segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Economia Mundial - América Latina x China

22/11/2010 -

Economia da América Latina tropeça com a China

Financial Times
John Paul Rathbone, editor de América Latina





  • Economia dos países da América Latina está fortemente atrelada ao que acontece hoje na China
    Economia dos países da América Latina está fortemente atrelada ao que acontece hoje na China
Será que está na hora de revisitar a ideia de que os mercados emergentes se dissociam? Talvez, pelo menos na América Latina.
A velha máxima dos investimentos dizia que quando os EUA pegavam uma gripe, a América Latina era derrubada por uma pneumonia. O fato de a região ter saído praticamente incólume da crise financeira mostra que isso não é mais verdade – mas só porque a América Latina se associou à China, por meio dos crescentes laços de comércio e commodities com a Ásia.
Durante a semana passada, por exemplo, não foi a economia norte-americana cambaleante que fez com que os mercados latino-americanos tropeçassem.
Em vez disso, foi a perspectiva de aumento das taxas de juros chinesas, combinadas com as preocupações com a eurozona, que fizeram com que as ações latino-americanas caíssem em oito sessões seguidas. O rendimento dos títulos aumentou e as moedas caíram à medida que os investidores tiravam dinheiro da região.
Poucos acreditam, entretanto, que isso significa o início de uma grande derrocada da América Latina.
Mesmo que o crescimento econômico da China desacelere, a demanda mundial por commodities continua forte e a política monetária extremamente flexível dos EUA parece que será duradoura.
O Fundo Monetário Internacional estima que a economia de US$ 5 trilhões da América Latina crescerá 6% em 2010, e mais de 4% por ano até 2015.
“Ainda achamos que o cenário de longo prazo para a América Latina parece benigno”, diz John Lomax, chefe de estratégias para o mergado global emergente do HSBC. “A queda recente se deu apenas devido ao reposicionamento dos investidores.”
Com certeza, a correção recente soprou parte das bolhas dessa subida astronômica. Este ano, os mercados de ações do Chile, Peru e Colômbia cresceram cerca de 40% cada um, em dólares, e o do México cresceu 18%. O único retardatário foi o suposto “queridinho” do mercado, o Brasil, que subiu apenas 3%.
Os títulos também se recuperaram e os empréstimos cresceram rapidamente. As corporações venderam um recorde de US$ 40 bilhões de títulos este ano, de acordo com a Dealogic, e estruturas cada vez mais exóticas se tornaram comuns, como vários títulos estrangeiros denominados em moeda brasileira.
Ao mesmo tempo, o aumento das taxas de juros locais atraíram o capital internacional flutuante, fortalecendo as moedas em níveis que ameaçam a competitividade das companhias da região.
Desde o início de 2009, o peso chileno e o real subiram mais de 30% em relação ao dólar. Esses ganhos fizeram com que Brasília impusesse uma taxa de 6% sobre os compradores estrangeiros de títulos. “Uma das maiores preocupações dos investidores em ações nos mercados emergentes é que o Brasil estenda essa taxa também para as aplicações em Bolsa”, diz Lomax.
Na quarta-feira, Agustin Carstens, chefe do banco central mexicano, foi o último a alertar sobre os efeitos de bolha causados pela “facilitação quantitativa” dos EUA. De acordo com o Banco Mundial, o fluxo de capital na América Latina está 15% mais alto este ano do que em 2007, no pico da explosão do crédito.
Esses fluxos de capital “carregam consigo o risco de prejudicar o crescimento a longo prazo, através da supervalorização da moeda, ou de produzir excessos financeiros em casa”, diz Augusto de la Torre, economista-chefe do Banco Mundial para a América Latina e Caribe.
Se a última correção reduzir um pouco o entusiasmo, isso pode até ser uma coisa boa. Além disso, o susto chinês pode oferecer pontos de reentrada atraentes para os investidores. A questão, entretanto, é aonde e em quê?
“O problema é que depois de um ano bom, nada mais parece tão barato”, diz Kieran Curtis, gerente de fundos de mercados emergentes na Aviva investidores. As ações continuam acima de sua média dos últimos cinco anos levando em conta a relação entre preço e rendimento, de acordo com a Capital Economics. Mas, com exceção da Colômbia e Peru, estes números ainda estão abaixo dos picos do mercado.
O Brasil parece atraente, com a Bovespa operando rendimentos 12 vezes maiores em 2010. Entretanto, apostar na Bovespa é apostar em commodities, uma vez que os grupos de recursos naturais compõem metade do índice. Enquanto isso, outros setores, como o de bens básicos de consumo, parecem bem cotados. “Nós preferimos o México”, diz Lomax.
Em relação às moedas, “o câmbio da América Latina continua indo bem, desde que a política monetária continue flexível no Ocidente”, diz Maarten-Jan Bakkum, gerente de fundos do ING Investment Management.
Entretanto, o real brasileiro está 32% acima de sua média comercial dos últimos 15 anos, o que sugere que ganhos futuros são improváveis. O peso mexicano, por outro lado, está 7% abaixo de sua média de longo prazo, o sol peruano está alinhado e o Chile está apenas 7% acima.
“O problema são os controles de capital, mas acho que isso é improvável no Peru, Colômbia e Chile, embora o Brasil possa fazer mais”, diz Bakkum.
Por fim, há a renda fixa. Os céticos apontam que os títulos emergentes estão sendo comercializados, em conjunto, a apenas 250 pontos base acima dos do tesouro norte-americano, perto de sua baixa recorde de 2007.
Mas as baixas taxas de juros do ocidente tornam difícil vislumbrar uma liquidação de títulos, uma vez que, por exemplo, títulos de investimento em peso mexicano de longo prazo rendem 7,5%.
“O problema para todos os investidores em títulos é que ninguém mais sabe o que deve ser aceito como padrão. Pode ser que não sejam mais os títulos do tesouro norte-americano, mas se os rendimentos de dez anos aumentarem um ponto percentual em uma semana, isso levará à reavaliação das outras posições”, diz Curtis.
“Ainda assim, se os títulos de dez anos dos EUA ficarem onde estão agora, abaixo dos 3%, será provavelmente uma boa oportunidade de compra.”
Tradução: Eloise De Vylder

Nenhum comentário:

Postar um comentário