25/11/2012 - 03h35
Diagnosticar e medicar
HENRIQUE MEIRELLES
No Brasil, como dizem, até o passado é incerto. O registro histórico e analítico dos fenômenos econômicos é insuficiente, dando margem a interpretações baseadas em convicções pessoais, ideológicas e oportunistas.
Um debate pautado por conclusões pessoais tende ao vazio. O grande custo é não aprendermos com nossos erros ou, melhor ainda, nossos acertos. Na crise de 2008-09, a economia brasileira se recuperou rapidamente após medidas de diversos órgãos de governo. Por isso é importante entendermos o que foi feito.
Um debate pautado por conclusões pessoais tende ao vazio. O grande custo é não aprendermos com nossos erros ou, melhor ainda, nossos acertos. Na crise de 2008-09, a economia brasileira se recuperou rapidamente após medidas de diversos órgãos de governo. Por isso é importante entendermos o que foi feito.
A crise pegou o Brasil via colapso das linhas de crédito internacionais, já que 20% do crédito vinham do exterior. Isto fez com que os bancos redirecionassem créditos em reais para grandes clientes exportadores, reduzindo as linhas aos demais clientes. Resultado: queda de 20% do crédito total.
Como grandes empresas passaram a tomar recursos em reais para pagar empréstimos externos, a demanda por dólares causou depreciação cambial acentuada. O que gerou outra crise: exportadores tinham efetuado contratos nos mercados derivativos procurando se proteger de que-das futuras do dólar, acreditando que no Brasil o dólar não subiria por causa dos juros altos. Quando o dólar subiu rapidamente, os prejuízos foram monumentais.
Nessa escassez de recursos, um cidadão que queria comprar carro não tinha crédito. Ressabiado, ele suspendia a compra de outros bens. Resultado: o PIB caiu a uma taxa anualizada de 13% no último trimestre de 2008.
As ações do BC foram fortes e concentradas: 1) Emprestou reservas para os bancos repassarem a exportadores e importadores com obrigações em moeda estrangeira, em volume e rapidez suficientes para resolver o problema da liquidez em dólar; 2) Vendeu reservas no mercado "spot" para conter fuga de capitais; 3) Redirecionou a grande disponibilidade de depósitos compulsórios a setores danificados; 4) Atuou no mercado de derivativos de forma agressiva.
A concessão de crédito, essência da crise, voltou rapidamente. O governo cortou impostos de bens como automóveis e, quando o cidadão ia à revenda, já tinha crédito, o que acelerou a volta da confiança do consumidor. Outras medidas de crédito complementaram o processo.
A grande lição é que a crise tem de ser enfrentada com diagnóstico e remédio precisos para doenças que, de fato, existem no momento, e não com o remédio de preferência de cada um.
O grande desafio do Brasil é o aumento da produtividade num mundo ultracompetitivo, onde países estimulam exportações e restringem importações. Esse é o canal de transmissão da crise hoje e no qual devemos concentrar esforços.
HENRIQUE MEIRELLES escreve aos domingos nesta coluna.
FONTE: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/henriquemeirelles/1190802-diagnosticar-e-medicar.shtml
Artigo interessante, as pessoas costumam se valer do crédito pra adquirir bens de alto valor, comprometendo-se por anos sem que haja uma garantia de que essa pessoa poderá sanar essa dívida. Nessas horas eu fico pensando se realmente a gente conseguiu se livrar da crise de 2008-2009 ou se isso é só conversa pras pessoas consumirem mais. Essas ofertas de crédito no mercado são uma faca de dois gumes, pois ao mesmo tempo que as pessoas conseguem comprar o que desejam, elas perdem o controle sobre suas aquisições aumentando suas dívidas de forma alarmante.
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