Pequim, 09/07/2010
Crescimento chinês é insustentável no longo prazo
Crescimento chinês é insustentável no longo prazo
Relatório afirma que padrão de crescimento das últimas décadas terá de se tornar mais 'verde' para que país mantenha ganhos sociais
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Impulsionada por um crescimento anual de quase 10% desde a década de 80, a China foi o país que mais ganhos obteve no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), tornou-se a terceira maior economia do mundo e tirou quase meio bilhão de pessoas da pobreza. No entanto, esse processo significou aumento da poluição num nível que torna insustentável o desenvolvimento chinês no longo prazo, avalia um relatório do PNUD sobre o país.
“O crescimento econômico sustentado foi instrumento fundamental no rápido ganho de desenvolvimento humano da Chia, e terá de continuar para atender as necessidades de emprego, serviços sociais e infraestrutura social. No entanto, o modelo de crescimento econômico baseado no uso intensivo de energia e de outros recursos e uma alta dependência de combustíveis fósseis teve seu preço em termos de degradação e poluição. No longo prazo, ele é insustentável”, avalia a edição de 2009/2010 doRelatório de Desenvolvimento Humano da China, encomendado pelo PNUD e coordenado pela universidade chinesa de Renmin.
Desde 1979, com a introdução de reformas, o sistema regidamente planificado e centralizado deu lugar a uma economia de mercado dinâmica que atrai a atenção do mundo. Nas últimas três décadas, o Produto Interno Bruto (PIB) da China tem crescido a uma média de 9,8% ao ano. Entre 1991 e 2004, a proporção de pobres caiu de 65,2% para 10,4% da população. “Os chineses estão agora mais ricos, mais bem educados e mais saudáveis do que nunca”, observa o estudo.
Ao mesmo tempo, a rápida expansão gerou desigualdades sociais e degradou o meio ambiente. “A emissão total de gases-estufa da China cresceu rapidamente com a industrialização e a urbanização ao longo das últimas décadas. Desde 1970 a 2007, o volume total subiu sete vezes. Em 2007, as emissões de CO2 da China ultrapassaram as dos Estados Unidos e são hoje as maiores do mundo”, aponta o texto.
Os chineses lançam 6 bilhões de toneladas de gases-estufa ao ano, contra 1 bilhão no início dos anos 70. Isso está em parte ligado ao fato de o país ser muito grande e ter uma população numerosa. As emissões per capita são menores que as dos países desenvolvidos — mas cresceram 381% no período, bem mais que as do planeta como um todo (17%), segundo dados da Agência Internacional de Energia citados no relatório. O problema pode se agravar, pois, ao longo das próximas duas décadas, 350 milhões de pessoas devem migrar das zonas rurais chinesas para áreas urbanas.
A indústria do país é setor que mais contribui para a emissão (84% do total). O setor de energia e aquecimento, em especial, impulsiona o problema — é responsável por 49,5% da poluição, seguido por manufatura e construção (31,2%). Já o transporte (6,8%) e o consumo residencial (4,2%) têm pequena participação.
O relatório salienta que há grande disparidade entre as indústrias da China. De um lado, empresas modernas —especialmente as estatais— adotam tecnologia avançada, com baixo consumo de energia por unidade de produção. Em contraste, um grande número de pequenas e médias empresas ainda usam equipamentos ultrapassados e tecnologias que desperdiçam energia e produzem níveis elevados de emissões.
Um exemplo disso é a usina termelétrica de Zhejiang, considerada a maior e mais eficiente do mundo, com quatro geradores de 1 mil megawatts e um nível de consumo de carvão de 282,6 gramas por quilowatt-hora. Ao mesmo tempo, um grande número de geradores ultrapassados opera no país abaixo de 200 mil quilowatts — para cada quilowatt-hora de eletricidade gerado, estes aparelhos lançam entre 250 e 350 gramas a mais de CO2 na atmosfera do que os mais modelos mais avançados.
A simultaneidade entre rápido avanço no IDH e degradação ambiental não significam que os dois fenômenos necessariamente andam juntos, diz o relatório. Os autores identificam dois padrões gerais nos países desenvolvidos: Um, dos países europeus e do Japão, onde as emissões per capita são relativamente pequenas, e outro de Austrália, Canadá e Estados Unidos, onde são altas.
O estudo menciona também o caso mexicano e o brasileiro. Entre 1980 e 2006, Brasil e México avançaram no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), enquanto o crescimento per capita de emissões de CO2 nos dois países foi considerado pequeno (de 3,4 toneladas para 4,2 e de 1,6 para 1,9, respectivamente). “Essas experiências confirmam que modelos de desenvolvimento humano sustentáveis são possíveis.”
O texto destaca que a China tem dados vários passos em relação a uma economia mais verde. Em dezembro de 2009, durante a Cúpula da ONU em Copenhague, o país se comprometeu a reduzir suas emissões de CO2 per capita entre 40% e 45% até 2020. Para isso, o relatório afirma que as empresas chinesas devem investir na redução das emissões, adotar tecnologias mais limpas e promover melhorias para alcançar maior eficiência.
Além disso, o governo central deve ser responsável pela criação de metas nacionais e pelo desenvolvimento de marcos regulatórios. O texto ainda sugere a introdução de um imposto sobre o carbono no país.
http://www.pnud.org.br/meio_ambiente/reportagens/index.php?id01=3513&lay=mam
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