terça-feira, 18 de janeiro de 2011

A frieza da economia

Chuva também é sinônimo de faturamento para empresas
18/1/2011 Clique para Ampliar
Com os carros enguiçando e colidindo mais, oficinas de Fortaleza comemoram a demanda de serviços até 30% maior 
FOTO: LC MOREIRA

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Com o céu fechado e sem clientes, os empresários chegam até a distribuir os caranguejos com seus funcionários 
FOTO: RODRIGO CARVALHO

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No Iguatemi, ônibus gratuito opera em janeiro, passando pelos hotéis
FOTO: LC MOREIRA
Intempérie climática reverte-se em lucro para oficinas, reboques, taxistas, shoppings e lojas de guarda-chuvas

A chegada do período chuvoso em Fortaleza acaba sendo sinônimo de faturamento extra para alguns setores da economia local. Assim é o caso de oficinas mecânicas, empresas de reboque, taxistas, shoppings cobertos e lojas que vendem capas e guarda-chuvas.

Se a chuva que começou a atingir a capital nos últimos dias deixou muitos prejuízos para os proprietários de automóveis; para os donos de oficinas mecânicas, a adversidade climática representa lucro certo. Oficinas da Capital já estão lotadas de veículos danificados. Para receber o carro, os proprietários precisam ter paciência para esperar até duas semanas para que os reparos sejam realizados.

Oficinas mecânicas

Com os carros enguiçando mais, o Centro automotivo MM (na Aldeota), chega a ampliar a sua demanda de serviços em até 30%. "Além de casos de colisão, chegam muitos veículos para trocar peças do sistema de injeção, como bobina e cabo de vela. Entra água nessas partes elétricas e acaba dando pane. Também tem outros casos de serviço preventivo no sistema de freios e na suspensão", explica a atendente e orçamentista da oficina, Jane Pinto de Oliveira.

Na oficina Auto Quality (na Aldeota), também não falta serviço para os 22 mecânicos. "Temos muitos carros colididos devido a pista molhada e a má visualização dos motoristas. São casos de desamassamento, pintura e mecânica simples", informa o proprietário Cláudio Barreto, comemorando a demanda excedente em cerca de 20%. Segundo ele, no caso de batidas, dependendo da gravidade e do modelo do veículo que foi atingido, o serviço varia entre R$ 200 e R$ 2 mil.

Em um mercado extremamente competitivo, Jane diz que não se pode alterar os preços para cima só porque a demanda é crescente.

"O que as oficinas sérias devem fazer é prestar um serviço de qualidade para manter a clientela no verão também. O cliente hoje está mais ligado, ele também costuma fazer pesquisa. É preciso ser correto", enfatiza a funcionária do Centro Automotivo MM.

Reboques

Dirigir sob chuva não é uma tarefa das mais fáceis. Para os motoristas de Fortaleza, o desafio é ainda maior, uma vez que a cada dia novos buracos ganham espaço nas ruas e avenidas da capital cearense.

Com o acúmulo de água em um precário sistema de escoamento, a visualização de buracos fica comprometida. O que para os donos dos carros representa uma dor-de-cabeça, para proprietários de empresas de reboque o lucro extra é certo neste período invernoso.

De acordo com a proprietária da Vip Transporte e Reboque, Lídia Colares, em um dia de chuva e no subsequente, a demanda na empresa chega a ser ampliada em até 30%.

Se em um dia de sol são realizados entre 7 e 10 atendimentos, em um dia chuvoso, essa quantidade pode alcançar 15.

"Dentro de Fortaleza nossa saída está custando R$ 60,00. Se for para os municípios da Região Metropolitana, o valor passa para R$ 90,00", explica Lídia Colares.

Entre os problemas que ocasionam os chamados ao reboque, estão as colisões e problemas elétricos, motivados pela entrada de água no motor.

Capas e guarda-chuvas

Para se proteger de ficar molhado ou ficar doente, uma alternativa antiga, mas ainda bastante procurada são as capas de plástico e os guarda-chuvas. Lojas como a Casa Freitas, estimam vender até 2 mil unidades desses itens só em janeiro. "No período chuvoso chegamos a vender 80% mais. Temos vários modelos de guarda-chuvas de R$ 5,99 a R$ 8,99. Já as capas saem por R$ 8,99", explica o gerente da loja da Rua General Bezerril, Vandicles Oliveira.

Vendas aquecidas

2 mil guarda-chuvas e capas devem ser comercializados apenas neste mês pela Loja Casa Freitas do Centro da cidade. As vendas do produto crescem até 80% no período chuvoso.

AO MESMO TEMPO

Barracas de praia têm mais prejuízos

Setores da economia local que dependem do sol, como as barracas de praia, amargam prejuízo em dias chuvosos

Se uns estão rindo à toa nesse período de chuvas vendo seu faturamento "engordar"; para outros, as adversidades climáticas acabam representando prejuízo. Assim é o caso das barracas de praia, dos lava-jatos, do comércio de rua, de mototaxistas e de empresas de táxi aéreo.

Na Praia do Futuro, o movimento chega a despencar até 80% em dias de mau tempo, o que acaba se refletindo na queda do faturamento.

"Estávamos com a melhor expectativa possível para a alta estação, mas as chuvas chegaram mais cedo este ano. Temos um fluxo de clientes bom, mas em dias de sol", explica a presidente da Associação dos Empreendedores da Praia do Futuro, Fátima Queiroz. Segundo ela, quando chove logo de manhã cedo, já é o pior sinal possível. "Porque aí as pessoas não vem mesmo. Se chove depois de 11h, o movimento é mais fácil ser mantido, porque as pessoas já estão na praia", completa a empresária.

No Complexo Crocobeach, em dias chuvosos, só 10% dos clientes permanecem na barraca, comenta o proprietário Argemiro Guidolin.

Dispensa de funcionários

"Quando isso acontece, temos que dispensar cerca de 80% dos nossos 270 funcionários. A chuva está atrapalhando um pouco. Estávamos prevendo ampliar o faturamento em 15%. Agora esperamos fechar janeiro com o mesmo número de clientes que registramos em igual mês do ano passado", diz o empresário, observando no entanto, que mesmo em dias de tempo ruim, a programação musical do local é mantida.

O proprietário da Itapariká, Milton Ramos, destaca que um dos maiores problemas trazidos com a chuva são as perdas no estoque de caranguejo. Em um dia de bom movimento são consumidos até 1.500 unidades do crustáceo. "A maior fragilidade das barracas de praia é a condição climática. É o nosso grande fantasma. Com o mau tempo, e o movimento até 95% menor na barraca, chegamos a ter que distribuir caranguejos entre os funcionários da casa para evitarmos perdas do alimento", frisa Milton Ramos.

O empresário lembra do rigoroso inverno de 2009, responsável pelo quase fechamento de alguns estabelecimentos da praia. É que quando chove, os clientes não aparecem, e as vendam caem. "Com quase cinco meses de chuva, algumas barracas chegaram quase à falência. O empresário tem uma despesa fixa. Tem uma folha de pagamento e fornecedores a serem pagos. E você não tem como prever o tempo. É inconstante demais. A gente fica muito suscetível ao clima", frisa. (LB)

COM MAU TEMPO

Shoppings viram opção de passeio para turistas

Para o turista que veio passar férias na terra do sol, se não é possível ir à praia, uma segunda opção de passeio pode ser os shoppings de Fortaleza, que já estampam nas vitrines suas promoções. "Muitos visitantes acabam trocando o programa de sol e praia pelos shoppings. A dobradinha chuva e liquidação acaba atraindo um fluxo maior. Isso é muito bom porque dá uma continuidade nas vendas de fim de ano", ressalta o presidente da Associação dos Lojistas de Shoppings de Fortaleza (Alshop), Abílio do Carmo.

Para facilitar o deslocamento de quem não conhece muito bem a cidade, o Shopping Iguatemi já coloca à disposição dos turistas que se hospedam em hotéis da orla da capital uma linha de ônibus executivo gratuita com três horários de partida e outros três de retorno. O serviço opera até o fim deste mês. Informações podem ser obtidas através do telefone 3477 3560.

Taxistas

Ficou sem carro ou tem um compromisso e não pode chegar encharcado? A solução, muitas vezes é recorrer a um serviço de táxi. Em dia com chuva, os chamados no Rádio Táxi Fortaleza aumentam até 50% em relação a um dia de tempo ensolarado. Par dar conta, a frota da empresa dispõe de 350 carros mas, ainda assim, em horários de pico, a espera do cliente do outro lado da linha telefônica pode amargar até 50 minutos.

"A demanda é muito grande e a gente não consegue atender. Pessoas que nunca andam de táxi, nesses dias, acabam precisando. Como nosso objetivo é atender a todos os chamados, e muitos taxistas não querem circular com seus carros na chuva, acabamos tendo é problema", observa o diretor da cooperativa, Wilson Falcão. Em dia de chuva, o taxista José Alves de Souza já chegou a colocar no bolso mais de R$ 200,00. "Quando chove, é a época das corridas. É quando a população mais precisa. Fiz 20 corridas em um dia. Mas bom mesmo é quando a chuva é de leve. Muito forte, atrapalha", comenta. (LB)

LÍVIA BARREIRA
REPÓRTER

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