terça-feira, 28 de julho de 2009

ÁREA URBANA - 48% de Fortaleza não têm acesso à rede de esgoto


Na Lagoa da Zeza, rede de esgotamento sanitário ainda é um benefício restrito a uma minoria. Comunidade ainda convive com esgotos a céu aberto e muita sujeira (Foto: Thiago Gaspar)


Apesar de quase metade da população não ter esgoto, Capital é a segunda com maior cobertura no Nordeste

Embora a cobertura da rede de esgoto tenha sido ampliada nos último anos em Fortaleza, ainda é comum percorrer a cidade e se deparar, em áreas nobres e na periferia, com esgoto a céu aberto. Isso porque o serviço abrange, hoje, 51,68% da área urbana da Capital. Em 2004, o índice era de 48,60%. Mesmo parecendo um crescimento tímido, Fortaleza é a segunda Capital nordestina em abrangência do setor.

A idéia é que, em 2011, o índice salte para 75%. Para muitos, isso ainda é uma realidade distante. Resta a essas pessoas conviver com a sarjeta, doenças e falta de perspectiva na porta de casa. Segundo levantamento da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), de 2004 para cá, a cobertura tem aumentado cerca de 1% ao ano, em Fortaleza, sendo que de 2005 para 2006 houve um pequeno decréscimo, de 49,24% para 49,19%. No Ceará, a ampliação é mais lenta. Em 2004, era de 33,70%. Já em 2008, cresceu para 35,14%.

Embora os números não demonstrem uma margem grande de diferença, a ampliação é “substancial”, se considerado o aumento das residências que agora têm rede de esgoto passando na frente delas e beneficiadas com o serviço. A avaliação é do diretor de operações da Cagece, André Facó.

Isso porque, na opinião do diretor, trata-se de melhoria da qualidade de vida, de comunidades e até bairros que deixaram de ter água correndo pela sarjeta na porta das casas. O que precisa, na opinião dele, é as pessoas se conscientizarem de que o sistema interfere sobremaneira na saúde.

“Nos locais que não dispõem da rede, o ambiente é insalubre. O dado de 51% ainda é baixo, por isso precisamos avançar mais”, analisa. Mesmo assim, Fortaleza tem a segunda melhor cobertura do Nordeste, ficando atrás apenas de Salvador, onde o índice é de 80%. Depois de Fortaleza está Recife, com 49%, e Natal (42%).

Priorizar esse tipo de serviço é algo relativamente novo, o que justifica a ampliação da cobertura de abastecimento de água ser bem maior.

Em Fortaleza, esse serviço tem 97,62% de cobertura, enquanto no Ceará a taxa é de 97%. Nos últimos cinco anos, o índice tem se mantido nessa faixa, tanto na Capital (97%) como no Estado (96% em média). Como informa André Facó, há outro aspecto. O custo de implantação da rede de esgoto é três vezes maior do que o de instalação de água.

De 2007 para cá, a Cagece está beneficiando diretamente mais 500 mil pessoas com rede de esgoto. Na primeira etapa das obras de esgoto, concluída em 2008, foram 79.700 moradores em Fortaleza, com R$ 34.994.887,38. Um total de 14 bairros tiveram obras concluídas na zona norte da Capital.

Atualmente, há obras do tipo em 17 bairros da cidade, o que deve atender a 190 mil habitantes, com investimento de R$ 79.789.206,65. Os recursos são do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Melhorias

Nesses 17 bairros, estão sendo assentados 273.165 metros de rede e instaladas 46.191 ligações, com previsão de término em novembro de 2010. Além disso, seis licitações foram finalizadas, com orçamento previsto de R$ 135,5 milhões e previsão de atendimento de 235 mil pessoas em 21 bairros das zonas oeste e leste. Quatro contratos já foram assinados. Sobre a Lagoa da Zeza, no Luciano Cavalcante, há rede de esgotamento sanitário em parte da comunidade. Segundo a Cagece, o trecho da Avenida Rogaciano Leite também será contemplado pelo sistema.

IMPACTOS SOCIAIS - Pesquisa gera incoerências

Pesquisa realizada em 2008 revela que a cobertura da rede de esgoto em Fortaleza é de 54,6%, o que tornaria a cidade a nona Capital brasileira em eficiência do sistema e a segunda no Nordeste, ficando atrás apenas de Salvador. O índice não corresponde com os dados da Cagece porque, segundo a empresa local, a coleta de informações pela organização não-governamental (ONG) Trata Brasil, em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), é construída conforme a percepção pessoal dos usuários da rede.

A despeito das diferenças, a pesquisa foi relançada neste mês com outra abordagem, voltando-se para o serviço nas 12 capitais que sediarão jogos da Copa do Mundo de 2014. Como explica a assessoria de imprensa da Cagece, os dados da ONG e da Fundação se baseiam na Pesquisa Nacional de Amostragem por Domicílio (PNad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A base do trabalho é perguntar aos moradores se suas residências têm rede de esgotamento sanitário, como é.

Assim, como nem todos os entrevistados entendem como funciona o sistema, o resultado da pesquisa “Impactos Sociais da Falta de Saneamento nas Maiores Cidades Brasileiras” gera incoerências. De todo modo, o economista da FGV Marcelo Neri, coordenador do trabalho, afirma que o estudo aponta avanços em saneamento básico. A pesquisa mostra que, entre as 27 capitais brasileiras, Fortaleza é a 11ª em coleta de esgoto nas escolas, com 74,07%. Na Região Nordeste, saem-se melhor nesse item Salvador e Aracaju. No País, o estudo mostra que a cidade líder no serviço é Belo Horizonte, com taxa total de 97,05%.

Marta Bruno
Repórter

Fonte: Jornal Diário do Nordeste - Caderno Cidade. Fortaleza, 28 de julho de 2009.
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=657872

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