quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Crise Econômica Mundial

12/09/2011 -

Mercados financeiros recuperaram abismo de 2008, mas crise da dívida não acabou

Prospect
George Magnus

  • Crise de 2008-2009 marcou fim de 20 anos de expansão do crédito, deixando um mar de dívidas
    Crise de 2008-2009 marcou fim de 20 anos de expansão do crédito, deixando um mar de dívidas
Se, enquanto investidor, você foi abençoado com uma previsão perfeita no início de 2009, você pode ter fugido rapidamente, armado com uma pasta de dinheiro, uma arma e um estoque de comida enlatada. Se as insurreições por todo o mundo árabe, que aumentaram os preços da energia, e a inflação crescente nos mercados emergentes não o derrubassem, você teria tremido com as consequências da crise do débito. Isso tudo incluiu a interrupção do crescimento econômico, cortes orçamentários no ocidente e queda dos preços dos imóveis. Também incluiu uma crise existencial na zona do euro por conta da dívida e a decisão quase sem sentido da agência de classificação de risco Standard and Poor’s de retirar a classificação de crédito AAA dos Estados Unidos.
Mas se você saiu dos mercados financeiros naquele ponto, estava totalmente errado. Mesmo com as quedas drásticas de julho e agosto, os mercados de ações ainda estão 30% a 70% mais altos do que em março de 2009. Os mercados de câmbio e commodity renderam bons lucros. Até a propriedade comercial se mostrou lucrativa, com os preços subindo depois de atingir uma baixa.
Então, o que está acontecendo? Minha visão é de que os mercados financeiros saltaram de bungee jump e voltaram do abismo há três anos, graças a políticas extraordinárias implementadas por governos e bancos centrais para evitar que o sistema bancário entrasse em colapso e a economia afundasse numa depressão. Muitas dessas políticas estão sendo interrompidas ou revertidas agora. O salto nos mercados financeiros foi excepcional, mas a crise do excesso de dívida não acabou. Chegou a hora de observar tanto a volatilidade quanto o desapontamento.
Por que a dívida é uma ameaça
A crise financeira de 2008-2009 marcou o fim de duas décadas de expansão do crédito, deixando um mar de dívidas. Reduzir o fardo da dívida enfraquece o crescimento econômico e leva muito tempo. Além de aprofundar as tensões entre os países devedores e credores, como a Alemanha e a periferia da zonado euro, sobre quem deveria fazer o quê. Reduzir as dívidas prejudica os rendimentos dos investimentos porque cria um ambiente deflacionário: o crescimento econômico e de empregos está fraco, o sistema de crédito funciona mal e os preços dos bens sofrem. Há duas saídas para isso.
Uma rota é a austeridade. A dívida precisa ser paga ou renegociada, e às vezes perdoada, e os devedores precisam pagar suas dívidas. Mas a austeridade só funciona se a economia continuar crescendo. Se não, acabaremos numa “armadilha da dívida”. O fardo da dívida continua a crescer e a dívida pública se torna insustentavelmente grande. Isso pode levar a uma inadimplência desordenada, a imposição de controles financeiros inaceitáveis até então e, no extremo, ao colapso social e hiperinflação.
A Inglaterra e outros países devedores do ocidente ainda estão hesitando no caminho da austeridade – alguns mais rapidamente do que outros. Mas ainda estamos no início, e a perspectiva de crescimento econômico é muito incerta. Um ou dois países, sobretudo a Grécia, estão em risco de cair na armadilha da dívida.
Para ver as consequências para um país já em andamento, veja o caso do Japão, cuja crise da dívida emergiu em 1989. As dívidas privadas caíram drasticamente depois de 1997, mas por causa da fraqueza fundamental da economia, a deflação dos preços e a persistente inércia política, a dívida pública explodiu de cerca de 52% do PIB em 1989 para cerca de 220% hoje.
O único motivo pelo qual o Japão saiu das duas “décadas perdidas” foi por ser um país credor. Ele tem títulos estrangeiros que chegam a quase metade de sua renda nacional, e pode contar com uma grande quantidade de poupança doméstica. Mas essas forças podem se prejudicadas pelas consequências financeiras de uma população em rápido envelhecimento – que o ocidente também enfrenta agora, embora sem as credenciais financeiras do Japão.
“Desalavancar” restringe mercados financeiros
A chave para o que acontecerá nos mercados financeiros nos próximos anos é um ajuste fundamental conhecido como “desalavancar”. Este é um processo prolongado durante o qual as dívidas precisam ser reduzidas à medida que os preços dos títulos caem para evitar a inadimplência. Só depois que este ajuste acontecer os gastos normais e os empréstimos serão retomados.
Embora o sistema bancário tenha se fortalecido e se regulado novamente, o desalavancamento do sistema financeiro é um trabalho em andamento. Títulos bancários britânicos explodiram para mais de 9 trilhões de livras antes da crise, até um ponto em que chegaram a 45 vezes o valor do capital do banco (dando uma proporção de leverage – algo como potência de alavanca -- de 45 para 1). Os títulos desde então caíram em cerca de 1,5 trilhão de libras, e junto com o aumento exigido em capital, a proporção de leverage dos bancos caiu de volta para 25 para 1, o que ainda é alto. As mudanças regulatórias forçarão os bancos a ter proteções de capital ainda maiores para evitar perdas, o que significa custos mais altos e uma restrição persistente aos empréstimos.
A pressão regulatória ou prudente sobre os bancos tem uma contrapartida entre alguns dos maiores investidores, como fundos de pensão e companhias de seguro, que vêm retirando seu apoio dos mercados financeiros mais arriscados. Para os fundos de pensão, o aumento da expectativa de vida e as baixas taxas de juros impulsionaram as obrigações futuras, mas os mercados de ativos não acompanharam. Isso abriu déficits problemáticos que exigem apoio financeiro constante de patrocinadores corporativos às vezes cautelosos. Os fundos de pensão britânicos já cortaram seu valor de cerca de 70% em 2000 para apenas pouco mais de 50% e pesquisas indicam que isso cairá ainda mais. Companhias de seguros também estão sob pressão regulatória para manter mais títulos em forma líquida, incluindo títulos do governo.
Em direção ao topo?
Desalavancar é um processo difícil de controlar mas não precisa ser um deserto para os investidores. No último ano ou mais, alguns dos títulos mais arriscados, como o do dólar australiano, visto como um indicador do crescimento global, foi tão bem quanto os bens tradicionais como o ouro, o franco suíço e bens de consumo básicos como os das companhias de alimentos e bebidas. Esse fenômeno provavelmente não vai durar, mas mesmo que você acredite que a crise do débito expôs seus investimentos a um risco muito maior, ainda há coisas que você pode fazer.
Em vez de apoiar visões de consenso sobre os mercados, procure “temas” ponderados para investimento. Isso pode ser baseado em novas tecnologias que definirão nossas economias no futuro. Nem todos os mercados de imóveis são tóxicos, como mostram aqueles com características especiais como Londres, Paris e Genebra. Se você pensa que investir nos mercados emergentes é arriscado e carece de transparência, muitas companhias ocidentais se beneficiam explorando temas nos mercados emergentes, como o aumento da sofisticação tecnológica, aumentos da demanda de commodity e falta de água.
À medida que o débito trabalha no país e evolui no exterior, os mercados financeiros deverão ter períodos alternados de euforia e frustração. Mas só vá em direção ao topo se você achar que algum tipo de Armageddon econômico for iminente. Em todo caso, que tal barras de ouro em quantidades prontas para o transporte?
(George Magnus é conselheiro econômico sênior da UBS e autor de “Uprising: Will Emerging Markets Shape or Shake the World Economy?”)
Tradução: Eloise De Vylder

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