SÃO PAULO - Dado o ritmo lento da recuperação econômica dos EUA, com a elevada taxa de desemprego e a ameaça deflacionária, o Federal Reserve resolveu, na reunião da última quarta-feira (3), adotar um novo programa de compra de títulos para tentar dar fôlego à economia norte-americana e impulsionar as expectativas de inflação.
O pacote anunciado pela autoridade monetária soma US$ 600 bilhões - cerca de US$ 75 bilhões mensais até o segundo trimestre de 2011 - para compra de Treasuries de longo prazo, em linha com as expectativas reveladas nas últimas semanas, que já antecipavam uma nova rodada de medidas de flexibilização quantitativa - o já apelidado QE2.
Mesmo antes da decisão do banco central norte-americano se tornar pública, a adoção do programa já era apontada por analistas como o principal evento a ser acompanhado pelos investidores neste fim de ano, devendo ditar os rumos dos mercados nos meses a seguir. "A injeção de recursos na economia americana por parte do Fed tem como consequência imediata a desvalorização do dólar frente às demais moedas", dispara Débora Agonilha, da HSBC Corretora.
"Os efeitos gerais de uma inflação induzida por medidas governamentais são desconhecidos", alerta, por sua vez, Oswaldo Alcântara Telles Filho, da Banif Securites. Mas, frente ao nó insolúvel da recessão, Ben Bernanke preferiu usar a injeção de dólares - resta saber o que sua decisão acarreta para o Brasil.
Guerra cambial
Em um primeiro momento, a enxurrada de dólares promovida pelo Federal Reserve vai de encontro com o cenário de desvalorização da moeda chinesa. O gigante asiático vem fazendo uso da manipulação cambial para subsidiar suas exportações, conferindo-lhes competitividade artificial, conforme atesta a equipe de análise da Coinvalores.
A corretora destaca o parecer exposto pelos países da cúpula do G-20, que reconheceram que uma desvalorização coletiva das moedas é um "jogo de perde-perde". "Porém, nenhum país se propôs a tomar medidas concretas para evitar a corrida para desvalorização", destaca a Coin.
Com isso, a inundação de liquidez vem bater na nossa porta. Para proteger a economia nacional dos efeitos nocivos de uma valorização excessiva do real, o governo já adotou um aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) para aplicações estrangeiras em renda fixa e nas margens de garantias dos investimentos no mercado futuro.
"Em relação ao câmbio , há a possibilidade da adoção de mais medidas para conter a valorização do real, que devem ser adotadas após as eleições, sendo que as possibilidades são de mais aumentos de IOF, oferta de swaps cambiais reversos por parte do Banco Central, ou mesmo uma entrada do fundo soberano comprando dólares no mercado", aponta Mônica Araújo, da Ativa Corretora.
Perspectiva
Mantidos os parâmetros, a bolsa paulista deve apresentar viés positivo em novembro, ainda por conta dos fundamentos macroeconômicos do País. A Coinvalores não deixa de chamar atenção para os resultados corporativos, com as empresas com atividades voltadas ao mercado interno, sobretudo aquelas ligadas ao consumo, criando mais valor a seus acionistas.
Contudo, o quadro de desequilíbrio cambial ainda pode balançar os mercados, imprimindo volatilidade na dinâmica dos negócios. "O que mais preocupa neste cenário de alta para o mercado de equity são as novas medidas a serem adotadas para a contenção da apreciação do Real frente ao dólar", avalia a analista da Ativa, que destaca o atraso do Brasil em relação aos outros emergentes em termos de performance.
"Faltam ainda dois meses para o fechamento do ano e, considerando a dinâmica doméstica favorável e uma estabilidade no preço das commodities no cenário internacional, é possível recuperarmos parte do atraso frente a outros mercados", aponta Mônica Araújo, pedindo atenção para o setor em novembro, em especial para a Petrobras (PETR3, PETR4), que, passada a turbulência de sua capitalização, ensaia uma volta às carteiras recomendadas.
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