Não se pode dizer que a crise financeira mundial não teve efeitos sobre a economia cearense, mas os dados do Produto Interno Bruto (PIB) trimestral do Estado, apresentados ontem, mostram que as turbulências foram bem menos agressivas por aqui do que com o País como um todo. Resultado: enquanto que o Brasil sofreu queda de 1,5% em seu PIB nos três primeiros meses de 2008 sobre igual período do ano passado, no Ceará, em mesmo intervalo, observou-se alta de 3,75%. Se considerados os dados incluindo os impostos, o incremento na economia cearense ficou em 3,08%, ao passo que, no Brasil, houve uma queda de 1,8%.
A explicação para comportamentos tão diversos está na diferença da composição dos setores econômicos no Estado e no País, segundo explica a atual titular do Instituto de Pesquisa Estratégica e Econômica do Ceará (Ipece), Eveline Barbosa. ´A indústria foi a mais afetada no Brasil, e foi ela que puxou o PIB pra baixo. Aqui, a nossa indústria é mais voltada para o consumo e menos intensiva de capital´, justifica. ´A nossa indústria mais sofisticada é de alimentos, e o consumo se manteve´, complementa.
Mesmo assim, a indústria cearense não deslanchou no primeiro trimestre. Com a queda de 4,8% na indústria de transformação, o resultado total apontou um incremento de apenas 0,3%, puxado, principalmente, pela alta de 5,4% da construção civil. No País, a queda do PIB do setor chegou a 9,3%, com todos os segmentos da atividade em recessão.
Contudo, ainda que os resultados da indústria cearense — que representa 23% do PIB estadual — tenham ficado estáveis, nenhum dos setores da economia local tiveram decréscimo. Os serviços, que respondem por 69% de toda a riqueza produzida no Ceará, mostraram uma alta de 5,0% e a agropecuária, esta com participação de apenas 7% do PIB cearense, cresceu 3,74%.
Força dos serviços
´A natureza da economia de nosso Estado está nos serviços´, afirma a economista do Ipece, Eloísa Bezerra. Dentro do setor, o destaque foi para o comércio, que cresceu 9,7% no primeiro trimestre sobre o mesmo intervalo de 2008. ´O comércio funciona como um termômetro para a nossa economia. E o Ceará obteve o quarto maior consumo do comércio varejista no País neste período´, informa Eloísa.
O turismo contribuiu para os resultados positivos da economia cearense. Em meio à crise, e com o dólar ainda em forte cotação perante o real, os turistas nacionais acabaram optando por destinos nacionais, privilegiando o Ceará. ´Não existe um dado específico para medir o impacto do turismo, mas eles estão em vários segmentos dos serviços, com destaque para o alojamento e alimentação´, esclarece a titular do Ipece.
ACIMA DA MÉDIA NACIONAL - Projeção para o ano é de expansão de 2,5%
A previsão para o crescimento da economia cearense no ano de 2009 permanece a mesma que já havia sido divulgada pelo governo: 2,5%. Apesar de representar apenas a metade do incremento obtido pelo Estado no ano passado, o percentual ainda é bem superior à média do que está sendo projetado para o País, de 1%.
O crescimento do PIB cearense nesse primeiro trimestre reforçou a meta cearense. De acordo com a titular do Ipece, Eveline Barbosa, a alta de 3,08% — valor incluindo impostos — é bem inferior à média que o Ceará vinha apresentando nesse período, que era de um incremento de 5%. Entretanto, o resultado é visto de forma otimista, levando em consideração a atual conjuntura econômica. Para o segundo trimestre, a expectativa é ainda de crescimento, apesar de existirem alguns fatores que preocupam os economistas do Ipece. ´O PIB não deve ter um crescimento tão grande, mas também não deve ter resultado negativo´, aposta a economista do órgão, Eloísa Bezerra. O que pode influenciar de forma mais negativa o desempenho da economia local é a chamada ´seca verde´, ou seja, os estragos às lavouras por conta das chuvas excessivas no período.
´No primeiro trimestre, esperava-se uma safra recorde, e não foi. O milho e o feijão, que representam 80% da nossa agricultura, tiveram queda. A agropecuária, apesar de representar apenas 7% do PIB, tem variações muito grandes, que podem prejudicar o resultado total´, avalia o economista do Ipece, Rogério Barbosa.
Entretanto, o comércio deve continuar equilibrando a economia local nesse período. ´Os incentivos do governo têm feito as vendas crescerem. A Páscoa, que pensavam que seria um desastre, foi muito boa´, pondera a titular do Ipece.
Sérgio de Sousa - Repórter
Fonte: Jornal Diário do Nordeste - Caderno Negócios - Fortaleza, 11-06-09
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=645595
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