quinta-feira, 2 de abril de 2009

A transição para a sustentabilidade


Jeffrey D. Sachs

© Project Syndicate, 2008. www.project-syndicate.org




A crise económica global vai acompanhar-nos durante
uma geração, e não apenas durante um ano ou dois anos,
porque na realidade é uma transição para a sustentabilidade.


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A crise económica global vai acompanhar-nos durante uma geração, e não apenas durante um ano ou dois anos, porque na realidade é uma transição para a sustentabilidade. Nos últimos anos, a escassez das matérias-primas primárias e os danos das alterações climáticas contribuíram para a destabilização da economia mundial que resultou na actual crise. A subida dos preços dos alimentos e dos combustíveis e os grandes desastres naturais ajudaram a minar os mercados financeiros, o poder de compra das famílias e mesmo a estabilidade política.
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Assim, para ultrapassar esta crise os países desenvolvidos e em desenvolvimento devem assumir políticas de construção de infra-estruturas ajustadas ao século XXI. Estas incluem redes eléctricas eficientes alimentadas por energias renováveis, redes de fibra e sem fios que transmitam a ligação telefónica e a banda larga de Internet, sistemas de água, irrigação e saneamento que usem e reciclem de forma eficiente a água potável, sistemas de transportes urbanos e inter-urbanos; auto-estradas mais seguras; e redes de protecção de áreas naturais que conservem a biodiversidade e os habitat de espécies ameaçadas.
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Estes investimentos são necessários no curto prazo para anular a queda dos gastos de consumo a nível mundial, que está na base da recessão global. Mais importante, são necessários no longo prazo porque um mundo cheio com 6,8 mil milhões de pessoas (e continua a aumentar) não pode, simplesmente, sustentar o crescimento económico a não ser que adopte tecnologias sustentáveis que economizem os escassos recursos naturais.
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Na prática, a crise global significa que os investimentos sustentáveis estão a ser reduzidos, em vez de aumentados no mundo em desenvolvimento. À medida que se perde o acesso a empréstimos bancários internacionais, a emissão de obrigações e ao investimento directo estrangeiro, os projectos de infra-estruturas previstos estão a ser adiados, ameaçando a estabilidade política e económica de dezenas de países em desenvolvimento.
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De facto, em todas as partes do mundo há importantes investimentos em infra-estruturas que estão atrasados. Chegou a hora de fazer um esforço global concertado para realizar esses projectos. Não é algo fácil de fazer. A maioria dos investimentos em infra-estruturas requerem a liderança do sector público para criar parcerias com o sector privado. Normalmente, o sector público realiza acordos com as empresas privadas não só para construir as infra-estruturas mas também para as explorar como um monopólio regulado ou em regime de concessão.
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Em geral, falta aos governos capacidade técnica para desenvolver estes projectos, criando as condições para o favoritismo e a corrupção na concessão de contratos importantes. É provável que estas acusações sejam lançadas contra os governos mesmo quando não são verdadeiras. No entanto, com demasiada frequência elas são verdadeiras. Assim, o atraso destes projectos está a provocar estragos na economia mundial. As maiores cidades do mundo são uma combinação de trânsito e poluição. A atmosfera está cheia de gases que provocam o efeito de estufa devido a intensa utilização de combustíveis fosseis. A escassez de água está a afectar praticamente todos os centros económicos importantes, desde a América do Norte à Europa, Índia e China.
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Os governos deviam, assim, reforçar os seus ministérios de infra-estruturas (incluindo energia, estradas, água e saneamento, e tecnologias de informação e comunicação), bem como os seus bancos nacionais, de forma a que estes possam desenvolver projectos e programas de infra-estruturas de longo prazo. A capacidade de contrariar a crise de forma construtiva através da criação de parcerias público-privadas vai determinar o sucesso dos países e das regiões. É interessante que os Estados Unidos estejam, pela primeira vez, a ponderar criar um Banco Nacional de Infra-Estruturas.
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Ainda assim, os conselheiros económicos norte-americanos e europeus acreditam que um intenso e curto estímulo é suficiente para repor o crescimento económico. Estão equivocados. O que será necessário é uma revisão da economia mundial no sentido da sustentabilidade.
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Além disso, os decisores políticos dos países ricos acreditam que podem continuar a negligenciar o mundo em desenvolvimento ou deixá-los abandonados à sua sorte nos mercados globais. Isto é também uma receita para o fracasso e, mesmo, para futuros conflitos.Os países desenvolvidos têm que fazer muito mais para ajudar os países pobres na sua transição para a sustentabilidade. Apesar de até agora a maior parte da legislação de "estímulo" ser de curto prazo e virada para dentro, o aumento do financiamento para estruturas sustentáveis em países pobres deveria dar um poderoso impulso às economias dos países ricos.
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Os países desenvolvidos deveriam canalizar poupanças para os países em desenvolvimento de forma a financiar investimentos sustentáveis. Isto pode ser feito directamente ou numa base bilateral. Por exemplo, através de empréstimos de longo prazo das agências de crédito à exportação dos países desenvolvidos. Pode ainda ser feito de forma multilateral, aumentando os fluxos de investimento em infra-estruturas do Banco Mundial e dos bancos de desenvolvimento (incluindo o Banco de Desenvolvimento Inter-Americano, o Banco de Investimento Europeu, o Banco de Desenvolvimento Africano e Banco de Desenvolvimento Asiático). Ambos os canais podem ser usados.
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Os países desenvolvidos também não reconhecem que um aumento do financiamento em infra-estruturas sustentáveis no mundo em desenvolvimento - especialmente de transmissão e geração de energia sustentável - é impossível chegar a um acordo global sobre as alterações climáticas no final deste ano (ou em qualquer altura).
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Os países ricos de alguma forma esperam que os países pobres restrinjam os uso de combustíveis fósseis sem ajudas significativas ao financiamento de novas e sustentáveis fontes de energia. Em quase todas as propostas dos países ricos sobre metas, limites, compromissos e licenças de dióxido de carbono, dificilmente existe uma palavra para ajudar os países pobres a financiarem a transição para tecnologias sustentáveis.
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A cimeira do G20 em Londres oferece a esperança de que é possível um verdadeiro esforço global para reparar a queda da economia mundial. Este é o tempo e o lugar para lançar um impulso mundial no sentido da sustentabilidade. Se falharmos neste objectivo, a crise colocará o mundo em perigo durante muitos anos.

FONTE:

2 comentários:

  1. Muito interessante esse sentido de transição para a sustentabilidade na crise economica; e que essa crise pode durar por toda uma geração, até mesmo porque tem países que são mais afetados com a crise, que não é o caso do Brasil hoje. Mas, como os países desenvolvidos vão entender que cada vez mais os recursos ficam escassos e tem q mudar de atitude? Eles sempre esperam que os países pobres "economizem" mais. Qual seria a posição do Brasil? Ele tem tendência a passar para uma economia sustentável?

    Jorgilania
    Administração
    4º semestre

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  2. Fofíssima,

    Talvez a gente até esteja mesmo num momento de transição e essa, assim como todas as outras q já ocorreram na História, vai durar ainda uns "bons" anos pela frente. Isso, ao meu ver, por que até que cada um de nós reconheçamos que precisammos seriamente sair de uma posição (confortável) de vítima para passarmos a exergar como responsabilidade nossa a realidade atual gerada por nós mesmos, e para qual não há solução simples, muitas consequências desse comodismo ainda veremos. Só então, por uma questão de sobrevivência, cada um de nós vai deixar de citar país X ou Y, governo esse, governo aquele como únicos responsáveis pela má utilização dos nossos já escassos recursos naturais. Será que já estamos tendo atitudes condizentes com todo esses discursos? As atividades q a gente desenvolve, além de ser economicamente viáveis, também são ambientalmente corretas? são socialmente justas?

    Alcione Ferreira

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