(88) 3412.3864
Prefeitura de Quixeramobim
(88) 3441.1326
Alex Pimentel
Colaborador
Fonte: Diário do Nordeste - Caderno Regional
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