sábado, 19 de novembro de 2011

Consumo para combater a crise


Governo Dilma repete Lula e, contra crise global, aposta no consumo



Banco Central volta atrás em medidas que limitaram empréstimo a pessoas físicas. Com esfriamento do PIB induzido pelo governo somado à crise global, país corria risco de estagnação em 2012, diz economista. No 'mercado', já se prevê que BC terá de reforçar queda do juro. Para seguir cortando, BC pede a senador que desista de impor meta de crescimento à instituição.
Data: 14/11/2011
BRASÍLIA – Com o país crescendo num ritmo que não se via desde 1986, o governo decidiu, em dezembro do ano passado, tomar providências para conter o consumo das pessoas. A intenção era esfriar a economia e conseguir controlar a inflação sem ter de exagerar na dose do remédio tradicional, o juro do Banco Central (BC), algo que afetaria os investimentos das empresas. 

O agravamento da crise global ao longo de 2011, sobretudo nos últimos meses, funcionou, porém, como freio adicional da economia, segurando-a acima do planejado. As empresas estão assustadas e começam a repensar planos por causa de um cenário externo sem mudança à vista. Sem consumo e investimentos, como o país cresceria?

Diante disso, o governo resolve apostar de novo no consumo popular como motor da atividade econômica, voltando atrás em algumas das providências tomadas há onze meses, como a gestão Lula fizera em 2008. E pode ser obrigado a ir além, para evitar uma estagnação prenunciada por maus presságios vindos do exterior.

Nesta segunda-feira (14), o BC publicou circular que muda certas regras que bancos devem seguir, na hora de fazer empréstimos à clientela. As instituições vão precisar ter uma reserva contra calotes menor do que a exigida até agora. Na prática, poderão fazer mais contratos tendo o mesmo dinheiro. Devem aumentar empréstimos a pessoas físicas do tipo CDC e consignado (com base no contracheque) e para compra de carros, a taxas menores.

Nesta segunda-feira (14), o Banco do Brasil já anunciou a redução do juro para os clientes, em função das novas regras. Fez isso porque a decisão do BC foi conhecida na última sexta-feira (11), depois de uma reunião da diretoria do banco. 

Na véspera, a presidenta Dilma Rousseff e o ministro Guido Mantega (Fazenda) haviam mostrado como estão preocupados com a situação internacional, especialmente em função da piora na Europa. Para os dois, a crise será prolongada e vai afetar inclusive países emergentes, ainda que de forma menos acentuada. 

Dilma e Mantega tinham visto de perto o tamanho do abacaxi global, ao participarem na França, no início de novembro, da reunião do G20, o grupo de economias mais desenvolvidas do mundo. Hoje, acredita-se que o ano de 2012 também já possa ser considerado perdido para a União Européia, com estagnação à vista ou mesmo uma recessão.

Para o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcio Pochmann, por causa da combinação de “medidas duras para desacelerar o crescimento interno” e “crise internacional”, o governo precisar mesmo agir. "Se o governo não toma medidas necessárias, nós poderíamos correr o risco de ter um PIB crescendo 2%, 3% este ano e talvez de uma estagnação no ano que vem", afirmou. 

Uma dessas medidas poderia ser o reforço da redução da taxa de juros do Banco Central, algo também defendido, por exemplo, pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). 

Na última quinta-feira (10), Dilma contornou o assunto, ao ser questionada numa rápida entrevista coletiva. “Nessa questão dos juros, quanto menos se falar, melhor. Porque essa é uma questão afeta ao Banco Central (…) Quem responde sobre juros no meu governo é o ministro do Banco Central”, disse.

Naquele mesmo dia, o “ministro” - ou presidente – do BC, Alexandre Tombini, recebera o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), autor de projeto que acrescenta às atribuições legais do banco a busca por crescimento e geração de emprego. O senador queria saber a opinião de Tombini sobre a proposta, aprovada na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) e pronta para ser apreciada em plenário.

Segundo relato de Lindbergh, Tombini teria dito que o juro seguirá caindo, algo que o BC sugere em documentos públicos. Mas que, para isso, seria melhor não votar o projeto. “Acho”, teria dito o banqueiro, “que [o projeto] está criando ruídos no mercado financeiro em relação às expectativas. E a gente está querendo é tranquilizar o mercado financeiro, para continuar baixando a taxa de juros”.

Para o BC, as “expectativas do mercado” têm poder de interferir na realidade, ao influenciar decisões, por exemplo, sobre preços cobrados pelas empresas ou reivindicação salarial dos trabalhadores. A principal expectativa que o BC precisa observar é sobre inflação, cujo controle é sua única missão legal, ao lado da vigilância do sistema financeiro.

Nesta segunda-feira (14), na pesquisa semanal que faz com o “mercado”, o BC constatou que, pela primeira vez em dois meses, o setor prevê para este ano uma inflação (6,48%) abaixo do limite máximo autoimposto pelo governo (6,5%). Para 2012, a projeção (5,56%) caiu pela quarta vez seguida, embora ainda esteja acima do alvo (4,5%) do BC.

Para alguns segmentos do “mercado”, já está claro que o BC será obrigado a cortar mais a taxa de juros. “Ganha convicção no mercado de que o BC deverá impor cortes mais expressivos na SELIC, já neste ano e no próximo ano, e que os efeitos da crise externa terão impactos no país que provocarão a contração das pressões inflacionárias”, disse a corretora de câmbio NGO, em boletim a clientes divulgado sexta (11).

A última reunião do BC este ano para calibrar o juros será no dia 30 de novembro.

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