quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Brasil crescerá além da média da AL no ano

América Latina e Caribe em direção à recuperação econômica em 2010, mas com queda no ritmo em 2011 e 2012, afirma relatório da ONU

18 de janeiro de 2011 


A forte recuperação da produção impulsionou a criação de empregos em vários países da América do Sul, derrubando a taxa média de desemprego da região.
18 de janeiro – As economias da América Latina e do Caribe registraram uma recuperação econômica muito maior do que esperada em 2010, de acordo com relatório das Nações Unidas lançado hoje. O produto interno bruto (PIB) da região cresceu 5,6% em 2010, após contrair 2,1% em 2009. Mas o crescimento econômico deverá diminuir, para 4,1% em 2011 e 4,3% em 2012. Apesar da desaceleração, o panorama econômico é robusto para os padrões históricos da região, diz o relatório Situação Econômica Mundial e Perspectivas para 2011 (WESP).
O Relatório, que está embargado até às 15h (horário de Brasília) desta terça-feira (18), será lançado no dia 18 de janeiro, às 15h00 (horário de Brasília) e o lançamento poderá ser acompanhado via webcast no site do Centro de Informação das Nações Unidas no México (www.cinu.mx). Durante o webcast os jornalistas poderão fazer perguntas. Estarão presentes no evento do México: Alex Izurieta, Oficial de Economia Sênior, DESA; Juan Carlos Moreno-Brid, Coordenador de Pesquisas da CEPAL; Rodrigo Barros Reyes Retana, Diretor Geral de Análise de Políticas Públicas da Unidade de Planejamento Econômico da Fazenda do México; e Luis Foncerrada, Diretor do Centro de Pesquisa do Setor Privado (CEESP).
O relatório anual divulgado hoje diz que as medidas de estímulo econômico adotadas pelos governos em toda a região, em resposta à crise global, têm sido um fator importante na recuperação econômica. As medidas ajudaram a restaurar a confiança e fortalecer a demanda doméstica ao longo de 2010. O crescimento do consumo privado foi, em geral, forte, estimulado por taxas de juros mais baixas, aumento dos salários reais e de subsídios e transferências governamentais. As exportações também aumentaram, com a recuperação do comércio mundial de seu colapso em 2009, e os preços das commodities se recuperaram. Isso ajudou a América do Sul em particular.
No entanto, na maioria dos países latino-americanos, a recuperação foi liderada pela procura interna, elevando o volume das importações em ritmo mais acelerado que as exportações. Reduzindo a demanda global (ver comunicado de imprensa global) e diminuindo o espaço fiscal, os impulsos de crescimento em 2011 e 2012 deverão ser moderados, afirma o relatório da ONU.
Durante o primeiro semestre de 2010, Argentina (9,4%), Brasil (8,9%), Paraguai (11,7%) e Uruguai (9,6%) registraram forte crescimento do PIB. Este desempenho contrasta duramente com o que ocorreu na República Bolivariana da Venezuela, cuja economia encolheu 3,5% no primeiro semestre de 2010, devido à forte queda na demanda interna e produção de petróleo. O crescimento do PIB na sub-região Sul-Americana foi de, em média, 6,3%, para o ano de 2010 como um todo, mas é esperado que diminua para 4,5% em 2011, devido à eliminação progressiva das medidas de estímulo e o esperado enfraquecimento do crescimento mundial do comércio.
O relatório da ONU indica que a recuperação econômica no México, na América Central e no Caribe tem sido mais lenta, porque as economias nesta parte da região continuam a ser altamente dependentes do crescimento da produção nos Estados Unidos. O México recuperou-se de forma constante no primeiro semestre de 2010, apoiado principalmente pela demanda externa por automóveis produzidos localmente.
O enfraquecimento da recuperação é esperado, no entanto, juntamente com a lenta recuperação das taxas de desemprego nos Estados Unidos. Embora a economia mexicana tenha crescido 5% em 2010, o crescimento do PIB deverá cair para 3,4% em 2011. No Caribe, apesar do aumento nas remessas dos trabalhadores e dos rendimentos do turismo durante 2010, a situação econômica também deve encontrar desafios ao longo de 2011 e 2012.
A forte recuperação na produção também ajudou na recuperação de muitos empregos que foram perdidos durante a crise. A taxa média de desemprego na região caiu para 7,8% em 2010, abaixo dos 8,2% de 2009, embora ainda seja maior do que a de 2008. Os salários reais aumentaram em vários países, especialmente no Chile, Costa Rica, El Salvador, Paraguai e Uruguai, conforme caíram significativamente as taxas de inflação a partir de 2008 e os níveis de crescimento de empregos colocaram pressão sobre os salários nominais.
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Embora as taxas de inflação tenham aumentado em 2010, permanecem abaixo dos níveis pré-crise. As pressões inflacionárias devem permanecer fracas a curto prazo na maioria dos países. A situação é mais difícil na Argentina e na República Bolivariana da Venezuela, onde a inflação deverá manter-se na casa dos dois dígitos.
Déficits em conta corrente devem se ampliar um pouco em 2011 e 2012, como resultado do enfraquecimento nas perspectivas de exportação. Em 2010, a recuperação do comércio mundial e dos preços das commodities impulsionaram as receitas de exportação, especialmente para os exportadores de produtos primários, incluindo a República Bolivariana da Venezuela, Colômbia, Equador e o Estado Plurinacional da Bolívia. Para a região como um todo, estima-se que os termos de troca tenham melhorado em cerca de 7% em 2010. O déficit em conta corrente é estimado em cerca de 0,5% do PIB regional em 2010, mas espera-se que se amplie em 2011 e 2012, refletindo um déficit comercial maior.
O ingresso de remessas recuperara-se modestamente, levantando-se por uma estimativa de 5% em 2010, após significativa queda de 12% em 2009. Como se espera que os mercados de trabalho europeus e dos Estados Unidos não melhorem rapidamente, as perspectivas para as remessas continuam fracas para 2011 e 2012.
Fluxos de capital privado retornaram ao México e à América do Sul em 2010, depois de terem parado durante a crise global. Estima-se aumento entre 40 e 50% de investimentos diretos estrangeiros em 2010. Houve também um forte aumento em termos de investimentos de curta duração. O aumento nos fluxos de capitais tem pressão ascendente sobre as taxas de câmbio. Em média, as moedas da região tiveram valorização de cerca de 4,5% em 2010. Isso tem levantado preocupações sobre a competitividade das exportações e das economias sendo prejudicados pela natureza volátil dos fluxos de capital privado.
As autoridades monetárias de vários países têm respondido a essas preocupações, intervindo nos mercados cambiais e na introdução de controles mais rigorosos sobre influxos de capital de curta duração. Os bancos centrais da Argentina, Colômbia e, mais recentemente, Brasil e Peru introduziram controles de capitais. As autoridades brasileiras, por exemplo, reintroduziram um imposto sobre as compras externas de equidade e vínculos internos, e triplicou a taxa de 2% a 6%.
As receitas fiscais na região aumentaram, em média, cerca de 1% do PIB em 2010, refletindo essencialmente a forte recuperação da economia na maior parte da América do Sul. Condições fiscais variam de acordo com a região. A maioria dos países aumentou substancialmente os gastos públicos em 2010 para apoiar a recuperação, mas nem todos viram aumentar, ao mesmo tempo, as receitas do governo. Como resultado, um número de países, especialmente na América Central e no Caribe, tem limitado o espaço fiscal disponível e estão enfrentando altos níveis de endividamento público.
Alguns precisam de financiamento externo para cobrir as necessidades adicionais de despesas. Em contrapartida, a maioria dos países da América do Sul tem espaço fiscal disponível suficiente e deve ser capaz de continuar com estímulos necessários para manter o ritmo de recuperação, afirma o relatório WESP.
Riscos no horizonte
Olhando adiante, o WESP diz que há riscos tanto com fatores domésticos como externos. Riscos externos estão relacionados a um abrandamento pior do que o esperado nas economias desenvolvidas (ver comunicado de imprensa global). Nova valorização das moedas nacionais frente ao dólar também pode prejudicar o crescimento das exportações. No curto prazo, as exportações de manufaturados, sensíveis à taxa de ajustes de câmbio, devem ser as mais prejudicadas. O relatório da ONU diz que as consequências serão mais sentidas nas economias do México e da América Central, que dependem fortemente de exportações para os Estados Unidos e enfrentam forte concorrência da China.
Em nível interno, os temores de bolhas de ativos domésticos ou falta de espaço fiscal poderiam levar os países a retirar seus estímulos monetários e fiscais mais rápido do que o esperado, o que poderia prejudicar o crescimento do PIB a curto prazo, especialmente porque o comércio mundial deverá abrandar em 2011 e 2012. Mais genericamente, a política macroeconômica será um desafio. A forte recuperação da demanda interna e o aumento dos fluxos de capitais privados criaram temores de superaquecimento em algumas economias.
Em resposta, vários bancos centrais, incluindo os do Brasil, Chile e Peru, têm aumentado as suas taxas de juros e suas exigências para os bancos, de modo a limitar a expansão do crédito interno e evitar bolhas nos preços dos ativos emergentes. Taxas de juro mais elevadas, porém, poderiam atrair mais fluxos de capital, agravando a pressão sobre as taxas de câmbio. “Daí a se mover em direção a restrições mais severas à entrada de capitais parece sensato”, disse Rob Vos, economista da ONU que supervisionou o relatório, “mas ações combinadas em nível internacional serão necessárias para enfrentar os riscos contínuos à instabilidade econômica global e ajudar a trazer a recuperação da América Latina a águas mais estáveis também”.

Mais informações

Para entrevistas ou para obter mais informações, entre em contato com Newton Kanhema, tel:1-212-963-5602, kanhema@un.org-mail, do Departamento de Informação Pública da ONU.
A íntegra do relatório estará disponível emwww.un.org/esa/policy/wess/wesp.html após o embargo.
O WESP é produzido no início de cada ano, pelo Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas (DESA), pela Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (UNCTAD) e pelas cinco comissões regionais das Nações Unidas.


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