O anúncio foi feito no mesmo dia em que o IBGE
divulgou a inflação de fevereiro 0,2% acima da meta. Com a medida o
governo federal abre mão de de R$ 7,3 bilhões em impostos por ano.
“A partir de agora, todos os produtos da cesta básica estarão livres
do pagamento de impostos federais”. A declaração foi dada pela
presidente Dilma Rousseff na noite de ontem, durante pronunciamento em
rede nacional de rádio e televisão, por ocasião do Dia da Mulher. A
redução foi de 9,25% para carnes e itens da cesta básica, além de 12,25%
para sabonetes e pastas de dente. Com a medida, o governo zera a
incidência de PIS/Pasep-Cofins e de IPI de 16 itens. E abrirá mão de R$
7,3 bilhões em impostos ao ano. Sendo R$ 5,5 bilhões já em 2013.
O
anúncio foi feito no mesmo dia em que o IBGE divulgou a inflação de
fevereiro 0,2 ponto percentual acima da meta do Governo, além de um dia
após o Dieese informar que o preço da cesta básica subiu em 15 das 18
capitais pesquisadas.
“No momento em que a inflação afeta a
cesta básica, ela afeta muito a população de baixa renda. E o Governo
tem tido uma preocupação muito grande para que a inflação não atinja as
camadas mais baixas”, diz Sérgio Melo, presidente nacional do Instituto
Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef). Apesar de elogiar a medida,
ele a considera bastante modesta, já que o governo arrecada cerca de R$
1,5 trilhão por ano. Para ele, seria mais significativo se houvesse
desoneração para os bens de produção (máquinas e equipamentos). “Aí nós
teríamos produtos mais baratos”, ele diz.
Supermercados
Severino
Neto, presidente da Associação Cearense de Supermercados (Acesu), diz
que em breve a diminuição do preço desses produtos chegará às
prateleiras, mas que não dá para prever quando, em virtude da seca que
atinge o Estado. “A seca acabou diminuindo a produção e aumentando os
preços. Mas em breve teremos boas notícias”.
Durante seu
pronunciamento, Dilma Rousseff prometeu ainda instalar em cada Estado um
“moderno” centro de atendimento integral à mulher, sem definir data.
Fonte: http://www.opovo.com.br/app/opovo/radar/2013/03/09/noticiasjornalradar,3019515/ilma-anuncia-reducao-de-9-25-nos-itens-da-cesta-basica-e-carnes.shtml
sábado, 9 de março de 2013
O jogo de interesses dos conservadores com o Obamacare
Paul Krugman
Professor de Princeton e colunista do New York Times desde 1999, Krugman venceu o prêmio Nobel de economia em 2008Americanos comemoram decisão da Suprema Corte dos EUA que, em junho, decidiu manter o programa Affordable Care Act (ou Obamacare), a ampla reforma da saúde promovida pelo presidente Barack Obama |
Os conservadores gostam de dizer que a posição política deles está totalmente vinculada à liberdade econômica e que, por isso, eles querem fazer com que o papel do governo, em geral, e os gastos do governo, em particular, sejam os menores possíveis. E não há dúvida de que existem conservadores que realmente têm uma visão idealista como essa.
Mas, quando se trata dos conservadores com poder real, há uma visão alternativa e mais cínica para as suas motivações --ou seja, a visão segundo a qual tudo está relacionado a confortar os confortáveis e afligir os aflitos, de dar mais para aqueles que já tem muito. E, se você quiser fortes evidências em favor dessa visão cínica, olhe para o atual estado do Medicaid.
Alguns antecedentes: o Medicaid, que oferece seguros de saúde para os norte-americanos de baixa renda, é um programa muito bem-sucedido e que está prestes a crescer, pois sua expansão é uma peça-chave da Affordable Care Act (Lei da Assistência Acessível), também conhecida como Obamacare.
Há, no entanto, uma pegadinha aí. A decisão da Suprema Corte de defender o Obamacare no ano passado também abriu uma brecha para que os Estados sejam capazes de rejeitar a expansão Medicaid se assim desejarem. E muitos governadores republicanos têm proferido palavras duras ao dizerem que se manterão firmes contra a noção terrível e tirânica de ajudar as pessoas que não têm seguro de saúde.
Mas, no final das contas, a maioria dos Estados provavelmente aceitará a expansão do Medicaid por causa dos grandes incentivos financeiros: o governo federal vai pagar o custo total da expansão durante os primeiros três anos, e os gastos adicionais beneficiarão hospitais, médicos e pacientes. Ainda assim, alguns dos Estados que têm permitido a contragosto que o governo federal ajude seus cidadãos mais necessitados estão colocando uma condição para a liberação dessa ajuda, pois insistem que ela deve ser administrada por empresas privadas de seguros. E isso diz muito sobre o que os políticos conservadores realmente querem.
Considere o caso da Flórida, cujo governador, Rick Scott, fez sua fortuna pessoal no setor de saúde. E, por falar nisso, a empresa de Scott se declarou culpada de acusações criminais e pagou US$ 1,7 bilhão em multas relacionadas a fraudes contra o Medicare. De qualquer forma, Scott foi eleito como um feroz opositor do Obamacare, e a Flórida participou da ação judicial para solicitar que a Suprema Corte declarasse inconstitucional o projeto como um todo. No entanto, Scott chocou recentemente os ativistas do Tea Party ao anunciar seu apoio à expansão do Medicaid.
Mas o apoio de Scott estava vinculado a uma condição: ele estava disposto a fornecer cobertura a um número maior das pessoas que não têm plano de saúde apenas depois de receber uma isenção que permitiria que ele administrasse o Medicaid por meio de empresas privadas de seguros. Mas por que Scott iria querer fazer isso?
Nem me fale sobre o livre mercado. Essa postura está totalmente relacionada com gastar o dinheiro dos contribuintes, e a questão é saber se esse dinheiro deve ser gasto diretamente para ajudar as pessoas ou se ele deve ser destinado a um grupo de intermediários privados.
E apesar de algumas frágeis alegações em contrário, a privatização do Medicaid vai acabar exigindo um aumento --e não a diminuição-- dos gastos do governo, pois há provas contundentes de que o Medicaid é muito mais barato do que os seguros particulares. Em parte, isso tem a ver com custos administrativos menores, pois o Medicaid não faz propaganda nem gasta dinheiro tentando evitar estender sua cobertura a determinadas pessoas. Mas grande parte dessa situação reflete o poder de barganha do governo e sua capacidade de impedir a manipulação de preços por parte dos hospitais, das empresas farmacêuticas e de outras partes do setor de assistência médica.
Há muita manipulação de preços na área de assistência médica --fato conhecido há muito tempo pelos economistas que trabalham com a área da saúde, mas que foi documentado de maneira especialmente explícita em uma recente reportagem publicada pela revista Time. Como afirma Steven Brill, autor da reportagem, os indivíduos que tentam obter um plano de saúde podem ter que arcar com custos altíssimos-- e até mesmo as grandes empresas privadas de planos de saúde têm uma capacidade limitada de controlar os abusos por parte dos provedores de serviços dessa área. O Medicare se sai muito melhor nesse quesito e, embora Brill não diga isso, o Medicaid --que tem uma capacidade maior de dizer não-- parece se sair ainda melhor.
Nesse caso, você pode estar se perguntando: por que grande parte do Obamacare será administrada por seguradoras privadas? A resposta é: devido ao poder político em estado bruto. Permitir que o setor de assistência médica continuasse cobrando tarifas extorsivas livremente foi, na realidade, o preço que o presidente Barack Obama teve que pagar para conseguir que sua reforma do sistema de saúde fosse aprovada. E, como a recompensa seria o fato de que dezenas de milhões de norte-americanos passariam a ter um plano de saúde, esse era um preço que valia a pena pagar.
Mas por que deveríamos insistir em privatizar um programa de assistência médica que já é público e que faz um trabalho muito melhor do que o setor privado em controlar seus custos? A resposta é bastante óbvia: o outro lado da questão do aumento dos custos para os contribuintes é o aumento dos lucros do setor de assistência médica.
Por isso, ignore toda a conversa sobre o excesso de gastos do governo e o excesso de ajuda financeira fornecida a parasitas que não a merecem. Enquanto os gastos continuarem enchendo os bolsos certos e os beneficiários indignos da generosidade pública forem corporações com conexões políticas, os conservadores com poder real aparentemente continuarão gostando do "Governo Grande".
Fonte: http://noticias.uol.com.br/blogs-e-colunas/coluna/paul-krugman/2013/03/06/o-jogo-de-interesses-dos-conservadores-com-o-obamacare.htm
Tradutor: Cláudia Gonçalves
terça-feira, 5 de março de 2013
Crescimento do PIB do Ceará em 2012 supera quatro vezes o resultado da média nacional
Estado registrou um aumento de 3,65%
O Produto Interno Bruto (PIB) do Ceará, superou quatro vezes o resultado da média nacional em 2012, registrando um crescimento de 3,65%. Com o resultado, a economia do Estado somou um montante de R$ 94 bilhões no ano passado.
Dados foram divulgados pelo Ipece na reunião do Mapp Foto: Governo do Estado |
A média nacional apresentou uma expansão de 0,9% em 2012. Conforme o Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), o crescimento cearense é puxado pelos setores de serviços e indústria, com destaque para a expansão do setores de construção, eletricidade, gás e água.
A indústria cearense cresceu 2,63%, enquanto a indústria nacional registrou queda de 0,8%. O setor de construção cresceu 4,72% e o setor de eletricidade, gás e água teve um acréscimo de 8,79%. Já a indústria da extração mineral caiu 4,42% no Ceará e indústria de transformação diminuiu 1,5%.
O setor de serviços continua sustentando a economia cearense e o resultado positivo do PIB. Em 2012, o setor registrou um aumento de 5,8%.
O comércio no Estado cresceu 7,95%, enquanto o setor de aluguéis cresceu 5,94%. A intermediação financeira aumentou 4,38%. Os valores referentes ao turismo são mensurados no desempenho do setor de alojamento e alimentação, que registrou alta de 6,65% em 2012 e no setor de transportes, cujo aumento ficou em 7,99%.
O Estado também atribui aos investimentos públicos e privados a projeção positiva do PIB cearense. O governador Cid Gomes disse acreditar que o PIB de 2013 supere o de 2012.
Agropecuária apresenta queda
A agropecuária registrou resultados negativos no ano passado. O setor apresentou uma queda de 20,1%. No Brasil, também foi registrada queda, porém de apenas 2,3%. Nos quatro trimestres de 2012 houve queda na agropecuária cearense. No primeiro trimestre, a queda foi de 9,8%, no segundo semestre, foi de 44,6%, no terceiro semestre, 19,3% e no quarto semestre, caiu 8,56%.
"Nós vivemos em 2012, a pior seca, relativa à índices pluviométricos, dos ultimos 40 anos. Isso, por si só, justifica boa parte da nossa recua", afirmou Cid Gomes.
O crescimento acumulado do PIB no Ceará nos últimos cinco anos ficou em 31,4%. No Brasil, o crescimento atingiu 23,6%. O acumulado de arrecadação no ICMS nos últimos cinco anos aumentou em 105,3% no Ceará, enquanto o Indíce de Preços ao Consumidor aumentou 37,7% no mesmo período.
Os dados foram divulgados pelo diretor-geral do Ipece, Flávio Ataliba com a presença do governador Cid Gomes, na tarde desta terça-feira (5), na reunião do Monitoramento Ações e Programas Prioritários (Mapp).
Cid repercute sociedade 'simbólica' com Premium II
Durante a entrevista coletiva, após a apresentação, o governador repercutiu a declaração de que ele desejaria uma "sociedade simbólica" entre Estado e a refinaria Premium II.
"Quando eu sondei isso, minha ideia foi muito mais no sentido de uma participação acionária simbólica que conferisse legitimidade, no sentido de que a gente possa negociar com outros parceiros (além da Petrobras). Ele explicou que se o Estado tiver oportunidade de ter uma participação acionária, mesmo que com investimento "simbólico", haveria a possibilidade de negociar "24 horas sobre esse tema" com a Petrobras. "Será o investimento do século XXI", acrescentou Cid sobre a aplicação de R$ 22 bilhões no empreendimento.
fonte: http://diariodonordeste.globo.com/noticia.asp?codigo=355147
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Desigualdade diminui no Brasil e sobe nos outros Brics
01/03/2013
Por Tainara Machado
A desigualdade de renda no Brasil, embora ainda bastante elevada para padrões internacionais, atingiu em 2011 o menor patamar desde a década de 60, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) compilados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
O movimento observado no Brasil ocorreu na contramão da tendência mundial, já que em dois terços dos países houve aumento da desigualdade no período recente, segundo a Unesco. Locomotivas do crescimento global na última década, a Índia e a China, por exemplo, não conseguiram avançar com distribuição de renda, embora tenham reduzido os níveis de pobreza.
No Brasil, o coeficiente de Gini, indicador que é referência na medição da distribuição de renda, alcançou em 1990 o pico para os últimos 50 anos, quando marcou 0,607 pontos, de acordo com levantamento feito pelo Ipea. Desde então, o índice traçou uma curva decrescente e caiu para 0,527 em 2011, patamar semelhante ao observado no início da década de 60, quando esse acompanhamento começou a ser feito no país.
A redução foi significativa no período. Economistas costumam ressaltar que, no caso do índice de Gini, a segunda casa decimal tem destacada importância, porque a escala varia apenas de zero a um, sendo que coeficiente um significaria que apenas um único indivíduo concentra toda a renda da sociedade. Em zero, todas as pessoas teriam a mesma renda.
Segundo comunicado do Ipea intitulado "A Década Inclusiva", a renda do trabalho foi essencial para a forte - e inédita -- redução de desigualdade no Brasil nos últimos dez anos, responsável por cerca de dois terços da queda de pouco mais de 10% do coeficiente de Gini no período. Ao mesmo tempo, ressalta o instituto, sem as políticas de redistribuição de renda patrocinadas pelo Estado brasileiro desde o início dos anos 2000, a desigualdade teria caído 36% a menos na década passada.
Marcelo Neri, presidente do Ipea, afirma que alguns países onde há aumento da concentração de riqueza, como é o caso da China, já mostraram interesse em programas brasileiros, como o Bolsa Família. Lá, assim como no Brasil das décadas de 60 e 70, houve redução da pobreza, mas a renda ficou mais concentrada.
Isso ocorreu, segundo dados compilados pelo Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV), porque embora o crescimento da renda da parte mais pobre da população tenha sido forte nos emergentes, os mais ricos tiveram salto ainda maior.
No Brasil, foi o contrário. Nos últimos dez anos, os salários dos 20% mais pobres cresceram 6,3% ao ano, atrás apenas da China entre os países que compõem os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Já o rendimento do quinto mais rico da sociedade avançou apenas 1,7% ao ano no país neste período. Na China, a alta foi de 15%. "No meio do milagre econômico chinês, há um certo purgatório social", afirma Neri.
João Pedro Azevedo, economista-sênior da Unidade de Pobreza, Gênero e Equidade do Banco Mundial para a região da América Latina e Caribe, lembra que, apesar do aumento de concentração de riqueza, a pobreza na Ásia caiu drasticamente nos últimos anos, resultado do expressivo crescimento desses países no período.
Para Neri, no entanto, é possível que o avanço forte da economia e do setor manufatureiro chineses na última década tenha levado a aumento expressivo da demanda por pessoas mais qualificadas, o que puxou a alta dos rendimentos no topo da escala social. No Brasil, esse processo ocorreu principalmente durante o "milagre econômico" da década de 70, que elevou as disparidades internas de renda, processo que só começou a ser revertido nos últimos dez anos.
É por isso, diz Neri, que "o Brasil não tem sido o país do futuro, e sim do passado". Ou seja, a inclusão de uma parcela expressiva da população ao mercado de trabalho formal, associada à política de valorização do salário mínimo, está corrigindo distorções criadas em décadas anteriores, e não levando o desenvolvimento brasileiro a um novo patamar.
O aumento do nível de emprego formal e do rendimento real, em sua avaliação, tornam esse movimento mais sustentável no longo prazo. De acordo com dados disponíveis até agosto, o Ipea calcula que o coeficiente de Gini caiu mais 1,6% em 2012, em função tanto do aumento da renda quanto da população ocupada.
Além disso, Ana Maria Barufi, economista do departamento de análise e pesquisa econômica do Bradesco, lembra que os setores que demandam mão de obra menos qualificada, como construção civil e serviços, foram os que mais cresceram e abriram postos de trabalho no período.
Segundo dados da Pnad elaborados pelo Bradesco, o rendimento médio do trabalho das pessoas sem instrução aumentou 74% entre 2004 e 2011. Nesse período, os salários dos indivíduos com ensino médio incompleto cresceram 21,6% e, no caso da população com superior completo, o avanço foi de 2,1%.
Ana Maria afirma que, embora venha caindo, ainda existe um diferencial significativo de salários em função do grau de escolaridade. Os anos de estudo estão aumentando, afirma, e a expectativa é que se avance também na qualidade da educação, o que tornará a população mais produtiva, com salários mais elevados.
É por isso, diz, que mesmo com taxa de desemprego em níveis historicamente baixos, o que pode ter alguma consequência negativa para o potencial de crescimento, a desigualdade deve continuar a cair nos próximos anos.
Para Azevedo, do Banco Mundial, a demografia pode colocar um risco para a continuidade do processo de avanços na distribuição de renda nos últimos anos, principalmente se ações destinadas a elevar a produtividade do trabalhador, como melhora do nível educacional, continuarem estagnadas.
O país, afirma o economista, tem hoje taxa de dependência (proporção de adultos em idade ativa em relação a crianças e idosos) mais baixa, mas o envelhecimento da população, como já mostrou a experiência europeia, aprofunda desigualdades. "A taxa de fertilidade já é inferior à de reprodução, e isso pode ter consequências para o processo de redução da pobreza e desigualdade."
Azevedo ressalta também que, apesar do salto dado pelo Brasil e pela América Latina como um todo, a região continua a ser de grandes contrastes econômicos. "O país mais igualitário da América Latina ainda tem índices piores do que o mais desigual na Europa", afirma.
Por Tainara Machado
A desigualdade de renda no Brasil, embora ainda bastante elevada para padrões internacionais, atingiu em 2011 o menor patamar desde a década de 60, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) compilados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
O movimento observado no Brasil ocorreu na contramão da tendência mundial, já que em dois terços dos países houve aumento da desigualdade no período recente, segundo a Unesco. Locomotivas do crescimento global na última década, a Índia e a China, por exemplo, não conseguiram avançar com distribuição de renda, embora tenham reduzido os níveis de pobreza.
No Brasil, o coeficiente de Gini, indicador que é referência na medição da distribuição de renda, alcançou em 1990 o pico para os últimos 50 anos, quando marcou 0,607 pontos, de acordo com levantamento feito pelo Ipea. Desde então, o índice traçou uma curva decrescente e caiu para 0,527 em 2011, patamar semelhante ao observado no início da década de 60, quando esse acompanhamento começou a ser feito no país.
A redução foi significativa no período. Economistas costumam ressaltar que, no caso do índice de Gini, a segunda casa decimal tem destacada importância, porque a escala varia apenas de zero a um, sendo que coeficiente um significaria que apenas um único indivíduo concentra toda a renda da sociedade. Em zero, todas as pessoas teriam a mesma renda.
Segundo comunicado do Ipea intitulado "A Década Inclusiva", a renda do trabalho foi essencial para a forte - e inédita -- redução de desigualdade no Brasil nos últimos dez anos, responsável por cerca de dois terços da queda de pouco mais de 10% do coeficiente de Gini no período. Ao mesmo tempo, ressalta o instituto, sem as políticas de redistribuição de renda patrocinadas pelo Estado brasileiro desde o início dos anos 2000, a desigualdade teria caído 36% a menos na década passada.
Marcelo Neri, presidente do Ipea, afirma que alguns países onde há aumento da concentração de riqueza, como é o caso da China, já mostraram interesse em programas brasileiros, como o Bolsa Família. Lá, assim como no Brasil das décadas de 60 e 70, houve redução da pobreza, mas a renda ficou mais concentrada.
Isso ocorreu, segundo dados compilados pelo Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV), porque embora o crescimento da renda da parte mais pobre da população tenha sido forte nos emergentes, os mais ricos tiveram salto ainda maior.
No Brasil, foi o contrário. Nos últimos dez anos, os salários dos 20% mais pobres cresceram 6,3% ao ano, atrás apenas da China entre os países que compõem os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Já o rendimento do quinto mais rico da sociedade avançou apenas 1,7% ao ano no país neste período. Na China, a alta foi de 15%. "No meio do milagre econômico chinês, há um certo purgatório social", afirma Neri.
João Pedro Azevedo, economista-sênior da Unidade de Pobreza, Gênero e Equidade do Banco Mundial para a região da América Latina e Caribe, lembra que, apesar do aumento de concentração de riqueza, a pobreza na Ásia caiu drasticamente nos últimos anos, resultado do expressivo crescimento desses países no período.
Para Neri, no entanto, é possível que o avanço forte da economia e do setor manufatureiro chineses na última década tenha levado a aumento expressivo da demanda por pessoas mais qualificadas, o que puxou a alta dos rendimentos no topo da escala social. No Brasil, esse processo ocorreu principalmente durante o "milagre econômico" da década de 70, que elevou as disparidades internas de renda, processo que só começou a ser revertido nos últimos dez anos.
É por isso, diz Neri, que "o Brasil não tem sido o país do futuro, e sim do passado". Ou seja, a inclusão de uma parcela expressiva da população ao mercado de trabalho formal, associada à política de valorização do salário mínimo, está corrigindo distorções criadas em décadas anteriores, e não levando o desenvolvimento brasileiro a um novo patamar.
O aumento do nível de emprego formal e do rendimento real, em sua avaliação, tornam esse movimento mais sustentável no longo prazo. De acordo com dados disponíveis até agosto, o Ipea calcula que o coeficiente de Gini caiu mais 1,6% em 2012, em função tanto do aumento da renda quanto da população ocupada.
Além disso, Ana Maria Barufi, economista do departamento de análise e pesquisa econômica do Bradesco, lembra que os setores que demandam mão de obra menos qualificada, como construção civil e serviços, foram os que mais cresceram e abriram postos de trabalho no período.
Segundo dados da Pnad elaborados pelo Bradesco, o rendimento médio do trabalho das pessoas sem instrução aumentou 74% entre 2004 e 2011. Nesse período, os salários dos indivíduos com ensino médio incompleto cresceram 21,6% e, no caso da população com superior completo, o avanço foi de 2,1%.
Ana Maria afirma que, embora venha caindo, ainda existe um diferencial significativo de salários em função do grau de escolaridade. Os anos de estudo estão aumentando, afirma, e a expectativa é que se avance também na qualidade da educação, o que tornará a população mais produtiva, com salários mais elevados.
É por isso, diz, que mesmo com taxa de desemprego em níveis historicamente baixos, o que pode ter alguma consequência negativa para o potencial de crescimento, a desigualdade deve continuar a cair nos próximos anos.
Para Azevedo, do Banco Mundial, a demografia pode colocar um risco para a continuidade do processo de avanços na distribuição de renda nos últimos anos, principalmente se ações destinadas a elevar a produtividade do trabalhador, como melhora do nível educacional, continuarem estagnadas.
O país, afirma o economista, tem hoje taxa de dependência (proporção de adultos em idade ativa em relação a crianças e idosos) mais baixa, mas o envelhecimento da população, como já mostrou a experiência europeia, aprofunda desigualdades. "A taxa de fertilidade já é inferior à de reprodução, e isso pode ter consequências para o processo de redução da pobreza e desigualdade."
Azevedo ressalta também que, apesar do salto dado pelo Brasil e pela América Latina como um todo, a região continua a ser de grandes contrastes econômicos. "O país mais igualitário da América Latina ainda tem índices piores do que o mais desigual na Europa", afirma.
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