domingo, 19 de julho de 2009

Meio urbano ainda tem sido prioridade

As diferenças que ainda persistem entre as macrorregiões do Ceará podem ser atribuídas à prioridade dada a investimentos em atividades diretamente ligadas ao meio urbano, conforme delineado pelas políticas públicas adotadas pelo governo estadual nos últimos 25 anos. É o que defende a economista Suely Chacon, doutora em Desenvolvimento Sustentável e coordenadora do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional Sustentável (Proder) e do Centro de Pesquisa e Pós-graduação do Semi-árido (CPPS), ambos do Campus da Universidade Federal do Ceará (UFC), no Cariri. ´Isto promoveu um movimento contínuo de desmobilização do território rural do Estado´, chama a atenção a economista, ao reportar-se à concentração de renda e de investimentos na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF).

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Para Suely Chacon, desequilíbrio tem causado enormes transtornos para o Interior e para a RMF (Foto: Gustavo Pelizzon)

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De fato, explica Carlos Américo Leite Moreira, doutor em economia e também professor da UFC, o problema da concentração das atividades econômicas na RMF parece ser um mecanismo cumulativo e inerente ao funcionamento do mercado. ´Os fenômenos de inversão de diferencial de custos devidos notadamente à automatização dos processos de produção, às restrições de flexibilidade da produção e à proximidade entre a produção e o mercado limitam as operações de implantação de firmas em direção aos espaços periféricos´, afirma.

Segundo ele, a exclusão dos territórios mais vulneráveis tem inviabilizado, dessa forma, o desenvolvimento de vantagens competitivas nas demais regiões do Estado. ´O contraste torna-se evidente entre as macrorregiões que possuem cidades de médio e grande porte dinâmicas — Fortaleza, Sobral e Juazeiro do Norte — e as demais áreas com forte regressão de emprego e de população´, justifica Moreira. Entretanto, vale mencionar, emenda o economista, que o dinamismo econômico dessas cidades não implica necessariamente em fortes efeitos de irradiação nas suas respectivas macrorregiões. ´Ou seja, o número de empregos formais é bastante concentrado nas principais cidades de cada macrorregião´.

Na avaliação de Suely Chacon, esse desequilíbrio tem causado, inclusive, enormes transtornos não só para o Interior, mas também para a RMF. De acordo com ela, as desigualdades regionais geradas no âmbito do território cearense só agravam a própria inserção do Estado na dinâmica nacional de desenvolvimento.

´A ênfase na urbanização se reforça tanto no Interior como na RMF, com maior dinamicidade, depois da Capital, no Cariri/Centro-Sul e em Sobral/Ibiapaba. Essas áreas demonstram também os impactos das políticas de incentivos públicos que direcionou recursos prioritariamente para a industrialização e para o meio urbano´, afirma.

http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=655621

DESEQUILÍBRIO SETORIAL

Serviço puxa riqueza gerada

O perfil básico das macrorregiões do Estado evidencia ainda o desequilíbrio setorial da economia, a partir da composição do Produto Interno Bruto (PIB) estadual. Conforme observa a economista Suely Chacon, com um PIB calculado em mais de R$ 45 bilhões em 2007, o Ceará também possui a segunda maior economia da região Nordeste. Entretanto, com fortes atrativos turísticos — contando com mais de dois milhões de visitantes por ano —, o setor de serviços é o que compreende a maior parte da riqueza gerada: 70,91%. O setor industrial gera outros 23,07% da riqueza e a agropecuária apenas 6,02%.

Segundo Suely Chacon, a tendência de que o PIB seja gerado em sua maior parte pelo setor de serviços é universal, pois as economias, à medida em que crescem, tendem a geram mais renda e empregos nesse setor. ´No caso do Ceará, temos explicações diferentes para o crescimento dos serviços. O litoral tem um forte movimento turístico e a RMF concentra os profissionais autônomos e uma maior rede de prestação de variados serviços. Já na grande parte do Interior do Estado, o setor terciário é reforçado pela participação dos serviços públicos. Em alguns municípios, as transferências governamentais e os empregos públicos chegam a garantir mais de 80% da geração de renda´, fala.

Esse dado é importante, continua a economista, pois denota a necessidade urgente da criação de condições reais para o estabelecimento de atividades produtivas nesse espaço do território cearense. Até porque, detalhando mais análise, observa-se também que existe um desequilíbrio na distribuição espacial de cada setor em específico da economia, sobretudo no que tange à indústria.

´Se analisarmos os maiores percentuais do setor secundário (indústrias) vê-se nitidamente a concentração no litoral e no Norte do Estado. Mesmo a região do Cariri não atinge o percentual de 20%, o que é corroborado pelos dados de arrecadação, por exemplo, do Imposto sobre Produtos Industriais (IPI). Depois da RMF, a maior arrecadação ocorre na região do Litoral Leste (13,79%)´, aponta Chacon.

Se diferença entre o PIB gerado pela RMF e o PIB gerado pelas demais regiões é imensa, chama atenção a economista, o quadro piora quando se observa a arrecadação do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e do IPI. ´A RMF gera quase 94% do primeiro e mais de 81% do segundo. A segunda maior região em arrecadação do ICMS, Sobral, contribui com apenas 2,69%. E a participação das demais regiões é irrisória´, concluí.

Porém, destaca Chacon, embora macrorregiões como Cariri/Centro-Sul e Sobral/Ibiapaba tenham experimentado certo crescimento, a dificuldade em descentralizar o processo ainda é muito forte.

http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=655620


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