sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Outro período fraco para EUA e Europa




          A Europa e os Estados Unidos podem esperar outro ano de crescimento fraco em 2013, graças ao fato de estarem conduzindo suas economias de acordo com uma teoria econômica que se mostrou equivocada há mais de 70 anos. Tanto a Europa como os Estados Unidos, a primeira mais que o segundo, são obcecados por políticas de austeridade fiscal, quando a moderna teoria econômica defende claramente o estímulo. O resultado será outro ano de crescimento quase zero para a Europa e uma taxa de crescimento para os EUA que na melhor das hipóteses será suficiente para impedir um aumento da taxa de desemprego.

No caso da Europa, as políticas da zona do euro estão sendo em grande parte determinadas pela Alemanha. O Banco Central Europeu (BCE) basicamente assumiu a posição de garantidor das dívidas dos países da periferia do euro, mas a condição de manter essa garantia é um aperto contínuo dos orçamentos, com mais impostos e menos gastos. Com os principais países do bloco também cortando seus orçamentos, não existe praticamente nenhuma perspectiva de uma retomada do crescimento para os países da zona do euro.

O BCE não é o único que está no caminho do crescimento da Europa. O Reino Unido também optou por mergulhar em uma recessão ao adotar uma política fiscal restritiva. Na melhor das hipóteses, conseguirá manter um crescimento mínimo em 2013.

Nos Estados Unidos, a história é parecida. A tendência é o PIB crescer aproximadamente 2,4% neste ano, segundo a maioria das estimativas. O país conseguirá, na melhor das hipóteses, sustentar esse crescimento em 2013, graças em parte a uma retomada do mercado imobiliário residencial. No entanto, há um risco de a situação se agravar por causa do atual impasse em relação ao orçamento. A necessidade de redução do déficit fiscal tornou-se o caso de um acordo bipartidário em Washington, apesar da necessidade óbvia de se incorrer em déficits para estimular a economia.

Embora a taxa de desemprego nos EUA tenha caído do pico de 10% registrado em outubro de 2009 para 7,7%, segundo os dados mais recentes, a taxa de empregos sobre a população não dá sinais de melhoria comparável. Ela está apenas 0,5 ponto porcentual acima do ponto mais baixo alcançado no terceiro trimestre de 2011, 4,7 pontos porcentuais abaixo do nível pré-recessão. Mesmo por medidas conservadoras, o PIB está mais de 6% abaixo de seu potencial. A economia não deverá recuperar muita coisa desse terreno em 2013 - se é que vai recuperar algo.

O mundo em desenvolvimento está com todas as melhores promessas econômicas para 2013, uma vez que os governos desses países parecem menos inclinados a adotar políticas econômicas antiquadas e a maioria deles agora tem liberdade para adotar suas próprias políticas.

O Reino Unido também optou 
por mergulhar em uma
recessão ao adotar uma 
política fiscal restritiva
 O leste da Ásia deverá continuar apresentando o maior crescimento. Os dados mais recentes vindos da China indicam que sua economia poderá voltar a acelerar, com o crescimento podendo ficar perto de 8% em 2013. O resto da região também deve apresentar um crescimento vigoroso, ainda que um pouco menor.

A Índia e outras economias do sul da Ásia terão taxas de crescimento respeitáveis, na casa dos 5% a 6%. As preocupações com a inflação e gargalos na produção estão impedindo a região de apresentar o mesmo crescimento que o leste da Ásia.

A maioria da África subsaariana também deverá ter um crescimento na casa dos 5%, graças aos altos preços das commodities e os investimentos estrangeiros, grande parte deles oriunda da China.
A maior parte da América Latina também terá em 2013 um ano um pouco melhor que 2012, com os países se afastando de políticas anti-inflacionárias. A maior exceção deverá ser o México. A fraqueza da economia dos EUA será um grande obstáculo para a economia mexicana em 2013.

Os caminhos divergentes dos países em desenvolvimento e das economias ricas é um acontecimento encorajador. Nas décadas anteriores, condições próximas da recessão na Europa, juntamente com o fraco crescimento dos EUA e do Japão, praticamente garantiam um crescimento fraco na maior parte do mundo em desenvolvimento. No entanto, o crescimento da China ao longo das últimas três décadas e o crescimento de muitos países latino-americanos na última década criaram um novo polo para o crescimento mundial. Como resultado, o crescimento do mundo em desenvolvimento deverá continuar em ritmo acelerado ao mesmo tempo em que políticas econômicas antiquadas levem as economias ricas à quase estagnação.

Ainda é muito cedo para afirmar com certeza, mas é provável que estejamos vendo uma mudança permanente na economia mundial, em que os países ricos não precisam mais sustentar o crescimento. O crescimento dos mercados emergentes provavelmente continuará sendo mais rápido com a influência de um crescimento vigoroso na Europa e nos EUA, mas no futuro, esses países deverão conseguir sustentar seu crescimento independentemente do desempenho econômico dos países ricos.

É difícil realçar a importância desse acontecimento. A maior parte do mundo em desenvolvimento foi forçada a suportar duas décadas de quase estagnação entre 1980 e 2000, em grande parte resultado de políticas econômicas impostas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Se os países ricos não conseguirem mais ditar políticas econômicas equivocadas para o mundo em desenvolvimento, então este estará livre para adotar políticas que resultem em um crescimento mais acelerado e mais igualitário.

É claro que não há garantias de que os países em desenvolvimento conseguirão sustentar um crescimento firme. Muitas vezes esses países adotaram suas próprias políticas equivocadas. No entanto, se eles não tiverem mais que enfrentar também as políticas equivocadas impostas pelos países ricos, isso será um passo enorme para o mundo em desenvolvimento.

Dean Barker
Co-diretor do Center for Economic and Policy Research, de Washington

email: baker@cepr.net
Fonte: http://www.valor.com.br/brasil/2945082/outro-periodo-fraco-para-eua-e-europa

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

PIB do Ceará deve crescer 4% em 2013 segundo Ipece

Ipece 09/01/2013

Estudo do Ipece projeta bons resultados para a economia cearense. Para 2013, o Produto Interno Bruto (PIB) será maior que o nacional e deve fechar em 4%. O otimismo tem a ver com perspectiva de bons investimentos públicos e privados

Castelão: obras estruturantes e Copa das Confederações são fatores de estímulo à economia cearense em 2013


O Produto Interno Bruto (PIB) do Ceará vai crescer mais do que o nacional. A estimativa do Instituto Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece) é de que a expansão das riquezas do Estado cheguem a um patamar de 4%, contra 3,3% da estimativa de crescimento nacional. Com isso, o Estado deve atingir R$ 103,8 bilhões, crescendo a renda per capita para R$ 11,9 mil, segundo os dados do Instituto.

O otimismo tem a ver com a expectativa do desenrolar de investimentos públicos e privados no Estado, o que viabilizam projetos estratégicos do desenvolvimento. Os resultados foram divulgados no Informe nº 50- “Perspectiva da Economia Cearense para 2013”, do Ipece.

Para 2013, os resultados dos empreendimentos públicos e privados a serem desenvolvidos, principalmente, em função de grandes eventos esportivos, vão impactar nas atividades econômicas, especialmente no setor de construção civil e serviços, mais especificamente o comércio e atividades turísticas.

A concorrência com produtos importados e as oscilações de câmbio vão dificultar a expansão em alguns segmentos. A Indústria é um deles, em especial a indústria de transformação, representada pelas atividades de Alimentos e Bebidas, Vestuário e Calçados, Têxtil, para citar os principais.

A convivência com problemas climáticos ainda não está ideal e a estiagem pode afetar a atividades econômica negativamente. A preocupação maior, nesse caso, é com a agropecuária.

Conforme informações do Ipece, o Governo planeja investimentos para amenizar a ausência de chuvas, como a transferência hídrica e suprimento de água, além de acumulação hídrica.

Retrospectiva
O estudo do Ipece apresenta ainda uma retrospectiva de 2012, ano para o qual a previsão é de que o PIB cearense feche em 3,5% segundo o Instituto – os dados devem ser divulgados ainda no primeiro trimestre deste ano. O volume de riqueza, conforme a projeção, deve chegar a R$ 94,6 bilhões, o que quer dizer R$ 10,9 mil per capita.

Nos últimos anos, a economia cearense tem demonstrado maior dinamismo do que a economia nacional. Conforme o documento, de 2004 a 2007 - período antes da crise -, a economia cearense cresceu a uma taxa média anual de 4,8% frente à 4,7% da economia brasileira.

No ápice da crise, em 2009, o Ceará apresentou o pior resultado no período de 2004 a 2012. Atingiu uma taxa de crescimento de 0,04%, mesmo assim, acima da média nacional, com queda de 0,3% em 2009 sobre 2008.

Para 2013, a expectativa é de que investimento públicos e privados impulsionem um Produto Interno Bruto cearense mais volumoso ainda.

Por quê

ENTENDA A NOTÍCIAO Ceará vem mantendo taxas de crescimento acima da média nacional. Para 2013, a expectativa é de que investimento públicos e privados impulsionem um Produto Interno Bruto cearense mais volumoso ainda

SERVIÇO

Acesse a íntegra do estudo
Onde: www.ipece.ce.gov.br

Fonte: http://www.opovo.com.br/app/opovo/economia/2013/01/09/noticiasjornaleconomia,2984804/pib-do-ceara-deve-crescer-4-em-2013-segundo-ipece.shtml

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Cresce debate no Fed para EUA adotarem meta de PIB

Internacional / Estados Unidos

Se a ideia vingar, na prática os Estados Unidos acabariam injetando muito mais dinheiro na economia, inundando o mundo com liquidez e desvalorizando ainda mais o dólar

Agência Estado 
 
Shutterstock 
 

          Ganha força o debate no âmbito do comitê federal de política monetária (Fomc, na sigla em inglês) do Federal Reserve (Fed) de se adotar uma meta para o Produto Interno Bruto (PIB) nominal, alterando o duplo mandato atual do banco central americano de promover o emprego pleno e de zelar por preços estáveis. Se a ideia vingar, na prática os Estados Unidos acabariam injetando muito mais dinheiro na economia, inundando o mundo com liquidez e desvalorizando ainda mais o dólar, para atingir um crescimento-alvo.

Com o risco crescente de a economia dos Estados Unidos resvalar novamente para uma recessão, num ambiente de inflação sob controle, é cada vez maior o debate entre acadêmicos e economistas dentro do Fed de que a adoção de uma meta para o valor nominal do PIB pode ter o efeito sobre a atividade econômica e o emprego que, até agora, a prática de juros próximos de zero não teve. A proposta, que teria de ser aprovada pelo Congresso americano para vigorar, não deverá entrar na pauta do Fomc, que definirá hoje a política monetária americana.

"Se a economia dos Estados Unidos parecer que está emperrando novamente no futuro próximo e os mercados desabarem, esse será um tema que estará mais explicitamente na pauta de discussões do Fomc", disse à Agência Estado o economista-chefe internacional do banco ING, Rob Carnell. "Alguns membros do Fomc já demonstraram simpatia pela ideia, embora não haja muito entusiasmo, neste momento, de perseguir uma proposta que exija um ato do Congresso para mudar o mandato do Fed."

A adoção de uma meta para o PIB nominal é uma má ideia, na opinião de Cornell, pois, essencialmente, isso representaria uma meta de inflação combinada com uma meta de PIB real. Essas duas metas juntas, na prática, resultariam numa meta de PIB nominal, disse o economista do ING. "O problema é que ao ter uma meta implícita, ou seja, não oficial de inflação há anos, o Fed acabou negligenciando o crescimento do crédito, que explodiu e levou à crise financeira", afirmou.

A noção por trás de tal meta é a de que se o crescimento econômico está baixo, fixa-se um alvo para o valor em dinheiro do PIB e não a variação da sua taxa de crescimento, o que talvez exija medidas mais drásticas de estímulo monetário do que apenas corte de juros, opção praticamente esgotada no momento. "Se uma meta de PIB nominal fosse adotada, então a única ferramenta disponível seria mais afrouxamento quantitativo, pois não restou mais nada", disse Cornell, que estima um crescimento de 1,3% do PIB americano em 2011 e de 1,8% em 2012.

Na opinião do economista-chefe para Estados Unidos do banco HSBC, Kevin Logan, alguns membros do Fomc já indicaram que uma meta de PIB nominal é uma medida que vale à pena perseguir, mas o comitê como um todo ainda não endossa tal ponto de vista. "Essa é uma discussão que pode crescer, pois as autoridades econômicas vêm tentando há algum tempo animar a economia e atingir uma taxa de crescimento maior sem sucesso", disse Logan à Agência Estado. Para ele, uma questão importante é como o Fed iria implementar uma meta de PIB nominal, pois não é possível a autoridade monetária ter controle sobre essa variável.

"O Fed pode ter controle apenas sobre o seu balanço patrimonial e sobre o taxa de juros", afirmou Logan. "Além disso, qual a ligação entre os instrumentos de taxas de juros do Fed e essa variável da meta de PIB nominal? E se esse link não for inteiramente claro, o Fed estaria entrando num território nunca antes trilhado, o que põe em questão a credibilidade de ele conseguir atingir tal objetivo", comentou.

Logan lembrou ainda que, levando em conta uma meta implícita de inflação ao redor de 2%, já indicada por Bernanke no passado, e se for aceita que há uma tendência histórica de taxa real do crescimento econômico ao redor de 2,5%, então o mercado teria de achar que o Fed persegue uma meta implícita de crescimento de PIB nominal de 4,5%. "Não acho que o Fed tenha tal meta", disse. "A recente recessão trouxe o PIB nominal para território negativo, mas não acredito que o Fed esteja tentando recuperar a perda recente do PIB nominal para uma meta implícita de 4,5%", explicou.

Na opinião do economista do banco Goldman Sachs em Nova York, Alberto Ramos, a flexibilidade recente adotada pelo BC brasileiro em abandonar o objetivo de atingir o centro da meta inflacionária este ano, para não prejudicar a atividade econômica, não significa que o BC está perseguindo agora uma meta específica de PIB. "O objetivo de produto e emprego não está na função 'objetivo' do BC, mas está na função 'reação', isto é, se a economia está registrando um crescimento fraco, e isso vai aliviar as pressões sobre a inflação, o que abre espaço para cortes de juros", afirmou Ramos.

Além disso, ressaltou o economista do Goldman Sachs, a meta de inflação no Brasil, de 4,5%, é bastante elevada, o que explica, em parte, as altas taxas de juros brasileiros. "O próprio sistema de metas permite à inflação acelerar para 6,5% e ainda permanecer no teto dessa meta, o que deixa espaço para o BC atuar preventivamente para lidar com o ambiente externo e cortar juros", diz Ramos.

Fonte:  http://epocanegocios.globo.com/Revista/Common/0,,ERT276813-16367,00.html

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Para onde vai o tripé?

Por Antonio Delfim Netto

          Para desespero dos que acreditam que a economia monetária é uma ciência da qual são únicos portadores, ela está cada vez mais de pernas para o ar. Diante das dificuldades de colocar em marcha normal as suas economias, os bancos centrais em diversas partes do globo começam a prevaricar. Namoram medidas estranhas. Perdem, a pouco e pouco, a vergonha de reconhecer que não sabem bem o que fazer. O regime "puro" de metas inflacionárias que só existe no mundo platônico dos livros textos, mas serve para recomendar políticas universais vai assumindo cada vez mais o que ele sempre foi: uma caricatura!

Nunca houve (nem poderia haver) um banco central que ignorasse o nível de atividade, o nível de emprego e os movimentos dos ativos financeiros, em particular a taxa de câmbio. Todos tiveram implícita ou explicitamente, muitos mandatos. Puderam ignorá-los no tempo da "grande moderação", porque "as coisas caminhavam bem". Sem entender o que se passava, a atribuíam às "virtudes de suas próprias políticas monetárias" e nós acreditávamos...

As últimas semanas revelam uma perspectiva de mudança na administração da política monetária pelo Federal Reserve dos EUA, do Bank of England, e do Banco Central do Japão, estimulada pela conferência monetária em Jackson Hole. Nela o economista Michael Woodford, considerado por alguns o mais sofisticado "economista monetário do mundo" insistiu que os bancos centrais têm de usar sua credibilidade sobre as expectativas inflacionárias quando a taxa de juro nominal está próxima de zero, e flertou com uma política de meta para o PIB nominal. Isso parece estar por trás da nova política do Fed que prometeu comprar "ad libitum", US$ 85 bilhões de papéis (de todas as naturezas) por mês, até que uma de duas coisas aconteça:
1º) a taxa de inflação supere 2,5%; ou
2º) a taxa de desemprego caia a 6,5%, o que tem sido chamado de regra (2,5; 6,5).

BCs namoram medidas estranhas, não sabem o que fazer

Obviamente a nova política causou alguma ansiedade, particularmente nos mercados financeiros. Esses logo concluíram que Bernanke estava abandonando o sacrossanto dogma de inflação à taxa de 2% ao ano. Quem quiser mais informações deve ler a interessante palestra de Charles Evans, "Monetary Policy in Challenging Times", feita em Toronto no dia 27 de novembro. Bernanke afirmou que a mudança não significa que a política monetária foi transferida para o piloto-automático: foi programada para dar aos mercados e ao público em geral a informação de como o Fed está pensando e dar-lhes a oportunidade de ajustarem as suas expectativas.

É importante notar que Bernanke foi muito claro. O Fed, mesmo com as novas políticas, não tem condições de sustentar um razoável crescimento do PIB e do emprego, se o Congresso americano não chegar a um acordo capaz de superar o "abismo fiscal" implícito no vencimento das políticas pontuais tomadas no governo Bush. Isso impõe séria responsabilidade ao Partido Republicano que até agora se diverte com Obama caminhando na beira do tal abismo.

Mas as novidades não terminam por aí. O futuro presidente do Bank of England, o canadense Mark Carney, escolhido numa seleção pública universal, acaba de pregar um susto no primeiro ministro Cameron. Carney vai assumir o lugar em 1º de julho de 2013 em substituição a Mervyn King, quando deixará a presidência do Banco Central do Canadá. Nos seus recentes discursos tem revelado suas preocupações com o regime de metas inflacionárias e dito que é preciso pensar em "políticas monetárias não convencionais", o que está longe do pensamento de King. Ele também parece estar namorando uma política de metas para o PIB nominal. Cameron apressou-se a esclarecer que na Inglaterra qualquer mudança de política monetária (mesmo as de caráter estritamente técnica como seria uma eventual substituição das metas inflacionárias para metas de PIB nominal), deve ser aprovada pelo Parlamento, o que mostra o limite político que restringe a "independência" para administrar a busca dos objetivos politicamente fixados.

O que há de importante na Inglaterra é uma fadiga com a política monetária conservadora e o esforço fiscal aos quais a economia tem respondido muito mal. Alistair Darling, um chanceler do governo trabalhista, explicitou o cansaço: "As metas inflacionárias faziam sentido há 20 anos quando a inflação era nosso principal problema, mas agora todas as nações do mundo estão preocupadas com o crescimento. Não defendo o abandono da política de metas, porque a inflação pode voltar qualquer dia. Mas no futuro previsível nossa prioridade é crescer." E completou para espanto geral: "Creio que Mark Carney explicitou que os bancos centrais de todo o mundo devem ter o crescimento como sua prioridade."

Mas as surpresas não terminam. Vencedor na campanha eleitoral pelo Partido Liberal japonês, o ex-primeiro ministro Shinzo Abe (líder do partido), tem demonstrado o maior desconforto com o conservadorismo do Banco Central (o CBJ) e tem sugerido um sistema de "metas inflacionárias", obviamente para aumentar a taxa de inflação, desvalorizar o iene e recuperar a indústria japonesa que foi transferida para o exterior, particularmente para a China.

O mundo está mudando! Mas até agora ninguém ousou dizer que ele está jogando fora o religioso tripé objeto de adoração dogmática de alguns dos nossos mais brilhantes sacerdotes.

Antonio Delfim Netto é professor emérito da FEA-USP, ex-ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento. Escreve às terças-feiras
E-mail: contatodelfimnetto@terra.com.br

Fonte: http://www.valor.com.br/brasil/2943832/para-onde-vai-o-tripe