terça-feira, 21 de julho de 2009

Uma longa história de promessas descumpridas para os países pobres

A. Bolaños
Em L'Aquila (Itália)

A necessidade de elevar o valor das ajudas públicas para os países pobres, especialmente os da África, é um assunto recorrente nas cúpulas do G8. E também um dos que geram mais frustração. Os acordos para investir mais dinheiro em programas internacionais contra a fome são saudados com toda a prosopopéia de que os chefes de Estado são capazes, que é muita. Pouco depois se comprova que o prometido fica em muito menos e o clube dos países mais ricos volta a perder credibilidade. "Para nós, o importante é que o G8 esteja à altura de seus compromissos", comentou o primeiro-ministro da Etiópia, Meles Zenawi, depois da aprovação do novo fundo de ajuda aos agricultores pobres, dotado de US$ 20 bilhões.

O profundo ceticismo africano pode escolher entre um amplo leque de descumprimentos do G8 para se justificar. O resultado do acordo final da cúpula de Gleneagles (Escócia), que foi recebido com grande entusiasmo em 2005, é o mais desanimador. Os sete países mais ricos (a Rússia ainda não havia entrado formalmente no clube) se comprometeram a elevar em US$ 21,5 bilhões sua contribuição anual à ajuda ao desenvolvimento da África até 2010, quase o dobro do que investiam então. Em 2008 haviam somado apenas US$ 7 bilhões, segundo um recente relatório da ONG britânica One e o painel para o progresso da África, liderado por Kofi Annan, ex-secretário-geral da ONU.

A enorme defasagem com a maior promessa do G-7 aos países africanos se deve à baixa contribuição de seus membros europeus e sobretudo da França e Itália, muito longe de cumprir seus compromissos. Oliver Buston, diretor europeu da One, aprovou o novo compromisso alcançado na sexta-feira em L'Aquila, mas, escaldado, não se animou muito. "Os governos devem demonstrar que esse é dinheiro novo", disse em referência à possibilidade de que sejam recicladas as parcelas já anunciadas.

A contabilidade criativa entre os governos quando divulgam grandes programas de ajuda ao desenvolvimento é muito extensa. Na véspera da cúpula, a diretora geral da Intermon Oxfam, Ariane Arpa, reduziu para US$ 1 bilhão os US$ 12 bilhões que o G8 afirmava já ter gasto este ano em ajuda ao desenvolvimento.

E enterrado no último parágrafo de um comunicado a agência alimentar da ONU (FAO) lembrou que só se havia arrecadado um quarto dos 6,4 bilhões de euros previstos em donativos. Reforçar o programa mundial de alimentos da FAO foi a promessa da cúpula anterior do G8, realizada no ano passado na cidade japonesa de Toyako.

A maneira mais transparente e eficaz de seguir o grau de cumprimento das promessas do G8 seria que o próprio organismo dedicasse recursos para avaliar seus compromissos, uma iniciativa que o Reino Unido patrocinou na já finalizada cúpula de L'Aquila sem nenhum resultado concreto.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Fonte: Jornal El Pais, 11/07/2009.
http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/elpais/2009/07/11/ult581u3359.jhtm

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