domingo, 4 de setembro de 2011

Indústria global desacelera e cresce risco de recessão

02.09.2011
Por Sudeep Reddy, Alex Frangos e Brian Blackstone | The Wall Street Journal, de Washington, Hong Kong e Frankfurt

 
O setor industrial americano praticamente não expandiu as operações em agosto, de acordo com um relatório divulgado ontem, uma vez que as empresas tentam se adaptar à queda da confiança e à estagnação do mercado de trabalho. O segmento de manufatura da Ásia também se desacelerou, com líderes como Coreia do Sul e Taiwan mostrando retração e a China crescendo em ritmo fraco. As fábricas numa parte da Europa registraram queda da atividade pela primeira vez em dois anos, com o desaquecimento da Grécia e da Irlanda ameaçando economias de porte como a Itália e a França.

A expansão indústria mundial está perdendo fôlego num momento precário. A desaceleração pode exacerbar as preocupações com a dívida tanto na Europa como nos Estados Unidos e sugar energia da Ásia, o motor da maior parte do crescimento global nos últimos anos. Esse cenário também aumenta as responsabilidades dos governos que tentam lidar com os problemas fiscais no último trimestre na Europa e nos EUA, e dos mercados emergentes, que passaram a maior parte do ano tentando combater a inflação e o superaquecimento de suas economias.



Os levantamentos sugerem que a desaceleração em diversas partes do mundo está interligada. As economias da Ásia com crescimento mais forte, por exemplo, foram atingidas pela fraqueza dos mercados avançados, que são grandes compradores de suas exportações. Da mesma forma, empresas nos EUA e em outras economias desenvolvidas dependem da expansão em países emergentes para compensar a demanda mais fraca nos seus mercados domésticos.

O cenário sombrio foi refletido numa estimativa atualizada para a economia divulgada ontem pela Casa Branca. O governo agora espera que o PIB mostre uma expansão de apenas 2,6% em 2012, usando o quarto trimestre como base de comparação, e com a expectativa de uma melhora limitada do nível de emprego.

Embora as pesquisas mostrem um enfraquecimento da confiança global, os indicadores revelam que a produção está crescendo de alguma forma. A produção global cresceu a uma taxa anualizada estimada em 6% nos três meses encerrados em julho, de acordo com o J.P. Morgan Chase, cujo índice global de manufatura ontem estava em 50,1, um pouco acima do nível de estagnação. Qualquer resultado acima de 50 indica expansão. Por isso, ou os números da confiança mostram uma expectativa de mais desaceleração ou os executivos estão mais pessimistas em relação à economia do que deveriam, dada a produção real.
O índice de atividade industrial dos EUA, medido pelo Instituto para a Gestão da Suprimento, ou ISM, um grupo de gerentes de compras, caiu um terço de ponto porcentual, para 50,6. Um índice de produção baixou para o menor nível desde maio de 2009. Embora os preços continuem a cair, a expansão do nível de emprego desacelerou devido ao clima de incerteza entre os empresários.

"O clima geral é de preocupação em relação à direção que a economia está tomando", disse Bradley Holcomb, que coordena a pesquisa industrial do ISM. "As companhias estão dispostas a preencher cargos vitais que estão vagos, mas isso não irá se traduzir em contratações significativas nesse momento."

As empresas americanas parecem não ter acelerado as contratações. O Departamento de Trabalho informou ontem que os novos pedidos de seguro-desemprego diminuíram em 12.000 na semana passada, para 409.000. Ao mesmo tempo, um relatório do Departamento de Comércio revelou que os gastos em construção tiveram queda de 1,3% em julho na comparação mensal, com uma baixa ainda mais acentuada em obras públicas.

Em todo os EUA, o desaquecimento dos gastos públicos ameaça enfraquecer a economia nos próximos meses. Cortes desse tipo também preocupam executivos sobre as pressões de longo prazo sobre os negócios.

"A incerteza no mercado é enorme", afirmou Richard Seaman, diretor-presidente da Seaman, de Ohio. "A visibilidade do futuro é muito pequena porque as pessoas não sabem o que fazer." A firma, que emprega 300 pessoas, fabrica materiais usados pelos setores de construção, automotivo e militar. A Seaman registrou uma queda de 50% das encomendas para o setor de defesa nos últimos 12 meses, já que os fornecedores para o segmento militar sofrem com uma queda dos gastos do governo.

O cenário incerto nos EUA e em outras partes do mundo desenvolvido está pesando sobre as empresas de economias emergentes, como mostra a decisão do Banco Central do Brasil de reduzir a taxa básica em meio ponto depois de cinco altas este ano, com receio de que o desaquecimento global contamine a maior economia da América Latina.

Na Ásia, vários bancos centrais têm apertado a política monetária para combater a inflação, prejudicando empresas exatamente quando importantes mercados de exportação recuam. Índices para duas economias cruciais para o comércio mundial - Coreia do Sul e Taiwan - caíram para menos de 50, indicando que a indústria contraiu em agosto.

Enquanto isso, a China, maior economia da Ásia, viu seu índice industrial, medido pelo governo, manter-se um pouco acima de 50, enquanto outro indicador do setor, compilado pelo HSBC, aumentou ligeiramente, para 49,9. Os números sugerem que as fábricas chinesas nem se recuperaram nem se desaqueceram em agosto. As exportações foram problemáticas. O relatório do governo informou que o índice de novas encomendas para exportações caiu de 50,4, em julho, para 48,3 em agosto, mostrando retração pela primeira vez desde abril de 2009, perto do pior nível desde a crise financeira.

O setor industrial da Alemanha cresceu em agosto, mas só um pouco, registrando o ritmo mais fraco em dois anos. O resultado reduziu o temor de que a maior economia da Europa volte a entrar em recessão, apesar de a atividade industrial nos países mais vulneráveis do bloco ainda estar encolhendo rapidamente. Os dados sugerem que qualquer estabilização naquelas economias ainda vai levar meses.

O índice dos gerentes de compras para a zona do euro caiu de 50,4, em julho, para 49 em agosto, de acordo com a firma de dados Markit. A França e a Itália se uniram à Irlanda, Espanha e à Grécia com leituras abaixo de 50, sinalizando uma retração da atividade industrial. O índice também caiu na Alemanha, mas se manteve em 50,9, acima da linha divisória entre expansão e contração.

Kirsten Schoder-Steinmüller, diretor-gerente da Schoder, espera um forte aumento das encomendas este ano, mas está preocupada com 2012. A empresa, que emprega 76 pessoas numa área perto de Frankfurt, fabrica ferramentas de gravuras e peças para máquinas especiais.

"Todo mundo está um pouco nervoso sobre os grandes problemas da economia", disse. Apesar dessas preocupações, Schoder-Steinmüller contratou seis pessoas nos últimos quarto meses e está abrindo vagas para aprendizes.

(Colaborou Dana Mattioli)

FONTE: http://www.valor.com.br/imprimir/noticia/996348/internacional/996348/industria-global-desacelera-e-cresce-risco-de-recessao

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